segunda-feira, 18 de junho de 2018

O ISOLAMENTO DEPRESSIVO

    
Imagem do Google

     É deveras preocupante a imagem com que se fica, depois de uma visita a um lar da terceira idade. É tocante o abandono psicológico que se pode ler nos rostos estáticos dos velhos aí colocados; nos seus olhares de uma humidade coalhada e triste; nas posturas de abandono que os seus corpos esparramados nos gritam do interior dos seus silêncios... Por que razão teremos de continuar a admitir que uma das causas mais significativas de depressão se prende, necessariamente, com o isolamento da velhice?! As famílias não estão, seguramente, a assumir as suas responsabilidades, nem tão pouco o Estado está disposto a fazê-lo.

     Mas, quando se fala em isolamento, lembramo-nos particularmente do que se passa aquando do falecimento de um dos membros do casal, que é o que leva, por norma, o outro ao ambiente depressivo de um lar de velhos. Quanto mais avançam o progresso e as novas tecnologias, mais se trabalha no sentido da solidão e do embrutecimento das massas, dado que o ser humano vai sendo secundarizado no âmbito dos seus papéis sociais e laborais de intervenção, tornando-se mais dependente e condicionado, mais neurosado e passivo. Como a viuvez potencia todos estes factores, o isolamento pode determinar patologias depressivas graves, a necessitar de acompanhamento clínico.

     Já aqui tecemos algumas considerações sobre a perda de familiares directos – “LUTA DE LUTOS” –, sublinhando a maior ou menor dificuldade das pessoas ao longo do processo dos seus lutos respectivos. Trata-se de situações profundamente críticas, algumas das quais não dispensando mesmo aconselhamento e acompanhamento adequados. Uma coisa é certa, contudo: às pessoas não deve ser permitido que mergulhem no buraco negro do seu abismo interior, numa espécie de autocondenação com carácter masoquista e culpabilizante. Aqui, o papel do psicólogo ou do psiquiatra é fulcral. O peso terrível dos sentimentos emocionais dos enlutados (pânicos, obsessões, fixações, compulsões, prostrações) deve ser partilhado com aqueles especialistas.

     É mais ou menos consensual que o luto provoca sempre um sofrimento de angústia difícil de suportar; este tem duração variável, que pode estender-se ao longo de semanas ou mesmo meses, tornando-se, portanto, em um foco prolongado de vulnerabilidade, caso a perda não seja resolvida no seu devido tempo, no sentido de restaurar o equilíbrio emocional perdido. Há mesmo quem caia em estados de apatia, melancolia, hipocondria ou histeria, e se imagine invadido pela patologia do falecido; outros exacerbam comportamentos de negação da morte ou renovam crises de culpabilidade no aniversário do nascimento ou do falecimento do ente querido... ou até em outras datas marcantes; outros ainda não tocam nunca mais nas coisas do falecido, mantendo as suas gavetas, armários e mesmo o quarto como se de relíquias se tratasse.


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