É já impressionante o rol de queixas que os cidadãos
portugueses vão tendo dos governantes, dos partidos, e das instituições criadas
por uns e por outros, por se permitirem agir, nem sempre através de processos
suficientemente transparentes, até porque, quando se trata de auditar todos
eles, raras são as vezes em que não vêm a lume um ou outro quid pro quo resultante de erros de avaliação das múltiplas
situações em presença (a imperfeição é a essência do ser humano), a exigir,
portanto e pelo contrário, a preocupação de comportamentos e protagonismos
eivados de bom senso e pragmatismo actuante.
Mas
o mesmo se passa no âmbito da União Europeia (zona Euro ou a 27), depois do
eixo franco-alemão ter chegado à conclusão que a bacia carbonífera do Rühr,
deixaria de ser pomo de discórdia (tinham motivado as 1.ª e 2.ª Grandes Guerras
Mundiais), para, em 1950, passar a ser ponto de partida de interesses comuns –
“mudam-se os tempos... (...)”
Assim, tanto a França como a Alemanha, passaram a gerir em conjunto o mercado
do carvão e do aço através de uma Alta Autoridade. Foi desta maneira que, um
ano depois, surgiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que
vigoraria a partir de 1952, instituída pelo Tratado de Paris. E por aí fora,
invocando sempre acordos e implementando tratados que, a pretexto do bem da
união, mais não fazem do que ir debilitando, paulatinamente, os países do Sul
da Europa em proveito de interesses hegemónicos de domínio inconcebível. Logo,
mais lamúrias, decepções, choro e ranger de dentes.
E
podia falar ainda de outros países, por esse mundo fora, mas vou apenas tocar
ao de leve a tese que hoje me traz aqui e concluir rapidamente sobre as
disfunções comportamentais dos cidadãos nacionais.
Face
à complexidade factual mal percepcionada de um quotidiano redutor, anacrónico e
demencial, uma vez que vai sendo urdido pela incompetente mediocridade dos “heróis” nacionais ungidos pelo voto popular, o povo,
incrédulo, mas sempre reincidente, já só sabe chorar as suas mágoas, convencido
de que a responsabilidade é apenas dos outros, numa demonstração aflitiva de
sintomas neuróticos introjectados, tal como nos descreve Sándor Ferenczi(1873-1937) - contemporâneo e amigo de Freud -, quando adianta que a histeria
colectiva força a líbido a desinvestir o objecto, por desprazer, numa
transferência incompleta, tendente a diluir as responsabilidades nos outros,
enfim.
No
entanto, como todos fazemos exactamento o mesmo, levados por um atavismo
arreigado de larguíssimas dezenas de anos... centenas, se dermos ouvidos a
Roberto de Mattei, quando este refere os tratados de Westfalia de 1648,
enquanto vírus que irá minar a coesão Europeia por rejeição a qualquer
referência transcendental. Bom, de volta a Portugal, e, como todos fazemos
exactamente o mesmo, repito, recordo o nosso filósofo José Gil: “o queixume
delirante constitui também um modo de justificar todo o pragmatismo de
sobrevivência, o não-cumprimento da lei, a irresponsabilidade, o “desenrasque”
, a esperteza na acção” – saloia,
tal como fazem os governos, onde se vão encontrando, cada vez mais, autênticos
sucedâneos do chico-espertismo, valorizado desde há muito pelo povo que somos,
num processo estranho mas claro e simultâneo de autocomiseração autofágica.
Por
último, e sem pretender particularizar por demais o fenómeno, eis-nos chegados
a um beco sem saída, sem ter por onde nem para onde ir, como se a identidade
nacional não fosse mais do que o circo estático de uma praia onde, com o tempo
e a crise global aliada à inépcia lusitana, o povo e as instituições, quais
construções de areia, estão já condenados a se esboroarem sob o efeito
inelutável dos ventos de uma psicose fatal.
Por: Humberto Maranduva (Pseudónimo)
Meu querido
ResponderEliminarBelo texto, que descreve in extremis, o ponto a que nós chegamos. E pensar que, metade do mundo já foi nosso!!!...«Those were the days,my friend...»,those were the days!...
O certo é que nós todos ,também já vivemos in extremis, malheureusement!...
Não sei aonde iremos parar e ...não estou a ver como vamos sair desta.
Tu, estás ,como sempre, de parabéns, pela fluência com que as palavras te ocorrem, pela riqueza vocabular,pela boa construção frásica,enfim, por todo o conjunto do teu texto.Continua e, se possível,publica em algum meio mais abrangente da Comunicação Social.
Beijinhos da
Mana