segunda-feira, 11 de abril de 2022

PRIMAVERA TRISTE




Desejos de Primavera
renovados com saudade
já me parece quimera
se se trata de maldade


Pois se falamos de guerra
em tempos de maldição 
a harmonia emperra
ficamos todos sem chão...

         Humberto Maranduva

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A OBSESSÃO DO DIGITAL

 
 
 
 

“(...) as criança de hoje, habituadas que estão a crescer sozinhas, no seio da abundância material, da indiferença dos adultos, longe das normas e de um quadro equilibrado de valores morais e éticos, farão amanhã parte de um mundo onde prevalecerá o egoísmo mais fechado, o arbítrio mais indiscriminado, o capricho mais tenaz, a tirania mais intolerante, vindo os nossos netos a sofrer na carne o tratamento ditatorial e frio de quem nunca aprendeu, soube, ou foi capaz de amar” (M. B. Santos, 1994, in Notícias da Educação, n.º 7, p. 3).
 
 A criança de hoje pena numa “(...) sociedade que nos impõe, em tempo real, a omnipresença das TIC, às quais se ligam os indivíduos de forma viciante, dependente, ambígua, desprovida de lógica, de verdade e de emocionalidade, porque de virtualidade se trata. Fica, por um lado, diluída a territorialidade em nome da globalização, da mesma forma que vamos sendo invadidos por uma espécie de uniformização dos contextos, dos cultos, das crenças, dos ritos e das assunções, a caminho da solidão virtual, do isolamento, da formatação padronizada geradora do pensamento único, na vacuidade do tempo e do lugar; por outro lado, tal estado de coisas potencia a confusão mental ou mesmo a dissociação, disfuncionando o equilíbrio do self “ (M. B. Santos, 2015, in As Cores da Alma, Romance, p. 121).
 
 E tudo continua a ir de mal a pior: a obsessão do digital tem coarctado o crescimento emocional das crianças e dos jovens; tem impedido o desenvolvimento da vertente humana da mente; tem embrutecido o sujeito, impedindo-o de se relacionar empaticamente, por isso, tem aumentado o bullying e o ciberbullying. Sem competências emocionais devidamente trabalhadas, a criança não faz amizades e passa a agir de forma reptílica, profundamente primária; torna-se intolerante e agressiva, incapaz de avaliar e de decidir sobre a linguagem do fácies dos pares. Perante todos estes sinais de alarme – em 1994 já era tarde –, escutamos dos impreparados eleitos, a narrativa irracional da glorificação do digital... Sim, sim, nas escolas, a toda a brida! Pena é que não seja como parte integrante e útil de um conjunto alargado de actividades diversificadas, onde a necessária e mais importante componente lectiva da escrita com lápis ou esferográfica deva ser ensaiada no papel, com a mãozinha de cada um, a par da leitura feita em livros concretos e palpáveis, sem esquecer todo o tipo de experiências no campo do exercício físico e das áreas de expressão.
 
Imagem do Google

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A SETA DE CUPIDO

 

 


  1ª CELEBRAÇÃO DE S. VALENTIM 

  A SETA DE CUPIDO

 

  Tu és a brusca seta de Cupido

  fervorosa lembrança acutilante

efeito penetrante e desabrido

   personagem angélica de Dante


             Mesmo sem ser tu és tempo sofrido

  o tal impenetrável ser de Kant

 
numénica figura sem sentido

             imperatriz no peito sempre impante

 

              Foste estado nascente fora d`horas

a mais bela verdade do amor

                     mas hoje nem tu sabes por que choras


      na senda do devir sempre fugaz

  por ser pura loucura tanta dor

pundonor ou insensatez falaz

 

 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

O GUME DO SILÊNCIO


 


Por chamar à razão o dia-a-dia

 nas noites inaudíveis de tortura 

 perora vigilante sem-valia 

 o gume do segredo que perdura

 

 Em torno do discurso que filia 

os indeláveis traços de loucura 

 tons emergem p`ra negar alforria 

zombando de quem da dor se depura 

 

Por que velhos caminhos sufocantes

 por que duras veredas sem arrimo

 se repetem jornadas como dantes (?) 

 

 Como se de sol a sol não mudasse 

 esse lodoso tropismo de limo

 infecto na rotina de feirantes

 

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

VAMPIRISMO MEDIÁTICO

 


Há raios e coriscos na noitada

ninguém dorme no lar do rufião

a mulher os filhos e... a criada

que sabe como levar o patrão


Demonstração de poder e mais nada

não saber tolerar a frustração

ou será tudo conversa fiada

apenas na boca do fanfarrão


É tudo junto no dizer dos media

que contam com avidez excessiva

o deleite das cenas da perfídia


Escusados viés dos nossos dias

crueldade sem par e recidiva

dois lados a fomentar vilanias



Imagem do Google

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O "EROS" NA GRANDE TELA

    

 


     O documentário – “A história do sexo no cinema” –, devido à temática que aborda, poderia eventualmente chocar algumas das pessoas a quem se destina. O sexo é algo que faz girar o mundo e, portanto, tem de ser tratado não só com a naturalidade que o mesmo encerra, mas também com o cuidado e a seriedade de algo que pode ser susceptível de interpretações distorcidas ou erróneas. 

    Nesta “A Hístória do Sexo no Cinema”, o documentário tenta trilhar a senda evolutiva da temática vertente, no quadro da cinematografia deste género, ao longo dos tempos, utilizando o realizador uma éspecie de revisitação do passado, recorrendo a filmes mudos e fotografias de arquivo, sons característicos da época retratada, opiniões de críticos da especialidade, opiniões também de actores e de personalidades diversas, como é o caso notório de Hugh Hefner, o “pai” da Playboy. 

     Com o decorrer das décadas, ‘40, ’50, a abordagem do sexo no cinema continuou sendo tímida, mas eficaz e sempre presente -- veja-se a produção a preto e branco “Lolita”; “Who's Afraid of Virginia Wolf?”, entre outros. Já nos anos ’60 e ’70 a temática sexual assumiu contornos perfeitamente viáveis, cuja censura operada pelo famoso lápis azul pouco ou nada cortava, como aconteceu com os filmes “Guide for a married men” e “Midnight Cowboy”. 

     Ainda nos anos ’60, alguns filmes apresentavam cenas de esboço lésbico, absolutamente aceites pelo público, enquanto que a simples presença de um actor cujo desempenho envolvesse, por mais simples que fossem, gestos e requebros efeminados, constituía motivo para hilariantes gargalhadas. Importa aqui incluir, na mesma linha, o actual Nelo, personagem televisiva, nascido da criatividade de Hérman José. 

    Nos anos ’70, já depois do 25 de Abril, o sexo ousa mais – “O último tango em Paris” insinua práticas sexuais veladas, nunca anteriormente tentadas. No “Vale das bonecas II” assistímos ao desfile de leves orgias, apenas sugeridas, e à exibição de corpos femininos nus, a todo o ecrã, de visionamento meteórico, sem nunca, no entanto, ostentarem a zona púbica. Com tudo isto crescia a preocupação da igreja que acaba por tomar posição face à invasão sexual das salas de cinema, conseguindo travar a investida do sexo mas não o tendo dizimado. 

    Como quem não quer a coisa, o cinema foi impondo, de novo, as cenas de sexo, começando por abordagens ténues ou cómicas, sexo apenas sugerido ou esboçado, até que se decide classificar os filmes segundo as várias faixas étaria às quais se destinavam. 

    Na actualidade têm surgido filmes que tentam impor o sexo travestido de inocente ou de folgazão, em quadros quer idílicos, quer caricatos como são os casos, respectivamente, da “Lagoa Azul” e da série “American Pie”. Poder-se-ia acrescentar algo mais? Talvez! Mas, para quê? Quando se trata de sexo, pelo menos no cinema, é tudo sempre feito de forma rápida, residual e furtiva. Não quero que esta minha análise fuja do tom de documentário em si, nem tão pouco da abordagem particular da temática em análise, perspectivada pela cinematografia em geral. 

 26 de Agosto de 2019 

(Imagem do Google)

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE NO ÂMBITO EDUCACIONAL

 


 

[Por que desprezam os Governos a Educação, associada à importância da Saúde – (do Latim-, “salvação”)]...

 

     Nota Prévia: Artigo com 25 anos, devidamente actualizado em 2021, publicado na Revista “ENTRE TANTO”, órgão da Administração Regional de Saúde do Norte (Portugal), n.º 5, em Dezembro de 1996. 

 

            Quando equacionamos questões como a da Educação, se quisermos que a mesma sirva os objectivos para os quais se perspectiva, isto é, a formação equilibrada e integral das gerações futuras, torna-se fundamental manter presente que qualquer Sistema Educativo, nos paízes ditos civilizados, terá necessariamente de ser um exemplo vivo de excelência e aprumo.

            Estas qualidades terão de ser asseguradas, não só pelos diversos actores em presença, mas também pelo Ministério respectivo, em estreita relação de cooperação com outros Ministérios, como o da Saúde e o das Finanças, visando a harmoniosa acção educacional das (nas) sociedades em causa.

            Desta forma, os custos seriam contabilizados enquanto investimentos e não, como acontece em Portugal, onde a mentalidade redutora dos sucessivos governos tem encarado a Educação como um sector onde o dinheiro é, simples e grosseiramente, gasto.

            Recordemos tambem que o conceito de Comunidade Educativa só tem razão de ser se o mesmo for representado como algo dinâmico, ventilado, edificante, que interage simbioticamente através dos vários interlocutores que lhe dão corpo; estes são, evidentemente, os professores e os alunos (relação ensino/aprendizagem, de cariz primordial); os vários agentes de desempenho coadjuvante (com formação específica e competências devidas para apoiar a dinâmica do quotidiano das escolas); as equipas de Saúde, sobre as quais discerniremos mais à frente.

            Trata-se, portanto, de uma Comunidade bastante alargada, onde convivem todas as fases etárias e sexos; todos os níveis sociais; que utiliza espaços diversos; que corre riscos vários e que, como facilmente se depreende, não pode dispensar as mais elementares prestações da medicina pedagógica, das vacinações e dos cuidados de saúde primários.

            O DO(C)ENTE EM RISCO

            Decorria o ano de 1987, quando nos foi dado a redigir um artigo para a Revista “CARTILHA”, n.º 0 (zero), subordinado ao título: “Professor, Profissão de Alto Risco” (e acrescentamos nós agora – “Desgaste Rápido e Remuneração Simbólica”.

            O que na altura afirmámos sobre esta matéria, teve em conta a definição que a Organização Mundial da Saúde apresentou para o conceito “saúde” – do Latim, “salvação”. Quer dizer, esta não é apenas a ausência de doença, mas implica, sobremaneira, o bem-estar físico, psíquico e social (familiar, profissional e comunitário).

            Nesta medida, depois de tecida uma série de considerações sobre a realidade da vida docente e sobre a multiplicidade dos riscos que a mesma comporta, tivémos de reconhecer que, para além dos omnipresentes problemas profissionais, muma classe, à época, maioritariamente constituída por mulheres (78,5%), de quem a natureza e a sociedade mais exigem, acrescem atribuições de carácter maternal e doméstico... Sim, sim, ainda hoje é assim!!! Não é de espantar, portanto, que, na maioria dos casos, os professores se vejam obrigados, amiúde, a recorrer ao médico (clínico geral, especialista ou psiquiatra).

            Viríamos, então, a concluir o trabalho a que se alude, demonstrando que ser professor era (e continua a ser cada vez mais) estar exposto a um sem número de riscos e patologias que – dissémo-lo no momento –, “(...) deverão constar do próximo Estatuto Docente, como doenças profissionais devidamente tipificadas, merecendo das autoridades medidas concretas quanto ao tratamento e à cura, e bem ainda beneficiar das compensações necessárias, quando provoquem deformidades, incapacidades físicas, mentais ou de outra ordem”.

            Escusado será dizer que a nossa chamada de atenção caiu em saco roto... Hoje, prestes a ter início o ano lectivo de 2021/2022, as coisa vão de mal a pior! Diga-se, no entanto, em abono da verdade, terem sido consideradas “doenças incapacitantes”, para efeitos do N.º 1 do Artigo 48.º do Dec. Lei N.º 497/88 de 30 de Dezembro, um conjunto de 18 (dezoito) enfermidades, entre as quais a sarcoidose, os tumores malignos, as hemopatias graves, a hipertensão arterial maligna, as cardiomiopatias graves, a espondilite anquilosante, etc....

            Passados que foram largos meses, foi com surpresa e desolação que, ao analisarmos o Decreto-Lei N.º 139-A/90 de 28 de Abril, documento baptizado com a designação de Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, constatámos que as graves patologias, enfermidades e desequilíbrios induzidos pela prática docente tinham sido ignorados pelo legislador. Mas, já depois do regabofe-rosa, do pântano guterrista e dos jobs for the boys, tudo isto viria a piorar drasticamente, a partir de 2005, na vigência da dupla Sócrates/Lurdes Rodrigues: viriam a impor, em 2007, um estatuto docente humilhante que revogaria o anterior; depois, com Passos Coelho, e, depois ainda, com Costa, foi reiterada a destruição do prestígio social e a auto-estima dos professores. Estaremos à beira de embrutecer a população discente?!!! Fica no ar a questão.

            E que tal implementar a aplicação de um dispositivo legal de contemplação e atendimento do do(c)ente, a exemplo do que se verifica no caso da tuberculose e no género do que se observa no sector privado? Para que serve a ADSE tornada imposto?!...

            Impõe-se, desde já, um Estatuto voltado para o futuro, capaz de contemplar todos os aspectos já referidos para reabilitação da imagem social do professor, sem esquecer o Alto Risco e o Desgaste Rápido e as doenças que estas duas vertentes potenciam no dia-a-dia lectivo.

            A População Estudantil

            Dentre todos os actores da Comunidade Educativa, os alunos constituem o grupo mais numeroso e não menos importante. As crianças e os jovens escolarizados, conforme o ciclo que frequentam, enquadram-se em fases etárias distintas, a impor cuidados de saúde diversos. É de reter ainda, ter a massificação do ensino atirado para as escolas, também, as crianças dos sectores económico-sociais mais degradados, merecendo-nos estas a melhor das atenções, por razões óbvias.

            Nesta conformidade, e reportando-nos à experiência e/ou conhecimentos colhidos nas escolas das grandes cidades do nosso país, somos levados a propor a instalação, em todas elas, de três gabinetes, a saber: um de Educação Especial; outro de Serviço de Psicologia e Orientação Escolar; um terceiro de Medicina Pedagógica e Cuidados de Saúde Primários e Vacinação, claro, em instalações compartimentadas.

            Para trabalhar nos gabinetes referidos teria o Governo (as Tutelas respectivas, devidamente articuladas) de recrutar, respectivamente, professores especializados, psicólogos e assistentes sociais, pediatras, clínicos generalistas e enfermeiros.

            O Sistema Educativo apostaria, já hoje (escrevíamos em 1996), na saúde dos seus estudantes, mantendo sob controlo e tratamento as vacinações, as subnutrições, as inadaptações, as neuropatias, os atrasos mentais, etc., os entorses, os golpes, as fracturas, os hematomas, etc., etc..

            CONCLUSÃO

            Se se pretende fomentar, nas nossas escolas, um clima pedagogicamente equilibrado, vamos já agarrar a saúde com ambas as mãos, através das medidas aventadas ao longo do presente escrito. Reduzam-se as turmas para um número máximo de 12 (doze) alunos; assegure-se a estabilidade profissional dos professores contratados; qualifiquem-se os funcionários que designámos por “Agentes de Desempenho Coadjuvante”; construam-se escolas de acordo com as reais necessidades das comunidades que deveriam servir; atribuam-lhes autonomia financeira, pedagógica e administrativa; reduzam a carga horária e aumentem os períodos intercalares de interrupção lectiva; permitam a criação de um currículo na própria escola (“A Construção do Currículo na Escola”*), de forma a que se adeque a cada uma das realidades em presença.

            Vamos, enfim, dar um novo fôlego à Educação, também com o contributo indispensável da SAÚDE e dos seus profissionais, prevenindo a hecatombe educacional.

 

            *Em 1994 publicámos, em co-autoria com Luísa Alonso et al, o livro A Construção do Currículo na Escola (n.º 5 da Colecção Básica da Porto Editora). Porto.

 

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