quinta-feira, 15 de março de 2018

HEGEMONIA, PREPOTÊNCIA E PERSECUÇÃO




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            A propósito do escrito “Pensar a Humanidade”, publicado neste mesmo espaço, fomos movidos pelo inelutável impulso de reler a excelente e abrangente obra de Darcy Ribeiro, O POVO BRASILEIRO – A Formação e o Sentido do Brasil. Esta publicação (2.ª edição) foi dada à estampa pela editora Companhia das Letras, em São Paulo, em 1995. Trata-se do resultado final de uma tão árdua quanto bem intencionada tarefa de investigação, que Ribeiro nos apresenta de forma honesta e desassombrada, não só porque respeita historicamente as múltiplas fontes fidedignas a que recorreu, mas também porque o faz sem se deixar levar pela óptica unilateral do colonizador.

            Da nossa perspectiva, que coincide com a abordagem de Ribeiro, o homem continua a se degladiar e, portanto, a não se entender – e aqui faz todo o sentido o teor da reflexão “Pensar a Humanidade” –, porque aquele continua, como sempre aconteceu, a dar livre curso aos seus instintos primários (princípio do prazer), ao invés de agir civilizadamente (princípio da realidade), muito embora tenha classificado (hipocritamente) de acção civilizacional (?!) [intrusões na África, Ásia, América e Oceania, a partir do séc. XIV], todo o conjunto de ocupações, agressões, usurpações, sequestros, dominações, torturas e atrocidades, logo seguidas de escravização organizada, de trabalho forçado, de saque sistemático de matérias-primas, de descaracterização e caotização da coesão tribal, tendo rematado a sua “notável” acção civilizadora, exaurindo as comunidades autóctones, através do imparável tráfico negreiro para fora de África.

            Sim, o pretexto foi a alegada atitude civilizadora; a motivação foi a ganância que a bancarrota europeia acicatou. É claro que, ao longo de toda a História da Humanidade, até ao séc. XIV – e logo que a forma de organização das comunidades deixou de ser matriarcal e passou a ser patriarcal... não cabe aqui e agora discernir sobre este particular –, o conceito de racismo não possuía ainda o subsequente referente extra-linguístico real, embora existisse. Acontecia quando se registavam conflitos de interesses, seguidos das inevitáveis guerras e mortandades e, no fim, o resultado era sempre o mesmo: os vencedores apoderavam-se do espólio dos derrotados, dos seus territórios e, quando não os matavam, tornavam-nos escravos. Por racismo?!... Não, tal como o passámos a conceber depois da ocupação do continente africano e nos séculos seguintes!... Tudo era tácito ou inevitável, se quiserem, devido ao poder do mais forte, à hegemonia dominadora, à ascendência da dinâmica verificada.

            Particularmente, entre os séculos XV e XVII, a Europa viria a conseguir desenvolvimentos técnicos consideráveis para a época, o que reforçaria a sua capacidade hegemónica de dominação e imposição dos seus arbítrios e interesses junto de outras paragens onde a vida tinha, até aí, decorrido na-tu-ral-men-te. As populações autóctones (caçadoras-recolectoras) passaram a ser olhadas como presas fáceis, isto é, teriam de se submeter ao papel laboral que o colonizador lhes destinou, sem direito de opção, sem liberdade de escolha. Tudo isto devido ao incrível desfasamento existente entre o efectivo apuro e progresso tecnológico do Ocidente, quando comparado com a pureza do status tribal das comunidades indígenas. Não havia como bater o pé, negar ou tentar resistir; contra a prepotência e o primitivismo ataviado não há argumentos... Ainda hoje é assim!

Bibliografia: SANTOS, Manuel Bragança dos, A Paixão e Ressurreição do Soldado (2014), Versbrava Editora, Porto.

           

1 comentário:

  1. Muito interessante o seu texto sobre a obra de Darcy Ribeiro.
    Gosto de ler os seus textos e, ao ler este, fico com a sensação que os Homens não mudam nunca. Ou antes, estão a mudar para pior...
    Uma boa semana, meu Amigo. Um beijo.

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