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A propósito do escrito “Pensar a Humanidade”,
publicado neste mesmo espaço, fomos movidos pelo inelutável impulso de reler a
excelente e abrangente obra de Darcy Ribeiro, O POVO BRASILEIRO –
A Formação e o Sentido do Brasil. Esta publicação (2.ª edição) foi dada
à estampa pela editora Companhia das Letras, em São Paulo, em 1995. Trata-se
do resultado final de uma tão árdua quanto bem intencionada tarefa de
investigação, que Ribeiro nos apresenta de forma honesta e desassombrada, não
só porque respeita historicamente as múltiplas fontes fidedignas a que
recorreu, mas também porque o faz sem se deixar levar pela óptica unilateral do
colonizador.
Da nossa perspectiva, que coincide
com a abordagem de Ribeiro, o homem continua a se degladiar e, portanto, a não
se entender – e aqui faz todo o sentido o teor da reflexão “Pensar a
Humanidade” –, porque aquele continua, como sempre aconteceu, a dar livre
curso aos seus instintos primários (princípio do prazer), ao invés de
agir civilizadamente (princípio da realidade), muito embora tenha
classificado (hipocritamente) de acção civilizacional (?!) [intrusões na
África, Ásia, América e Oceania, a partir do séc. XIV], todo o conjunto de
ocupações, agressões, usurpações, sequestros, dominações, torturas e
atrocidades, logo seguidas de escravização organizada, de trabalho forçado, de
saque sistemático de matérias-primas, de descaracterização e caotização da
coesão tribal, tendo rematado a sua “notável” acção civilizadora, exaurindo as
comunidades autóctones, através do imparável tráfico negreiro para fora de
África.
Sim, o pretexto foi a alegada
atitude civilizadora; a motivação foi a ganância que a bancarrota europeia
acicatou. É claro que, ao longo de toda a História da Humanidade, até ao séc.
XIV – e logo que a forma de organização das comunidades deixou de ser
matriarcal e passou a ser patriarcal... não cabe aqui e agora discernir sobre
este particular –, o conceito de racismo não possuía ainda o subsequente
referente extra-linguístico real, embora existisse. Acontecia quando se
registavam conflitos de interesses, seguidos das inevitáveis guerras e
mortandades e, no fim, o resultado era sempre o mesmo: os vencedores
apoderavam-se do espólio dos derrotados, dos seus territórios e, quando não os
matavam, tornavam-nos escravos. Por racismo?!... Não, tal como o passámos a
conceber depois da ocupação do continente africano e nos séculos seguintes!...
Tudo era tácito ou inevitável, se quiserem, devido ao poder do mais forte, à
hegemonia dominadora, à ascendência da dinâmica verificada.
Particularmente, entre os séculos XV
e XVII, a Europa viria a conseguir desenvolvimentos técnicos consideráveis para
a época, o que reforçaria a sua capacidade hegemónica de dominação e imposição
dos seus arbítrios e interesses junto de outras paragens onde a vida tinha, até
aí, decorrido na-tu-ral-men-te. As populações autóctones
(caçadoras-recolectoras) passaram a ser olhadas como presas fáceis, isto é,
teriam de se submeter ao papel laboral que o colonizador lhes destinou, sem
direito de opção, sem liberdade de escolha. Tudo isto devido ao incrível desfasamento existente entre o efectivo apuro e progresso
tecnológico do Ocidente, quando comparado com a pureza do status tribal
das comunidades indígenas. Não havia como bater o pé, negar ou tentar resistir;
contra a prepotência e o primitivismo ataviado não há argumentos... Ainda hoje
é assim!
Bibliografia: SANTOS, Manuel Bragança dos, A Paixão e Ressurreição do Soldado (2014), Versbrava Editora, Porto.
Muito interessante o seu texto sobre a obra de Darcy Ribeiro.
ResponderEliminarGosto de ler os seus textos e, ao ler este, fico com a sensação que os Homens não mudam nunca. Ou antes, estão a mudar para pior...
Uma boa semana, meu Amigo. Um beijo.