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A
filosofia não se compadece com a amorfia, a indiferença
ou a estagnação intelectual das criaturas; mas, pior do
que isso é o encapsulamento narcisista, banal ou seguidista
das mesmas, muito para lá de uma atitude reflectidamente
filosófica. A filosofia radica na admiração e no
espanto que tudo questionam, de forma crítica; na busca da
verdade; na problematização da realidade envolvente, na
certeza de que não existem certezas, dissipando, portanto, o
dogmatismo, a caminho do conhecimento mais lato e libertador.
Bertrand
Russell (1872-1970)
apontava o senso-comum como o fautor de preconceitos, convicções
e crenças irrealistas, logo, desprovidos de razão. O
indivíduo que se dá por satisfeito com as lengalengas,
as cantilenas, as balelas e as atoardas do senso-comum, fecha-se
sobre si mesmo, furtando-se ao mundo exterior e a toda a sua
intrigante complexidade. Para ele só existe linearidade,
vulgaridade, leviandade e pobreza de espírito.
Não deve o homem cingir-se apenas aos instintos. Para quem se espanta, interroga
e reflecte, não basta, no entanto, no dizer de António
Sérgio (1883-1969),
a atitude simplória, vulgar e deturpadora dos espíritos
ingénuos, mas sim uma aturada moção crítica,
autenticidade, método e cepticismo activo, face à
clarificação das questões filosóficas
elementares. E Sérgio acrescenta: “a filosofia é, em
grande parte, a luta do bom-senso contra o [senso-comum]” (Sérgio,
1974: 6,7).
Qualquer
intelecto descomprometido deve ser capaz se se abstrair do espaço
e do tempo; deve conseguir libertar-se de receios e de expectativas;
é determinante que se dispa de crenças interiorizadas e
de tradicionalismos balofos, rumo à contemplação
filosófica, enquanto cidadão universal que se furta à
especulação espiritual do seu mundinho intrínseco,
subjectivado e egóico.
O
abominável senso-comum não satisfaz nunca quem quer
saber e se interroga, nem é compatível com a
contemplação filosófica, mas tem alimentado, no
quotidiano, quem se acomoda e repete de ouvido o que se diz por aí...
nos meios de comunicação social ou nas redes ditas
sociais, e, hoje, mais do que nunca, caminhamos já para a
“verdade” pré-formatada, para o pensamento único,
para a perda da atenção dirigida e da capacidade de
simbolização... “Não tenho palavras... Que
quer que lhe diga?!” -- ouvimos nós, amiúde, dizer na
televisão. “À
verdadeira contemplação filosófica, muito ao
invés, dá-lhe contentamento toda a ampliação
do Não-Eu, – o que magnifica o objecto que se contempla, e,
por aí mesmo, o próprio sujeito contemplador”
(Russell, 1974: 240).
Bibliografia:
RUSSELL, Bertrand. 1974. Os
Problemas da Filosofia.
Coimbra, Arménio Amado – Editor, Sucessor.
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