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Na breve reflexão que aqui partilhámos com o leitor sobre as Famílias
Numerosas, abordámos não só as várias particularidades e situações de
facto que ocorrem no âmbito da diversidade das constelações do universo
familiar (número de nascimentos, idades, sexos, etc.), mas também o que diz
respeito à ausência de individuação, sem a qual não existe educação; ao
generalizado estado de abandono e desorientação psíquica dos filhos (este
persiste pela vida fora), que radica na falta de atenção e intimidade familiar,
que os progenitores tentam sempre branquear, mas que configura, na prática,
rejeição, inaceitação e ignorância; enfim, à (i)rresponsabilidade dos pais no condicionamento
e (des)valorização do clima familiar, enquanto viveiro privilegiado de
experiências únicas e irrepetíveis verificadas entre irmãos e irmãs.
Hoje, contudo, é
o(a) filho(a) mais novo(a) quem está na berlinda. Falamos do último a nascer;
do caçula – do quimbundo, Ka´zuli: este, tanto pode ser o mais
acarinhado como o que é posto de lado! Se, por um lado, esta criança pode,
eventualmente, significar a concretização viva de um último sopro de
masculinidade e feminilidade do casal; um reviver das delícias relacionais,
pueris, ternas e cândidas, que só um bebé consegue reactivar nos pais, por
outro lado, pode levar a mãe – imatura – a desleixar a emancipação dos mais
velhinhos. Pais há, também, que se rendem aos encantos do novo rebento,
dispensando-lhe cuidados exagerados, brinquedos supérfluos e em excesso, e
afectos sufocantes, em detrimento de uma equlibrada gestão educacional do
conjunto de todos os descendentes.
Com os mais
velhos entregues que estão às suas vidas de estudantes e à sua aprendizagem
social externa à família (inter-pares), o(a) mais novo(a) estende e retarda a
sua infantilidade que, curiosamente, se mescla com uma mal definida
adolescência adulta, até porque os pais vão perdendo o vigor da adultícia
discernida e actuante. No seio da família verifica-se ainda um outro fenómeno
de incongruência relacional-fraternal, a determinar no mais novo uma certa
confusão diferenciadora e perturbação identitária, que impedem a estruturação
da personalidade: os irmãos olham-no complacentes, ternos e afectuosos, como se
de um boneco de estimação se tratasse, mas procuram valorizar-se junto dele,
comportando-se de forma autoritária.
Por último,
recordamos a situação mais terrível: a gravidez ocorrida no âmbito da
perimenopausa. Esta é tardia, sem deixar de constituir um risco elevado; depois
dos 40 anos (impõe-se aqui a contracepção) é passível de provocar abortos
espontâneos, malformações no feto, mortalidade materna e perinatal, acidente
trombo-embólico depois do parto (cesariana); ademais, provoca nos progenitores
redobrados receios, tensões e angústia, face a tão inesperada ocorrência, que
se opõe, portanto, ao quadro mental vivenciado aquando do anúncio de um
primeiro filho. Não raro, este filho derradeiro vem complicar as finanças, a
logística e a própria dinâmica do lar familiar.
Quer se queira
quer não, numa situação deste tipo a criança é inconscientemente rejeitada, o
que precipita um quadro de insuportável ansiedade, e, para contrariar a
culpabilidade que esta gera, os progenitores são induzidos em comportamentos
disfuncionais de carácter obesessivo, de sufocação, omissão ou abandono, seja
afectivo, intelectual ou material. Eles que já se ocupavam dos netos... mas,
caso existam irmãos mais velhos ainda em casa, a grande diferença de idades
nunca será boa conselheira. Na situação familiar do mais novo, tão delicada
quanto actual, congratulemo-nos, no entanto, com as excepções à regra.
Filhos que chegam tarde, quando os outros já são crescidos, são tratados de modo diferente para o bem e para o mal. O seu texto põe bem o "dedo na ferida"... Gosto sempre de o ler.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.