segunda-feira, 23 de setembro de 2013

NADA MUDOU EM DOIS ANOS!

      Na segunda sexta-feira do décimo mês do transacto ano de 2011, a RTP entrevistou o grande António Lobo Antunes. Que prazer, meu Deus, ouvir falar homens como ele! A entrevistadora eclipsou-se, enfim... A estação pública não conta com grande elenco jornalístico, de resto, mas, neste caso, ainda bem, porque pudemos todos (?!) assistir a uma espécie de monólogo de confidências avisadas e sábias, entre outras coisas, sobre a cultura que o poder despreza; a escrita original, inventiva e criteriosa que a educação persegue... Mellhor dizendo – hostiliza; a criatividade e o talento que a comunicação social ignora ou combate.

         Nesse mesmo dia, 14 de Outubro de 2011, os três canais generalistas nacionais de televisão dedicaram os seus tempos noticiosos à divulgação de mais uma bomba fragmentária da economia nacional; outro tanto fizeram os respectivos canais noticiosos, tendo para o efeito chamado os vários oráculos nacionais, para comentários meramente flutuantes, condicionados, contidos e medíocres, sempre desinseridos do real contexto global em que tudo isto se plasma.

      Ainda nesse dia, sexta-feira - 14... Que sorte 13 ter sido na véspera!... A RTP2 iniciou um conjunto de episódios sobre os bárbaros acontecimentos ocorridos durante o gigantesco conflito armado despoletado por Hitler e Estaline, essa dupla macabra que, em meia dúzia de anos, viria a mudar drasticamente o rumo da História, ao nível planetário.

        No dia seguinte, sábado - 15, pude observar, nos jornais televisivos das 20 horas, as dramáticas marchas, ditas de indignação, em praticamente todo o mundo, onde os que nelas participam, e muitos outros, por certo, ainda que ausentes, protestam contra os sórdidos e brutais ataques dos mercados – “Goldman Sachs”, “Deutsch Bank” e outros megabancos –, visando as indefesas economias dos países mais vulneráveis, sem apelo nem agravo.

     A hipocrisia comburente do turbo-capitalismo-selvagem prossegue inexorável, cínica, corrosiva, aniquilando tudo e todos, de forma inicialmente lenta e gradual; desdobrando-se numa multiplicidade de acções cada vez mais progressivas e rápidas com o correr do tempo, diferindo apenas dos métodos e estratégias nazis, no que diz respeito ao subreptício, gradativo, subtil e difuso engenho de que se serve para operar.

       Hitler e Estaline eram broncos, brutos, crueis, grosseiros, sádicos, criminosos, abomináveis, rápidos e letais, mas, no fundo, pretendiam o mesmo que os mercados hoje buscam, porque, salvaguardadas as distâncias temporais e ideológicas, aqueles queriam dominar o mundo através da usurpação de coisas tão simples e fundamentais como a liberdade, a coesão social, a independência e autonomia pessoais e económicas de cidadãos e países, fossem eles quais fossem; estes têm vindo a espoliar esses mesmos países e cidadãos exactamente do mesmo, através, como já disse, de processos diferenciados, mas que desembocam na mesma fétida e repetida cloaca do execrável “déjà vu”, agora reinventado, de um renovado e decadente esclavagismo, civilizacionalmente deplorável e retrógrado.

NOTA 1: Estaline viria a juntar-se aos Aliados, precocemente, para o bem e para o mal, depois de traído por Hitler.

NOTA 2: net pic.

1 comentário:

  1. Querido Zé
    Que óptimo artigo!
    Da violência física,passamos à violência que a falta de dinheiro provoca. No fundo,atinge-nos,de novo,o físico.
    Nada mudou. Só que aqueles em que acreditávamos,traíram-nos,por puro egoísmo.
    Até onde iremos?!!!
    Muitos parabéns:em verso ou em prosa,és sempre surpreendente.
    Beijinhos da
    Mana

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