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Antes do Natal tudo é
diferente, para melhor, nas atitudes, nos comportamentos, nas
relações que as pessoas estabelecem umas com as outras,
quanto mais não seja, no que toca às interacções
que se geram, por mero interesse, neste nosso universo globalizado de
consumismo desenfreado. Mas, enfim, não vamos já
escrever sobre as grandes verdades que, no fundo, acabam por
comprometer toda a indecifrável magia desta tão
inebriante quadra natalícia.
O Natal é, ou deveria ser,
tempo de paz, de concórdia, de afectos saudáveis e
profícuos, de entrega, de partilha e de comunhão.
Começámos por dizer que esta é uma época
diferente, tendo em conta as suas mui próprias
características, que as pessoas apreendem e interiorizam desde
as mais tenras idades, e das quais lhes ficam as memórias
nostálgicas da infância, em casa dos avós, de uma
tia ou dos pais, lá na longínqua aldeia coberta de neve
ou tão só de frio, de muito frio ou chuva, que o
aconchego da lareira, acesa naquela noite, atenua, para além
da mesa posta, com todo o amor e desvelo, pela mãe que se
desdobra em múltiplas acções e energias, para
que tudo fique conforme o agrado dos entes queridos. São dois
fogos a lavrar num só sentido e numa mesma direcção
– o da família solidamente unida, não só pelos
laços de consanguinidade, mas também pelo elo
indestrutível do amor em Cristo.
O Natal é, ou deveria ser, o
fim de todas as guerras e políticas e propagandas eleitorais,
se nos lembrarmos o que cada uma destas palavras encerra em termos de
significado, cujo conceito (mal esboçado) se aproxima de forma
sempre desviante, imprópria, imprecisa, incapaz, face às
atrocidades e aberrações das primeiras; no que diz
respeito às hipocrisias, interesses, engodos e inverdades das
segundas e, aos embustes, mentiras, falácias e fingimentos das
terceiras. Neste Natal não cessaram nenhum destes
“passatempos” doentios aos quais se entregam as minorias
privilegiadas que colocam na sua directa dependência todas as
maiorias, em todo o mundo dito civilizado ou não.
E depois do Natal, como irá
ser a vida no planeta? Volta tudo ao mesmo, como aliás sempre
tem acontecido? Voltaremos a acordar sobressaltados com mais
explosões e carnificina no Médio Oriente? Mais crimes
ecológicos e assaltos a multibancos? Mais fome, especulação
económica, desemprego, trabalho-esmolar e corrupção?
Mais violência doméstica e assassinatos no nosso
rectângulo? Mais impostos encapotados e reformas minguantes?
Mais arbítrios, inconsequências e propaganda de um
governo, na sua essência, insuportável como os outros?
“Vemos, ouvimos e lemos, não
podemos ignorar”, como escreveu Sophia de Mello. No entanto, toda a
gente já só pensa e fala do Carnaval. Numa sociedade
cada vez mais dessacralizada, dessimbolizada, desprovida de ritos
apaziguadores saudáveis, tornam-se mais fortes os automatismos
virtuais, o seguidismo mimético, o ciclo brutal do consumismo
alienante calendarizado... E é por isso mesmo que o Carnaval
volta a ser Rei.
O mundo está mesmo desconsertado, meu Amigo...
ResponderEliminarO seu texto, excelente, é um motivo enorme de reflexão. Gosto sempre de o ler.
Uma boa semana.
Beijos.