quinta-feira, 23 de março de 2017

INCAPAZES DE AMAR?

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   Quer queiramos, quer não, o passado pesa substancialmente nos nossos comportamentos do quotidiano – muito mais o passado ancestral da humanidade, do que propriamente os nossos antecedentes familiares, ainda que a conjugação de ambos deva ser levada em conta, numa visão sistémica, de conjunto, dado que o todo é sempre mais importante e elucidativo do que a soma das partes, quando se trata de perceber o que representa, afinal, a sedimentação ancestral dinâmica resultante das vivências empíricas dos primeiros seres humanos, regidas maioritariamente por impulsos em detrimento da racionalidade ausente.

        A expressão da emocionalidade é carreada pelo impulso, mas, este, em sociedade, deve ser refreado, de acordo com o contexto familiar, social-civilizacional, de modo a não comprometer as interacções em presença, por atropelo das normas vigentes em determinada comunidade; a rígida fixação dos instintos e o carácter desviante do homem não podem ignorar os legítimas direitos e necessidades do outro, sob pena de sermos incapazes de amar.

        Ao contrário do que se possa pensar, nos nossos dias, ama-se cada vez menos e com pior qualidade: a sociedade do espectáculo, consumista, alienada, decadente, tecnológica e fria não pretende que a Educação faça o seu papel, e, por isso, tem conseguido perturbar emocionalmente as novas gerações, tornando-as mais inseguras e nervosas; mais deprimidas e fechadas; mais ensimesmadas, solitárias e violentas; mais alheias à disciplina e ao consenso; em suma, mais narcisistas, impulsivas e beligerantes.

       Grosso modo, convém referir o tronco cerebral, logo acima da espinal medula, como sendo a parte primitiva do cérebro humano; aquele é composto, de baixo para cima, pelo bolbo raquidiano, protuberância e formação reticular anterior, mesencéfalo (zona média cerebral) com diencéfalo – cérebro reptílico, regulador das funções vitais básicas, como nos répteis –; e córtex cingulado no topo envolvente – sistema límbico, onde se alocam os sentimentos ou afectos primários dos primeiros mamíferos. Toda a restante massa superior, de formação recente, constitui o neo-córtex – sede das funções cognitivo-afectivas superiores complexas, capazes de pensamento e linguagem e de diferenciar emoções. (Goleman, 2006; Hell, 2009; Damásio, 2013; Mlodinow, 2014).

       Segundo Hell, o cérebro reptílico, através da sua acção inconsciente, começou por responder de forma automática na adaptação ao ambiente, organizando instintos e reflexos para, muito mais tarde (evolução) aferir um papel regulador dos sentimentos (afectos). Já as emoções primárias, sem diferenciação cognitivo-afectiva, assumem uma expressividade mimética, motora, sígnica, pré-verbal, sendo atribuídas ao sistema límbico, enquanto potenciadoras da regulação relacional-comunicacional-inicial. Com o neo-córtex o homem consegue já integrar sentimentos e conceptualizar.


        E este último cientista conclui: “(...) O sistema cognitivo-afectivo do neo-córtex representa, em conjugação com o pensamento e a linguagem, o nível mais elevado da regulação dos sentimentos e oferece condições óptimas para uma interacção adequada com o ambiente” (Hell, 2009; p.138). Que se passa, então, com a Humanidade?!

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