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Numa
destas últimas tardes de domingo, estávamos nós em casa, tentando descansar um
pouco, após mais uma rudemente brutal semana de trabalho docente, administrativo
e de coordenação das sete escolas do agrupamento, ao qual se alia a
obrigatoriedade de correcção, avaliação e composição analítica ponderada de
todo um conjunto de relatórios, pareceres, planos e esquemas, num corrupio
demencial de obrigações inadiáveis quando, optamos por ligar o aparelho de
televisão, apenas para ver se algo seria susceptível de ser visto com algum
proveito. Tivemos sorte.
Um dos vários canais televisivos
estava a passar nesse momento, precisamente, um filme interessantíssimo, na
linha daquelas histórias infantis (contos tradicionais), sobre os quais já
temos escrito em outras ocasiões. Não acompanhámos a história desde o seu
início, mas pouco ou nada perdemos. Tratava-se de um conto lindíssimo sobre um
cavalheiro que era sustentado por uma tia rica e sem filhos, ele que acabava de
ficar viúvo depois do falecimento da esposa, em consequência do nascimento do
sétimo rebento do casal. Teria, no entanto, de voltar a casar, no espaço de um
mês, para não perder o apoio financeiro da tia. O problema prendia-se apenas
com os “pestinhas”, pelo que não havia ama que parasse lá por casa um dia que
fosse. Imaginem agora como ia aquele viúvo conquistar e cativar uma pessoa, de
forma a transformá-la em alguém que fosse muito mais do que uma simples ama!…
Bom, este era o enredo. Onde se pode então situar a problemática ligada ao
título do presente escrito?! Vejamos:
Um belo dia apresentou-se lá em
casa, como que por magia, ou seja, sem que as crianças o tivessem podido
prever, uma criatura, no feminino, feia, aparentemente gorda, de grosso nariz,
verrugas enormes na cara, um dente compridão que apontava para o exterior do
maxilar inferior, toda vestida de preto e, como toque dos seus poderes
fantásticos, exibia discretamente um bastão singularíssimo, que poderia servir
também de bengala. Intrigados, os miúdos não se deixaram, ainda assim,
intimidar e consertaram estratégias no sentido de escorraçar a nova ama.
Esta, dotada de inteligência
superior e argúcia, impôs desde logo a todas as crianças, sem falhas nem
quebras, um conjunto de normas disciplinares, sempre imbuídas de amor,
compreensão e sentido de justiça, que foram sendo cumpridas por todos, perante
o espanto, a admiração e, gradualmente, a aquiescência e até a gratidão de
todos os meninos e meninas, uma vez que era disso mesmo que necessitavam: a
segurança que, no fundo, a disciplina lhes ia conferindo. Reparem: disciplina,
com a tal dose de magia, isto porque disciplinar é saber impor a ordem, as
regras, as normas, os comportamentos, equilibrados com o toque mágico que só o
amor tem o condão de conseguir.
Evidentemente que, no início, quem
tenta colocar um grupo de crianças, alargado ou não, na ordem, é sempre visto
pelos miúdos como alguém incrivelmente feio, insuportável, mas, tal como no
filme, a fealdade da disciplina é algo que só percepcionamos no início. Depois,
tudo se esfuma e, quer o disciplinador, quer a “doutrina” que o mesmo veicula,
tornam-se não só belas mas também indispensáveis e perfeitamente inócuas.
Como seria importante, interessante e útil, também
nestes tão conturbados tempos que ora atravessamos (ainda agora acabamos de
escutar, na televisão, mais uma notícia arrepiante de um despiste de automóvel
onde pereceram quatro pessoas), conseguir extrapolar para a vida do dia-a-dia a
tal fealdade disciplinar que os portugueses teimam em combater, acabando por
bater nas suas próprias cabeças.
Também vi esse filme, meu amigo. Realmente a disciplina pode parecer "feia" mas é mais necessária do que podemos imaginar. Resistir-lhe não é a solução como podemos ver e sentir...
ResponderEliminarBeijos.