Ainda
Paulo Freire e as suas teses educacionais, no prosseguimento do
escrito de há oito dias. Afirmava este grande pedagogo e ser
humano: se se quer que o homem actue e seja reconhecido como sujeito;
se se pretende que ele faça a história em lugar de ser
levado por ela, e se se procura que ele participe de forma activa e
criadora, então é importante prepará-lo para o
efeito, através da Educação autêntica que
conduza à liberdade não condicionante, não
escravizante. Isto obriga a rever, a partir das bases, os sistemas
tradicionais educativos, quer ao nível dos programas quer ao
nível dos métodos.
A
realidade só pode ser modificada se o homem descobrir que ela
o pode ser, e que tal desiderato pode ser protagonizado por ele. É
desta tomada de consciência que surge o primeiro grande
objectivo da educação, traduzido, antes de mais, na
necessidade de desencadear uma atitude crítica, de reflexão,
de empenhamento, de acção.
A
consciência crítica só pode ser despertada se se
utilizar um método activo, suportado por um diálogo
intenso e esclarecido, que torne participantes tanto os que querem
aprender como aqueles que os querem ajudar nisso mesmo. O diálogo
deve ser sempre mantido numa relação horizontal,
consubstanciando uma permuta entre dois seres; uma relação
que envolva amor, humildade, esperança, confiança
mútua, numa linha de comunicação equilibrada e
profícua, que gere por si só uma atitude crítica
fecunda.
“Uma
educação que não é feita pelo diálogo
– no dizer de Paulo Freire – mata o poder criador, não só
de quem educa mas também do educador”, na medida em que este
se transforma em alguém que impõe regras e fórmulas
passivamente recolhidas pelos seus alunos. Ninguém cria... nem
quem impõe nem aqueles que recebem as imposições.
Ambos os lados se atrofiam. É a negação do
próprio processo educativo. A educação –
continua Paulo Freire –, sendo um acto de amor, é, por isso
mesmo, um acto de coragem.
A educação não pode
temer o debate e a análise das realidades. Não pode
evitar as discussões criadoras, sob pena de ser uma farsa. Na
educação tradicional não são permutadas
ideias – são ditadas. Não debatemos nem discutimos
temas; não trabalhamos com o educando, mas trabalhamos sobre
ele. Propomos-lhe uma ordem à qual não adere, mas a que
se ajusta. Não é possível com uma educação
deste género preparar homens que se integrem num impulso de
democratização, dificultando ou mesmo impedindo a
“entrada do povo na vida pública”.
(Até
para a semana!)
net pic
Olá Manel, meu querido amigo,
ResponderEliminarGosto de te "ouvir" nestas cogitações pedagógicas que tão bem sabes explanar.
Claro que só teme o diálogo, a participação, o debate quem não é capaz de dirigir e aceitar conceitos de outrem por variados motivos. Aqui fizeste-me reviver as minhas aulas de português em que na descodificação de textos, sobretudo na poesia, os debates eram tão "acesos". criava um belo ambiente, o tempo passava e tudo saía a discutir as ideias de cada um...
Bom Natal
Aquele abraço
Concordo. Quando se participa da criação, somos mais parte dela e crescemos melhor a partir daí. Diálogo, envolvimento e emoção pela causa fará com que os resultados sejam melhores e a consciência mais objetiva e canalizada. A imposição, não cativa de forma alguma para a criação. Se fosse possível… assim, seria deveras maravilhoso. Talvez não interesse a quem decide, perder o controlo sobre as partes.
ResponderEliminarbji
Querido Mano
ResponderEliminarA legenda da fotografia de Paulo Freire diz tudo o que eu gostaria de exprimir.
A Educação chegou ao ponto em que está,porque não interessa às cúpulas que o Povo saiba discernir.
Fazes bem em escrever sobre o assunto,até porque,quem te lê,reflecte sobre o PROBLEMA,que eu considero incomensurável.
Felicito-te por isso.
Beijinhos
Nininha