quinta-feira, 15 de março de 2018

PENSAR A HUMANIDADE



Imagem do Google


       Em Novembro de 2016, referimos aqui a obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Immanuel Kant (1724-1804), para sublinhar a legitimidade que este filósofo subscreve, sempre que as interacções humanas que visam a concretização dos projectos de vida e dos interesses de cada indivíduo respeitem os direitos dos outros e a sua dignidade humana. Em Março de 2017, e face a esta matéria, apontámos um conjunto de contradições inerentes ao comportamento humano, no âmbito social, tendo recorrido aos ensinamentos de Goleman (2006), Hell (2009), Damásio (2013) e Mlodinow (2014), nomeadamente quando estes cientistas falam do mesencéfalo do homem, na zona média cerebral, com diencéfalo (tálamo e hipotálamo)cérebro reptílico, regulador das funções vitais básicas, como nos répteis –; e córtex cingulado no topo envolvente – sistema límbico, onde se alocam os sentimentos ou afectos primários dos primeiros mamíferos. Fixemos isto!

            Mais recentemente, e segundo os mesmos autores, constituiu-se o neo-córtexsede das funções cognitivo-afectivas superiores complexas, capazes de pensamento e linguagem e de diferenciar emoções. Correcto! O facto é que não deixámos de possuir cérebro reptílico com tudo o que isso implica de carga ancestral dinâmica, a determinar em cada um de nós uma matização caracterológica tripartida, a dar corpo à ambição, à territorialidade e à agressividade... tal como nos répteis! Mas, para disciplinar o instinto e promover a cultura, impõe-se a Educação a partir do berço, que deve ser, de resto, a principal e a mais empenhada tarefa familiar e sóciocultural?! Pois é! Tem vindo a ser descurada.

            Para Pires, Fernandes e Formosinho (1991), docentes na Universidade do Minho, “(...) Cultura é tudo aquilo que não é instintivo”. Já Almada Negreiros (1893-1970), a este respeito, tinha afirmado que “Cultura é tudo quanto permanece depois de tudo ter sido esquecido” (Sarmento, 1994: 68). Tudo isto significa, portanto, que o homem tenderá a viver nesta dilemática situação: ou, por um lado, dá mais importância à Educação e às aprendizagens com sentido, para poder respeitar a dignidade do seu semelhante, tirando partido das capacidades hominizadoras do neo-córtex, ou, por outro lado, continuará a se deixar levar pela sua caracterologia meramente reptílica.

            Porém, como toda esta problemática não reveste nenhum tipo de linearidade, nem a montante nem a jusante, encontrámos sempre no passado, em termos histórico-filosóficos, e deparamos também hoje, e quiçá no futuro, não só quem se preocupou, preocupa ou preocupará com os direitos dos outros, mas também quem tirou, tira ou tirará partido da ingenuidade, fragilidade ou ignorância dos deserdados, indigentes, vulneráveis, tecnologicamente deficitários, económico-financeiramente falidos (países ou pessoas), para granjear vantagens (ilícitas) de todo o tipo. No primeiro caso, os bem-(in)formados; no segundo, os mal-(in)formados. Poderão, no entanto, ocorrer regenerações ou deslizes; mais estes do que aqueles, mas nada nos faz crer que o princípio da realidade possa dispensar a Educação Sistémica dos seres humanos.        

Bibliografia: Damásio, A. (2013). O Sentimento de Si – Corpo, Emoção E Consciência. Temas e Debates. Círculo de Leitores. Lisboa.
                    Goleman, D. (2006). Inteligência Emocional. Espanha: RevistaSábado.
                    Hell D. (2009). Depressão – Que sentido faz? Sete Caminhos. Lisboa.
                    Mlodinow L. (2014). Subliminar – Como o Inconsciente Controla o Nosso Comportamento. Lisboa: Marcador Editora.
                    Sarmento, M. J. (1994). A Vez e a Voz dos Professores – Contributo para o Estudo da Cultura Organizacional da Escola Primária. Porto Editora. Porto.

Sem comentários:

Enviar um comentário