Na
segunda sexta-feira do décimo mês do transacto ano de
2011, a RTP entrevistou o grande António Lobo Antunes. Que
prazer, meu Deus, ouvir falar homens como ele! A entrevistadora
eclipsou-se, enfim... A estação pública não
conta com grande elenco jornalístico, de resto, mas, neste
caso, ainda bem, porque pudemos todos (?!) assistir a uma espécie
de monólogo de confidências avisadas e sábias,
entre outras coisas, sobre a cultura que o poder despreza; a escrita
original, inventiva e criteriosa que a educação
persegue... Mellhor dizendo – hostiliza; a criatividade e o talento
que a comunicação social ignora ou combate.
Nesse
mesmo dia, 14 de Outubro de 2011, os três canais generalistas
nacionais de televisão dedicaram os seus tempos noticiosos à
divulgação de mais uma bomba fragmentária da
economia nacional; outro tanto fizeram os respectivos canais
noticiosos, tendo para o efeito chamado os vários oráculos
nacionais, para comentários meramente flutuantes,
condicionados, contidos e medíocres, sempre desinseridos do
real contexto global em que tudo isto se plasma.
Ainda
nesse dia, sexta-feira - 14... Que sorte 13 ter sido na véspera!...
A RTP2 iniciou um conjunto de episódios sobre os bárbaros
acontecimentos ocorridos durante o gigantesco conflito armado
despoletado por Hitler e Estaline, essa dupla macabra que, em meia
dúzia de anos, viria a mudar drasticamente o rumo da História,
ao nível planetário.
No
dia seguinte, sábado - 15, pude observar, nos jornais
televisivos das 20 horas, as dramáticas marchas, ditas de
indignação, em praticamente todo o mundo, onde os que
nelas participam, e muitos outros, por certo, ainda que ausentes,
protestam contra os sórdidos e brutais ataques dos mercados –
“Goldman Sachs”, “Deutsch Bank” e outros megabancos –,
visando as indefesas economias dos países mais vulneráveis,
sem apelo nem agravo.
A
hipocrisia comburente do turbo-capitalismo-selvagem prossegue
inexorável, cínica, corrosiva, aniquilando tudo e
todos, de forma inicialmente lenta e gradual; desdobrando-se numa
multiplicidade de acções cada vez mais progressivas e
rápidas com o correr do tempo, diferindo apenas dos métodos
e estratégias nazis, no que diz respeito ao subreptício,
gradativo, subtil e difuso engenho de que se serve para operar.
Hitler
e Estaline eram broncos, brutos, crueis, grosseiros, sádicos,
criminosos, abomináveis, rápidos e letais, mas, no
fundo, pretendiam o mesmo que os mercados hoje buscam, porque,
salvaguardadas as distâncias temporais e ideológicas,
aqueles queriam dominar o mundo através da usurpação
de coisas tão simples e fundamentais como a liberdade, a
coesão social, a independência e autonomia pessoais e
económicas de cidadãos e países, fossem eles
quais fossem; estes têm vindo a espoliar esses mesmos países
e cidadãos exactamente do mesmo, através, como já
disse, de processos diferenciados, mas que desembocam na mesma fétida
e repetida cloaca do execrável “déjà vu”,
agora reinventado, de um renovado e decadente esclavagismo,
civilizacionalmente deplorável e retrógrado.
NOTA 1:
Estaline viria a
juntar-se aos Aliados, precocemente, para o bem e para o mal, depois
de traído por Hitler.
NOTA 2: net pic.
Querido Zé
ResponderEliminarQue óptimo artigo!
Da violência física,passamos à violência que a falta de dinheiro provoca. No fundo,atinge-nos,de novo,o físico.
Nada mudou. Só que aqueles em que acreditávamos,traíram-nos,por puro egoísmo.
Até onde iremos?!!!
Muitos parabéns:em verso ou em prosa,és sempre surpreendente.
Beijinhos da
Mana