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Aquando
do lançamento do romance A Paixão e Ressurreição do Soldado
(Santos, 2014), alguém presente no evento dirigiu-se-nos para argumentar que a
obra não seria de cariz psicossocial, dado toda a trama gravitar,
fundamentalmente, em torno da personagem Francisco. Sim, claro – respondemos –,
mas convém não perder de vista que, para todos os efeitos circunstanciais,
oblíquos, o herói se move, relaciona e interage com outros indivíduos, em
contextos diversos, que vão da família às Forças Armadas, de pequenos grupos de
amigos às relações duais com as namoradas, passando ainda por certos momentos
de melancólicas cogitações a sós, resultantes das equações conjugadas,
conscientes e inconscientes, de certas vivências sociais empíricas (vivido
subjectivo). Psicossocial, sem dúvida!
Não nos encontramos, portanto,
perante uma obra que privilegia a análise comportamental, ou melhor, o estudo da
psicologia individual do protagonista, até porque, se assim fosse,
deparar-nos-íamos com uma realidade deveras estranha a tanger as raias da
loucura: o herói, despojado de humanidade, viveria isolado, falaria sozinho, ou
seja, estaria muito mais próximo de um qualquer bicho do deserto do que de um
ser humano inserido no todo comunitário, num dado período histórico-filosófico.
Em todo o caso, em que se traduz,
afinal, o comportamento singular dos indivíduos, ainda que visto em função de
reacções determinadas pelas suas necessidades intrísecas inelutáveis ou desejos
mais ou menos prementes, sejam estes legítimos ou ilegítimos? Tanto as
necessidades como os desejos, independentemente da pertinência das primeiras e
da (i)legitimidade dos segundos, uns e outros, quer no âmbito de contextos de
isolamento, quer no seio de enquadramentos colectivos, assumem resultados
diferenciados. No primeiro caso, o “quantum de afecto” (energia pulsional) que
investe, qualitativa (aversão ou atracção) e quantitativamente (intensidade),
as representações, pode satisfazer a pessoa em causa em toda a sua dimensão
subjectiva (princípio do prazer); no segundo caso, as representações são,
necessariamente, muito mais objectivadas (princípio da realidade).
Por último, resta-nos chamar a atenção do leitor para
uma terceira abordagem passível de ser levada a cabo pela moderna psicologia,
para além do enfoque psicossocial e da óptica psico-individual: trata-se da
psicologia de grupo. No seio do grupo (turma escolar, grupo de trabalho, equipa
de futebol, quadrilha, e outros ainda), e tendo em conta o perfil dos seus
elementos e a liderança mais ou menos espontânea a que cada grupo, mais tarde
ou mais cedo, se venha a submeter, os indivíduos adoptam comportamentos muito
mais ousados (responsáveis ou irresponsáveis), afirmando-se através da complexa
densidade do conjunto e da identidade introjectada do seu líder. Mas isto seria
já tema para um novo escrito!
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