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É notável o pioneirismo de Fiedrich Fröbel, ao reconhecer,
ainda na primeira metade do século XIX, que a criança através da actividade
lúdica se identifica vivencialmente como pessoa. De resto, foi Fröbel
quem, em 1840, criou o primeiro Kindergarten (jardim-de-infância), na
Turíngia. Recordamos, aqui e agora, este extraordinário facto histórico, depois
de termos relido um breve ensaio nosso – Atitudes Pedagógicas Concretas
–, publicado na revista portuguesa Cartilha, de 2 de Fevereiro de 1990.
Modéstia à parte, esta publicação, de inestimável valor e alcance
didáctico-pedagógico, deve a sua génese e alma à concepção e implementação de
um projecto por nós gizado, e que a Associação Nacional de Professores
apadrinhou, depois de termos, no ano de 1987, encetado negociações, de
patrocínio e edição, bem sucedidas, com Américo Areal, ao tempo, proprietário
das Edições ASA.
Contudo, voltemos
a Fröbel e aos jardins-de-infânia... O ambiente nesta nova realidade
vivencial infantil deve decalcar, o mais possível, o domus familiar, no
sentido de atenuar a redução das relações maternais, e propiciar a abertura a
novos contactos com os pares da criança; é que surgem agora novos objectos
externos e um novo tipo de actividades comuns, depois da conjugalidade saudável
do pai e da mãe ter iniciado o devido entretecimento de um projecto identitário para o filho (P. Aulagnier). Neste contexto, a educadora-de-infância deve estar preparada para
se dedicar, pessoalmente, a cada uma das crianças, sem perder de vista,
portanto, a heterogeneidade do grupo em presença, mas procurando envolvê-lo
sempre na difícil simultaneidade das indispensáveis acções colectivas.
O ritmo da vida
familiar deve ser respeitado no jardim-de-infância, sob pena de o Sistema
Educativo, por manifesta ignorância, impreparação e inconsequente
irresponsabilidade, não criar condições que garantam os ciclos vitais de
actividade, de repouso e de sono. No jardim de infância a criança deve
integrar os trabalhos domésticos da sala, transformada em casa com divisórias e
nichos devidamente decorados e mobilados; tais tarefas, que o adulto
supervisiona e acompanha, permite-lhe a saudável oscilação da dependência para
a autonomia, da recusa para a aceitação, da responsabilidade para a distensão.
Assim, com maior ou menor dificuldade, a criança vai percorrendo a senda da
adaptação ao jardim de infância que, apesar de todos estes cuidados, não é o lar
a que aquela estava habituada (Marianne Günzel-Haubold, 1959, 2.ª Ed., pp.
250 e 251).
Relativamente às
reacções de espontaneidade grupal infantil, em contexto de jardim-de-infância,
o que de imediato se nos oferece dizer prende-se com aquela constatação
clássica de que, nesta fase etária, as crianças não brincam umas com as
outras, mas, isso sim, brincam apenas na presença umas das outras. E,
claro, as coisas devem ser mantidas assim, sem forçar a nota; tudo evoluirá a
seu tempo. Mas, atenção: pode verificar-se que um mais velhinho assuma a
liderança do jogo ou, até, que o jogo fomente a natural distribuição de papéis
diferenciados. Nestas idades a criança não se encontra mentalmente preparada
nem amadurecida para interiorizar regras objectivas, nem para cumprir papéis
sociais colectivos. Aqui, cada um joga para si próprio e por si só, ou então em
resultado de uma qualquer acção grupal genuína.
Esboçam-se, nesta
fase, também, certas acções de liderança dos mais velhinhos, curiosamente, para
apoiar os mais novos, podendo ainda fazê-lo, para, pura e simplesmente, tirar
partido da sua superioridade global e assim os poderem dominar. Nestas idades,
rapazes e raparigas também não combinam. Mas isto é espontaneidade
reaccional-grupal, o que contribui para naturalizar o convívio relacional e
optimizar a elaboração desta segunda fase de tensão micro-social – a anterior,
no seio da família, constitui o modelo inicial de relação afectiva e de vínculos que esboça já uma
imagem social de comunidade. Sendo assim, só neste
quadro é possível, no âmbito do relacionamento objectal, simbiótico, a
penetrabilidade emocional do continente grupal e a receptividade gradual
pelo objecto. Nada de rotinas de
habituação viciante, contrárias à natureza sociopsicológica da criança e às
suas necessidades pedagógicas de metodologia grupal.
Nota: Fora de
questão está, antes dos sete anos, a leccionação formal de Matemática ou de
Língua Portuguesa... Muito menos a de uma língua estrangeira. Revejam as teses
de Jean Piaget – neste mesmo Blogue – “Legados Conceptuais de Piaget” e
“As Descobertas de Piaget”... Mais ainda “A Toleima do Inglês” e
“A Alegria de Aprender Inglês”.
Aprendo sempre imenso consigo, meu Amigo. Este seu texto sobre os jardins de infância é muito elucidativo. Acho muito importante que as crianças comecem desde cedo a sua socialização com os outros e, embora como diz, na faixa etária dos mais novos eles brincam "na presença uns dos outros", é verdade que a integração far-se-á naturalmente.
ResponderEliminarUma boa semana, um beijo.