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As
relações humanas estão repletas de interacções
problemáticas, sejam elas meramente disfuncionais, isto é,
arredias, conflituosas, chantagistas, persecutórias ou, então,
calculadamente cínicas, mordazes, arrogantes, desgastantes. A
Convergência dos Afectos (temática
já abordada neste blogue), no entanto, também
vai sendo possível, desde que se reúnam as condições
necessárias e suficientes para o efeito.
Na
obra Notes on Some Schizoid Mechanisms (1952),
Melanie Klein faz-nos compreender por que razão somos, por
vezes, alvo do mau feitio do outro – Identificação
Projectiva: esse mau self
incide em nós, por evacuação, ficando aí
alojado... nós, que para o outro (sujeito) não somos
mais do que simples objectos relacionais onde facilmente são
projectados os conteúdos nefastos e insuportáveis da
sua emocionalidade delirante.
A
mesma autora, em 1955, escreveu On Identification,
revelando a segunda face desta mesma moeda, o que vale por dizer que
a Identificação Projectiva pode ser também
comunicatica, empática e apaziguadora se se verificar num
contexto de envolvência salutar e harmonia.
No
ano de 1962, Wilfred Rupert Bion, na obra Learning from
Experience, desenvolve a noção
de continente-conteúdo,
firmando-se nos ensinamentos de Klein. Simplificando: tudo quanto nos
aborrece, desespera ou enlouquece, da mesma forma que tudo quanto nos
encanta, seduz ou derrete cabem, enquanto conteúdos
conceptuais, na Identificação Projectiva que é
passível de ser alojada num continente. Klein
referira antes a capacidade do bom seio materno ser susceptível
de, por identificação projectiva, receber e transformar
os medos e misérias infantis, para que estes fossem depois
removidos, reintrojectados e bem tolerados pelo bebé.
Se
recordarmos o escrito a que demos o título “A Solidão
e o Vazio Afectivos”, o fenómeno da Identificação
Projectiva operou na criatura em causa os seus manifestos estragos,
porque reflecte “atribuições encadeadas, nas quais o
filho permanece cativo da economia defensiva parental”, podendo
ainda o descendente ser transformado “numa extensão
narcísica do self
parental, ou, visando ainda perpetuar a estagnação do
passado relacional parental (avós) internalizado pelos pais
(Zinner & Shapiro cit. por Fleming 2004, p.65)... Tudo isto é
muito mau!
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