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Devemos
a Jean Piaget (1896-1980)
muito do que hoje conhecemos sobre o desenvolvimento mental da
criança: na sua actividade própria de sujeito, a
criança vai incorporando as pessoas e as coisas em seu redor.
Até aos dois anos, e através dos reflexos,
da organização das percepções e hábitos
e da inteligência sensório-motora,
a criança estrutura e aperfeiçoa a sua mente; constrói
ainda as categorias de objecto e de espaço, causalidade e
tempo; do pensamento sensório-motor ao lógico, do jogo
simbólico à interiorização da
reversibilidade e da reciprocidade, estas depois dos sete anos, a
criança cresce, desenvolve-se, caso exista amadurecimento e
consolidação de cada uma das fases anteriormente
vivenciadas.
Piaget
refere três, por excelência: a
fase da actividade sensório-motora,
a
da actividade representativa egocêntrica
e a
da actividade operacional.
É tempo, agora, de recordar o
aluno
X e
um relatório que elaborámos para o mesmo, para efeitos
de acompanhamento especial que não lhe seria concedido.
Contradições da massificação do ensino.
Rezava assim o documento:
O
aluno “X” enferma
de um acentuado défice cognitivo, que radica na débil e
apagada ambiência domiciliária, onde pontifica, apenas,
de forma esbatida e penúmbrica, a figura parental do avô
reformado, e da avó analfabeta.Tal como nos contos
tradicionais infantis, dos pais ninguém fala. O suporte
económico da família é a magra reforma do avô.
Avolumam-se as carências e são escassos os estímulos.
O
aluno X ficou já retido no 2.º ano de
escolaridade, uma vez. Transitou no ano anterior, em nome de uma
estratégia pedagógica de incentivo, que visou envolver
a criança num clima de confiança e de total aceitação,
sem estigmas nem preconceitos.
As
dificuldades, no entanto, são de tal ordem, numa linha de
incapacidade de racionalização (memorização,
relativização e inferição) das matérias
mais elementares ministradas que, chegamos a suspeitar de problemas
muito mais sérios… obviamente, não vamos aqui
defini-los.
O
aluno X lê com alguma desenvoltura, mas fá-lo
mecanicamente. Não interpreta, ou fá-lo deficiente e
incompletamente. Não redige; copia com inúmeros erros
e, gramaticalmente, não aferiu nada.
O
aluno X regista alguns rudimentos de Matemática ao
nível do 2.º ano de escolaridade, mas esquece com o
passar do tempo. O mesmo se verifica com o Estudo do Meio.
Nesta
conformidade, torna-se urgente garantir a esta criança apoio
especializado e, conforme temos vindo a aconselhar desde o 1.º
ano de escolaridade, o aluno X deverá ser objecto de
acompanhamento neuro-pedopsiquiátrico. Tal não
aconteceu... Contradições da massificação
do ensino.
Meu querido
ResponderEliminarA tutela não imagina o que se passa e julga tudo pela sua vivência, que não tem nada a ver com o comum dia a dia de Portugal.
Esperemos dias melhores.
Talvez o teu artigo seja lido por alguém influente que, pelo menos, tenha a curiosidade de vir ver o que se passa. Quem sabe?!
Gostei muito do texto que reflecte uma realidade vivida/sofrida pelos professores há muitos anos.
Um beijinho
Mana