Alguém escreveu um dia, que a
comunicação entre duas pessoas é sempre um diálogo a quatro vozes... E isto é
tanto mais importante quanto mais determinante se torna, neste tipo de relação
bilateral, a influência agreste dos desejos tornados inconscientes em ambas as
pessoas, quando comparada, aquela, com o diálogo verbalizado que eventualmente
possa ocorrer.
Vem esta reflexão a propósito da
mais recente notícia, veiculada pelos media globais, sobre os treze
filhos de um casal norte-americano que foram encontrados em casa, acorrentados
às camas, subnutridos e apagados nas suas capacidades de crescimento físico,
mental e psicológico, se fizermos fé nos relatos policiais. O casal declarou-se
já inocente.
Os seres humanos são, a um tempo,
energia (vida) e sensibilidade (consciência alargada), inteligência e memória
e, sempre que um bebé deixa de ser, sensitivamente, uma extensão do corpo da
mãe (não-Eu) experimenta um assomo de identidade, que não pode nem deve ser
tolhido, para poder medrar saudavelmente. É este o começo. O ambiente familiar
são os pais, mas, a sensibilidade destes não pode, sob pena de aniquilar os
filhos, ocultar-se e manifestar-se, simultaneamente, buscando a sua
auto-satisfação abusiva, através da expressão de duplos sentidos.
Não pretendemos, de todo, analisar a
família do exemplo mediatizado, por isso estamos a reflectir em termos gerais,
partindo, para isso, de um conjunto de noções educacionais que fomos adquirindo
ao longo de aturados anos de investigação... Fica a nota. Assim, sublinhe-se
que a dificuldade de conciliação entre as pulsões infantis e as exigências
culturais e de aprendizagem, não se liga apenas aos objectos internos e à
captação simbólica do desejo, mas, por maioria de razão, a objecção principal
surge pela influência dos fantasmas angustiantes projectados nas crianças pelos
desejos recalcados dos adultos.
O meio familiar e social dos filhos
que muitos não merecem ter, como temos referido, envolve e condiciona, capta e
reduz intrinsecamente as crianças e pesa sobre as suas cabeças como uma
terrível espada de Dâmocles, capaz de lhes traçar, da pior forma, o destino.
NOTA: Imagem do Google
NOTA: Imagem do Google
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