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Tão
grave como a impreparação, o desequlíbrio, a
imaturidade educacionais ou outros tenebrosos desconchavos ocasionais
e arbitrários, é o simples cruzar de braços, a
indiferença, o laissez
faire, laissez passer. Ambos
os figurinos têm o condão, não só de
reactivar os instintos primários da criança, mas também
o de adormecer a consciência, impedindo a educação
cultural, as aprendizagens lectivas e a sociabilidade. Importa,
portanto, educar na responsabilização, ligando as
experiências do quotidiano à natural necessidade de
descoberta do novo ser, tendo em conta as consequências dos
seus actos, sem comprometer a comunidade.
Para
além do conveniente exemplo de excelência comportamental
que o adulto deve sempre garantir, quando junto das crianças,
deve ainda ser capaz de orientar estas, circunstancialmente, para
tarefas lúdicas susceptíveis de redireccionar as
tendências pulsionais indesejáveis. Desta maneira,
caminha-se para a formação alicerçado do Eu e
para a construção da consciência, da alegria e da
auto-estima, através da satisfação pelos
resultados obtidos. O self-respect
e o amor ao próximo devem ser o suporte da Educação.
Segundo Dostoiewsky,
os
castigos e as humilhações tornam o homem infeliz e
persecutor, levando-o à insatisfação e a uma
redutora espiral de vinganças e a actos inconscientes de perda
de controlo e represálias. É assim que se disseminam as
epidemias mentais.
Está
muito enganado quem possa pensar, hoje em dia, que a liberdade
dispensa a disciplina. A criança necessita de balizas, de
regras, de orientação, de uma educação
construtiva; precisa de ouvir NÃO,
tantas vezes quantas as que a situação o exigir, mas, a
partir de pais ou educadores que não
se permitam a exteriorização de conflitos pessoais nem
de afectos inconscientes,
ou seja, não podem perder o domínio de si próprios.
Isto é fundamental, porque mexe com a estrutura afectiva da
criança; esta identifica-se com o progenitor, e depois com o
educador, professor, mestre, etc., o que interfere, especularmente,
na construção do seu Eu, para o bem ou para o mal... no
âmbito da relação de objecto (líbido
objectal).
Com
o passar do tempo, e vencidas as resistências que o
autoritarismo balofo ou o cruzar de braços apático
potenciam – fobia das responsabilidades, diluição
moral, deformação de carácter, acabrunhamento do
self,
perda
da consciência e da dignidade pessoal, o indivíduo
reagirá melhor à necessidade de integração
social cooperante e, através da maturação
erótica, desenvolverá a capacidade de amar, o que
significa considerar a Liberdade do outro na gestão da vida
dual comum. Este passo exige capacidade altruísta,
perseverança, conhecimento da realidade e das suas próprias
limitações individuais.
Educar
no Amor
cria relações sãs; Cruzar
os Braços
potencia interacções doentias. Estas, de teor
parasitário, não permitem a penetrabilidade emocional
nem a recepção pelo objecto. Neste caso, os indivíduos
elegem a promiscuidade multitudinária para iludir a falta de
identidade pessoal e a ausência de sentimentos próprios.
A solidão torna-se perturbadora e o sujeito, imaturo,
desprovido de vontade e desinserido, perante o apagamento do Self,
age pelos instintos, pelas pulsões primárias. Assim,
através de atitudes inconscientemente desconcertantes, busca o
reconhecimento dos pares, a coberto da grande massa grupal
envolvente, enquanto compensação delirante para o seu
sofrimento mental e para o seu efectivo isolamento afectivo.
“A vida sem valores
sublimes perde toda a significação, a totalidade do seu
sentido, a inefável pulsão do sonho, e vai cavando à
sua volta o vazio identitário que impede a afirmação
da sensibilidade afectiva amadurecida, coarctando a transcendência
de um simbolismo libertador. Para o ser humano, vergado que está
sob o peso sombrio de uma existência angustiante e castigadora,
que o progresso potencia e agrava, mais importante do que colocar
questões é agir com determinação (viver)
de forma a satisfazer as exigências mais intrínsecas da
interioridade do indivíduo: nobreza de carácter,
altruísmo e totalidade, como, de resto, aconteceu na
Helenidade” (Santos, 2015).
Educar é muito difícil. Saber criar regras de disciplina e amor, mais difícil ainda... Mas cada vez mais necessário.
ResponderEliminarSempre um enorme prazer lê-lo, meu Amigo.
Uma boa semana.
Beijos.
Muito boa Páscoa, minha querida amiga. Um abraço.
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