O
ser humano – qualquer ser humano – tem necessidade absoluta de sentir que vive
uma existência pautada pela autenticidade, a saber, quando esta diz respeito ao
próprio, sem desvios nem distorções, e, portanto, eivada de verdade e
sinceridade autoral. Contudo, o quadro não estaria completo se, por acaso,
faltasse uma outra componente indispensável ao comportamento humano saudável:
trata-se da espontaneidade – qualidade que leva o sujeito a agir de forma
natural e voluntária, isto é, de moto-próprio, em função dos seus interesses
pessoais, mas sem prejuízo de ninguém. Por último, e para que a vida não deixe
nunca de fazer sentido, importa que o indivíduo – que é um ser social – saiba
assumir o seu papel criativo face aos demais, privilegiando atitudes,
interacções, idiomatizações construtivas, edificantes, convenientemente
diferenciadas e originais, sempre que se lhe deparem situações novas no devir
do quotidiano.
Não obstante tudo isto, é
precisamente no dia-a-dia das comunidades que mais se constatam atropelos à
liberdade do outro, devido à complexa teia de interesses em confronto, à total
ignorância de referências éticas e morais, à recusa de reflexão sobre a
realidade histórico-filosófica que constitui o entorno onde se plasmam tais
sistemas de intersubjectividade relacional. Ora, a percepção que temos do outro
é-nos dada não só pelas sensações imediatas, mas também pelo capital de
aprendizagem que vamos acumulando ao longo da existência, sabendo ser e estar
através dum constructo com referências atinentes ao espaço e ao tempo,
onde caiba o sujeito (soma e espírito), capaz de se afirmar livremente, sem
prescindir da legitimidade do seu próprio projecto de vida.
Contra tudo e contra todos, cada vez
mais difícil tem sido suportar os cantos de sereia que vão ecoando por todo o
lado, a torto e a direito, sem dó nem piedade, e que vão transtornando as
cabecinhas de quem dá mais importância à
alienação digital e às dependências várias, em detrimento dos livros, da
leitura, da Escola – isso, com “E” maiúsculo –, do desporto,
recorrente e racional quanto baste para ser salutar, das conversas mental e
afectivamente revitalizadores, claro, frente-a frente, face-a-face (vade retro,
on-line), dos serões em família, para que os filhos possam ser merecidos e
saibam aprender a merecer os pais.
Claro, tudo isto tem a ver com as
relações humanas, mas não caiam no absurdo e no ridículo de esgrimirem lutas
balofas, espectacularmente decadentes, esquizofrénicas, onde tudo se confunde
para melhor confundir os incautos, utilizando a lixiviação da palavra escrita,
banindo-a, simplesmente, abastardando-a, mutilando-a ou negando-lhe a sua
própria história, a sua etimologia, como se tudo fosse à vontade do freguês
bacoco e ignorantão. Sim, a referência é, também, àquela empresa francesa que
deixou de escrever nos seus produtos de limpeza a palavra “branquear”, para não
ser vista como racista (?!!!). Acham que deva eliminar a palavra “claro”, no
início deste parágrafo?!
Imagem do Google
Desconhecia o facto dessa empresa francesa.
ResponderEliminarRidiculo
Boa semana
Clarear, branquear, o céu está escurecendo...pois é, Humberto, tenho visto tantos absurdos, coisas tão bobas em que uma parte da sociedade sem nada para fazer de verdadeiro, de palpável começam ver coisas onde não existem. Colocam preconceito em tudo, e onde não existe. Há milhões de pessoas que não dizem uma palavra e seus corações estão cheios de negativismo e sentimentos racistas. Tá difícil de entender isso. A palavra claro não incomoda ninguém e nem coisa nenhuma. O que incomoda são as atitudes e as intenções, não dá para colocar tudo no mesmo saco.
ResponderEliminarGostei de ler!
Uma ótima semana
bjus
A qualidade das relações humanas são, afinal, um dos bons indicadores que definem a sociedade. E espontaneidade é coisa que não abunda no comportamento humano, a qual quase só se manifesta nas crianças.
ResponderEliminarCá para mim, a empresa francesa retirou a palavra "branquear" com medo que alguém utilizasse o seu produto nos capitais... eheheh... que é crime...
Excelente crónica, gostei muito da abordagem.
Bom fim de semana, caro Humberto.
Abraço.