A
propósito de um conteúdo fílmico de 2017,
apresentado ontem (01 de Março de 2020), em horário
tardio, pelo canal televisivo que a população do
rectângulo financia coercivamente, diremos apenas que
desligámos o receptor, não só profundamente
decepcionados, mas também incontornavelmente incomodados.
Perante algo tão sórdido, não conseguimos
perceber de que serviço público fala o tal canal.
O
título da projecção aludia a “O Fim da
Inocência” e apresentava um grupo de adolescentes,
pertencente à classe abastada, em contexto do mais completo
desnorte, vítimas do império
dos sentidos, no
âmbito da já estafada e degenerada triologia – sexo,
drogas e rock`n`roll, tornada moda pela decadente sociedade do
espectáculo, e, modernamente, a funcionar pela acção
tenebrosa da omnipresente globalização.
A
globalização, ao contrário do que se possa
pensar, significa isolamento multitudinário, porque anula a
subjectitividade relacional de cada um; a globalização,
por ser omnipresente, destrói também o tempo de
estruturação e maturação dos corpos e das
almas; a globalização, por se apresentar como a
mensageira do pensamento único, impede a reflexibilidade e a
consciência moral dos indivíduos, agora formatados pelo
panegírico do colectivo.
Cada
vez mais, face ao descalabro social, político e económico
do Ocidente, o
fim da inocência
voltou, porque não se aprendeu nada com os miseráveis
factos ocorridos ao longo da Segunda Guerra Mundial; porque os
governos escamoteiam deliberadamente o papel da Educação;
o papel da família; a necessidade do Homem se transcender, já
que não é um simples bicho que se rege tão-só
pelos instintos.
Vergadas
sob o peso da ansiedade, as crianças são separadas
prematuramente das mães, em nome do falso progresso, onde se
confundem identidades, estatutos e papéis, com perdas
regressivas e de dependência comportamental dos recém-nascidos,
cada vez mais próximos do cão e do gato. As exigências
laborais tornam as mães ainda mais ansiosas – omissas ou
hiperprotectoras, remetendo os filhos para o fosso da carência
emocional. A aversão, a fobia ou a inadaptação à
escola vão fazendo escola.
Está
aberto, desde o berço, o caminho para a ansiedade neurótica
na adolescência e na adultícia; está trabalhado o
chão dos vários trantornos de personalidade
psicotizada, marcados por inevitáveis surtos limítrofes
de descrença pessoal, que a organização mental
compensatória procurará suprir, de forma desviante e
heterodoxa, como no enredo do deplorável filme a que (não)
assistímos, em horário tardio, no canal oficial do
rectângulo.
Nota: Sobre o mesmo filme, aceder à crónica:
https://maranduvaline.blogspot.com/2017/12/subsidios-para-debater-adolescencia.html
Perfeito teu texto, Humberto! Penso eu que a mudança forte na sociedade começou com os Hippies, onde a conhecida e degenerada triologia sexo, drogas e Rock and Roll se juntaram. E daí pra frente... deu no que deu até hoje. Nesse período havia respeito e ordem nas salas de aula. Os professores eram os mestres! Não havia Internet, mas os jovens eram felizes e menos encucados. Tinham tempo para viverem a época. Hoje, por vários fatores temos muitos jovens e adultos extremamente carentes e doentes. Ainda essa semana escutei de uma jovem que gostaria de ter ido, quando criancinha ainda, para uma creche - para se sociabilizar, acha que é muito tímida. Que loucura, mas tem disso. Os valores mudaram muito. Os sentimentos mudaram. E depois veio o feminismo cuja mãe era ausente, trabalhava o dia inteiro e os filhos nas creches. Alguma coisa tinha de decair nessa educação. E patologias estão por aí espalhadas. Não mando contra nada, a evolução dos tempos temos de aceitar, mas se fosse tudo com tempo e mais moderação nas ligações, o mundo globalizado não estaria tão carente e com populações tão doentes.
ResponderEliminarBeijo, uma boa semana, Humberto!
Estamos em sintonia, Taís. E então, o seu comentário, denota uma capacidade discernente ímpar. Apreciei, sobremaneira, a referência à revolução dos costumes, encetada nos anos de 19(60) pelo movimento Hippy.
ResponderEliminarUm beijo.
He leído a medias la nota sobre la película "El fin de la inocencia"
ResponderEliminarTe sugiero que pongas en tu blog el traductor de Bloger, ya que muchos de tus términos no los lograba entender. Dentro de lo que leí, estoy de acuerdo que en el cine, muchas veces, se muestra lo peor del ser humano.
Saludos.
Sé poco sobre computadoras; Solo lo básico. Para traducir, le sugiero que haga lo que yo hago, use el "Traductor de Google". Besos
ResponderEliminarAgradezco la visita a mis escritos.
Não vi o filme, mas concordo em absoluto com o que diz no seu excelente texto. Aquilo que era negativo na sociedade em meados do século passado tem sido sucessivamente ampliado.
ResponderEliminarUm bom fim de semana, caro Humberto.
Abraço.
Com efeito, amigo Jaime. Só não vê quem não quer. Bom fim-de-semana.
EliminarAbraço.