Ouvimos
dizer, amiúde, que cada vez mais a humanidade se rege menos
por critérios ou impulsos assentes na religiosidade e nos
princípios morais; os conceitos de pecado, de ilicitude e de
culpabilidade vão-se esfumando, depois de Freud os ter
descoberto no âmbito oculto do Super
Ego
(inconsciente) e lhes ter apontado o dedo como sendo os causadores
das nevroses (neuroses, por vezes, potenciadoras também de
psicoses); ademais, a partir dos anos sessenta do século XX, a
revolução sexual (costumes), caracterizada pelo amor
livre, a pílula contraceptiva, o consumo indiscriminado de
drogas duras, a mini-saia, os “hot-pants” e o feminismo, viriam a
contribuir para a emancipação da mulher face aos
valores até então vigentes, mas, sobretudo, perante o
jugo do homem, leia-se, do “macho” todo poderoso - o patriarca.
Depois de Nietzsche (1844-1900) e da sua teoria dionisíaca, segunda a qual este filósofo apostava no gozo e na fruição dos prazeres da vida, e defendia a transmutação dos valores, criticando a moral cristã da renúncia e do ascetismo, segundo ele, alicerçadas apenas no ressentimento hipócrita de quem alberga em si a inconfessável inveja da riqueza e do poder, tornar-se-ia mais fácil a destruição da moral racional reconduzida aos costumes, de resto, como o fez Hegel.
Entre Hegel e Nietzsche, tinha vindo a terreno Marx afirmar não serem as ideias que governam o mundo, mas as condições económicas que explicam a história – materialimo dialéctico marxista que partiria da dialéctica hegeliana, limitando-se apenas a proceder à inversão das premissas. Estava preparado o caminho para que os mais dilacerantes extremismos e bárbaros destemperos pudessem medrar ao longo do atribulado século XX, sem que nada os fizesse deter.
Depois destas breves considerações introdutórias de cariz histórico-filosófico, importa que o enfoque da presente problemática seja dirigido para aspectos de teor psicológico... científico se quisermos. Nesta conformidade, convém reter que o indivíduo dirige e adapta o seu comportamento moral, em função dos dados colhidos pela consciência, quer a partir do exterior (meio social incluído) quer do interior de si próprio (pensamento). São os orgãos dos sentidos e todas as restantes funções sensitivas que fornecem toda a panóplia de sensações à sua consciência, tornando possível a posterior elaboração, construção e interpretação das mesmas.
Na prática, e utilizando uma linguagem acessível, o papel da consciência de cada um é o de proceder a uma clara discriminação geral de entre todas as impressões colhidas no exterior, bem como as inerentes ao próprio Ego, para além da cenestesia, ou seja, da sensibilidade comum do próprio corpo de cada um. Acrescente-se ainda que a consciência reúne, sintetiza e conhece tudo quanto assimila do mundo exterior e da própria interioridade física e mental, unificando e adaptando com clarividência o direccionamento da personalidade assim investida. A consciência funciona como uma espécie de luz, reguladora de automatismos que adapta e flexibiliza, permitindo que a personalidade aja sobre a realidade social ou ecológica, a partir, como disse, da leitura exterior e do psiquismo interior, consciente ou subconsciente.
No entanto, para que a consciência funcione plenamente, é necessário dispor de grande energia física e mental; ora, se a mesma esmorecer ou se apagar, a consciência tende a refugiar-se no interior da concha mais profunda do psiquismo individual, perdendo o contacto com a realidade, o que provoca uma reacção esquizofrénica, desagregadora da inteligência, e, embora a consciência não se encontre de todo extinta, o ser em causa pode mergulhar na alienação mental.
Mas, voltemos à consciência moral que é aquela que harmoniza o indivíduo e a sociedade, sempre que estamos em presença de criaturas mentalmente saudáveis; até porque, ao contrário, se se trata de seres humanos incapazes de se conduzirem de acordo com a sua consciência moral e incorrem em atitudes susceptíveis de lesar seriamente o próximo, o remorso pode persegui-las interiormente, de forma insuportável, passar para o exterior para logo exercer na pessoa um peso persecutório, uma ameaça terrível de punição, configurando delírio alucinatório de perseguição.
Enquanto o leão devora a sua presa serenamente, e fica satisfeito, o homem que prevarica torna-se inquieto, de consciência pesada e, se o caso for grave, tenta justificar-se, refutar as acusações ou devolvê-las mesmo à vítima, mentindo, disparando em todas as direcções; a sua consciência moral não o deixa em paz, mas ele tenta fugir-lhe, recalcando-a no inconsciente, para logo agravar o seu comportamento social, através de um protagonismo cada vez mais criminoso, como acontece(u) com certos déspotas de que nos fala a história, para quem o poder se alicerçou neste tipo de mecanismos psicológicos.
É por isto mesmo que a remissão dos pecados tem tanta importância nas religiões, pois apenas a sua purificação consegue pacificar a consciência moral e apagar a culpabilidade.
Na sociedade deve passar-se o mesmo, isto é, deve ser feito, por parte das instituições, um apelo à consciência moral, para que haja, no caso de um qualquer ilícito, o reconhecimento da culpa e a sua reparação, o que diluirá a culpabilidade, possibilitando o regresso airoso e digno, por parte do cidadão, à vida normal e à integração cordata no todo social.
Modernamente, a liberdade, a democracia e a paz social só se conseguem, caso os governos saibam e consigam dar o exemplo, agindo com respeito pela sua consciência moral que deve ser solidária, empática e altruista, fazendo assim valer a sua autoridade moral, em detrimento de comportamentos desviantes, eivados de propaganda, de retórica, de demagogia e corrupção, buscando a qualquer preço a adulação das massas. Aqui, surge então a lisonja, o culto da imagem, a chantagem, a intriga, a mentira, o orgulho, a vaidade, a ilusão, a procura obsessiva do sucesso e a perda gradual, mas inevitável, da consciência moral. Desta maneira, estamos já a comprometer a coesão social e a degradar a comunidade dos homens.
Em conclusão, resta relevar a importância do conhecimento do indivíduo e da sua personalidade que, como se sabe, é unificada não só pela consciência... moral, mas também por reflexos condicionados e instintos. Sendo assim, sempre que se estabelece uma ponte entre a sociedade e ele próprio, numa ligação que deve ser pautada pela racionalidade moral, pelo bom senso, pela ponderação e pela harmonia, em prol da paz individual e social, onde tudo tem lugar com conta, peso e medida, estaremos mais perto da felicidade partilhada e de consciência tranquila.
Em 30 de
Outubro de 2012
Humberto Maranduva (Pseudónimo)
Meu querido
ResponderEliminarO teu artigo está fabuloso.Infelizmente, há uma parte em que discordo de ti: tivemos, na nossa sociedade, com responsabilidades políticas,homens que só fizeram mal,aproveitando-se do poder que detinham e, sabes o que eu acho?Eles não devem sentir nenhum remorso, porque, um deles, voltou e anda aí como se nada fosse.
Noutro país, já estaria a pagar pelo que fez.Aqui, poucos são os políticos que pagam,a não ser os que constituem a chamada «arraia miúda».
Publicitei o teu blog junto de algumas pessoas amigas, portuguesas e estrangeiras.É natural que te visitem e comentem.É usual, entre os bloguistas, depois de recebermos uma visita, irmos nós visitar e comentar quem nos visitou. Se alguém deixar só o nome pessoal e não o do blog, contactas-me e eu informo-te sobre a maneira de lá ires.
Beijinhos da
Mana