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É
deveras preocupante a imagem com que se fica, depois de uma visita a
um lar da terceira idade. É tocante o abandono psicológico
que se pode ler nos rostos estáticos dos velhos aí
colocados; nos seus olhares de uma humidade coalhada e triste; nas
posturas de abandono que os seus corpos esparramados nos gritam do
interior dos seus silêncios... Por que razão teremos de
continuar a admitir que uma das causas mais significativas de
depressão se prende, necessariamente, com o isolamento da
velhice?! As famílias não estão, seguramente, a
assumir as suas responsabilidades, nem tão pouco o Estado está
disposto a fazê-lo.
Mas,
quando se fala em isolamento, lembramo-nos particularmente do que se
passa aquando do falecimento de um dos membros do casal, que é
o que leva, por norma, o outro ao ambiente depressivo de um lar de
velhos. Quanto mais avançam o progresso e as novas
tecnologias, mais se trabalha no sentido da solidão e do
embrutecimento das massas, dado que o ser humano vai sendo
secundarizado no âmbito dos seus papéis sociais e
laborais de intervenção, tornando-se mais dependente e
condicionado, mais neurosado e passivo. Como a viuvez potencia todos
estes factores, o isolamento pode determinar patologias depressivas
graves, a necessitar de acompanhamento clínico.
Já
aqui tecemos algumas considerações sobre a perda de
familiares directos – “LUTA
DE LUTOS”
–,
sublinhando a maior ou menor dificuldade das pessoas ao longo do
processo dos seus lutos respectivos. Trata-se de situações
profundamente críticas, algumas das quais não
dispensando mesmo aconselhamento e acompanhamento adequados. Uma
coisa é certa, contudo: às pessoas não deve ser
permitido que mergulhem no buraco negro do seu abismo interior, numa
espécie de autocondenação com carácter
masoquista e culpabilizante. Aqui, o papel do psicólogo ou do
psiquiatra é fulcral. O peso terrível dos sentimentos
emocionais dos enlutados (pânicos, obsessões, fixações,
compulsões, prostrações) deve ser partilhado com
aqueles especialistas.
É
mais ou menos consensual que o luto provoca sempre um sofrimento de
angústia difícil de suportar; este tem duração
variável, que pode estender-se ao longo de semanas ou mesmo
meses, tornando-se, portanto, em um foco prolongado de
vulnerabilidade, caso a perda não seja resolvida no seu devido
tempo, no sentido de restaurar o equilíbrio emocional perdido.
Há mesmo quem caia em estados de apatia, melancolia,
hipocondria ou histeria, e se imagine invadido pela patologia do
falecido; outros exacerbam comportamentos de negação da
morte ou renovam crises de culpabilidade no aniversário do
nascimento ou do falecimento do ente querido... ou até em
outras datas marcantes; outros ainda não tocam nunca mais nas
coisas do falecido, mantendo as suas gavetas, armários e mesmo
o quarto como se de relíquias se tratasse.
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