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No
dia 15 de Março de 1994, vimos o nosso trabalho – Educar
no Amor – ser
publicado na revista do Ministério da Educação –
Notícias da
Educação. Adivinhava-se
já, na sequência do refazer do nosso tecido social e do
tipo de coesão que o animava, por força de uma renovada
realidade histórico-filosófica de cariz democrático,
uma gradual alteração das mentalidades, tendente a pôr
de lado velhos preconceitos e conceitos, protagonismos e práticas
ultrapassados, mormente no âmbito da massificação
do ensino.
Sabíamos
que seria assim, mas alertámos para a importância de
Educar no Amor, para
que as coisas, neste campo, não fugissem, sobremaneira, ao
controlo dos pais, caso a Educação dos rebentos fosse
deixada ao acaso. A escola só vem depois. A tarefa dos
progenitores exige um esforço redobrado, já que no seu
tempo de crianças e jovens foram educados de forma deficiente,
muitas vezes brutal, sado-masoquista, aniquiladora ou enfática,
com castigos corporais violentos, tendo sido psicologicamente
castrados, paralisados, recalcados ou tornados agressivos e
agressores. Tudo isto, quer se queira, quer não, formatou a
sua estrutura caracterial.
Segundo tem sido referido por
inúmeros autores consagrados, historicamente, o castigo
educativo foi beber inspiração na arcaica sede de
vingança, no primitivo exercício compensatório
de represálias, na ancestral necessidade histérica de
cultivar ritos mágicos sacramentais, enfim, a partir da
hostilidade e da cólera. O castigo de que falamos não
se pauta pela razão, mas sim pela afectividade doentia, de
tonalidade inconsciente, que embriaga o educador e o leva a procurar
um bode expiatório que possa ser humilhado, visando aplacar a
ira do “ofendido”. Esta prática danifica o instinto de
conservação e a auto-estima infantis. A mesma configura
ainda um tipo de comportamento que reedita hoje, não obstante
a realidade epistemológica actual, a lógica dos povos
primitivos, já que os mecanismos inconscientes que os motivam
são intemporais.
Tratando-se de uma matéria tão
densa, complexa e profunda como o é a do castigo educativo,
passaremos a focar agora, no enquadramento do presente escrito, um ou
outro aspecto de maior importância, relêvo e recorrência
no quotidiano das famílias, aquando do primeiro esboço
(entre os dois, três anos e os cinco) de afirmação
pessoal da criança – delimitação do Eu e
início de integração social, através de
uma forte oposição, teimosia (personalidade
impositiva); este fenómeno, conforme a reacção
parental – justa ou persecutória –, pode gerar uma
terrível angústia, mais teimosia e grande ambivalência
mesclada de ódio mal contido. Pais existem que chegam ao ponto
de recriar espessos dramalhões pseudo-educativos onde impera
a solenidade sado-masoquista, pateticamente mórbida, fatal
para a sensibilidade e a consciência da criança, porque
induz o esboroar da personalidade e o amestramento lacaio dos
comportamentos, afastando o ser da dignidade humana.
Estas práticas vão
deteriorando a formação do carácter, da vontade,
da consciência, ao mesmo tempo que precipitam, num clima
crescente de angústia insuportável, a síndroma
da culpabilidade e do abandono moral, da insegurança e da
perda de amor-próprio. Ao invés, pelo jogo e pela
actividade orientada pelo adulto equilibrado, as pulsões
instintivas podem ser convertidas saudavelmente, também na
consideração e no respeito dos que com a criança
interagem. Importa não esquecer a complexidade da
personalidade psíquica infantil.
E concluímos com um alerta
urgente, antes de passar ao segundo escrito sobre a presente
temática: face a um ser em formação, a falta de
respeito, a ignorância e a estupidez de progenitores ou
educadores mentalmente infectados podem levá-lo à
autodestruição ou à destruição dos
outros, pelo acumular de tensões, de angústias e de
medos que podem desembocar, eventualmente no suicídio ou
noutro tipo de tragédias deploráveis (violência
doméstica, maus-tratos, perseguições, terror
“educativo”, desamor, ciúmes, indiferença,
usurpação de direitos relacionais, chantagem afectiva,
etc.). Mas, lembrem-se sempre: Educar (também) não é
Cruzar os Braços.
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