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De
volta ao assunto (Alienação Parental), para, talvez, tentar concluir o
conjunto de ideias avançado em 22/06/2015, na primeira parte de tão melindrosa
matéria, cujo título não nos satisfaz, enfim..., mas na altura foi este: “O
teu pai (ou mãe) não presta”. Aí, procurámos chamar a atenção do leitor
para a importância da temática, quanto mais não fosse, pela gravidade que em si
encerra e pelas marcas profundas que deixa, nomeadamente nas crianças
envolvidas. Hoje, encetaremos a improvável conclusão deste escrito, e isto
porque a mesma só não é definitiva e manter-se-á sempre em aberto, devido à
perversidade (in)consciente levada a efeito por quem alimenta a teia
relacional, cuja interacção triangular disfuncional prejudica, acima de tudo,
os menores, por tempo indeterminado.
Modernamente, Wilfred Bion (discípulo
de Klein) chamou-nos a atenção para o papel do pensamento na
criança e da sua capacidade de pensar, no sentido de decidir e agir sobre o
real envolvente, sendo que aquela “significa ou pressupõe, precisamente, a
tolerância às emoções perante a distância que nos separa da verdade” (Dias
e Fleming, 1998: p. 168). Já Chomsky, Bruner e Vygotsky
– e Lacan, acrescente-se, tinham percebido a interacção tecida entre o
pensamento e a linguagem no âmbito da organização do conhecimento, conforme
lembra Aguilar (2006); ora, é nessa mesma medida que o progenitor custódio,
segundo o mesmo autor, condiciona e formata o psiquismo do filho alienado; e a
seguir elucida, falando de “Transtornos Dissociativos”: estes constam de
“uma alteração das funções integradoras da consciência, da identidade, da
memória, da percepção do meio circundante” (Aguilar, 2006: p. 78).
Seja como fôr, quanto pior estruturada
ou disruptiva se encontrar a personalidade do progenitor, pior influência o
mesmo exercerá na criança deixada à sua guarda. Simplesmente neurótico ou
marcadamente psicótico, esse indivíduo não descansará do objectivo de alienar o
menor, através de estratégias deploráveis caracterizadas por delírios de
perseguição, surgidos no período pós-divórcio; ideias delirantes induzidas
(sobre a criança); psicopatia (com denegação da realidade e delírios
alucinatórios), em casos mais extremos; frio calculismo manipulador e
chantagem, logo, desprovidos de sentimentos emocionais; vitimização e
reivindicação de papel insubstituível na guarda do menor, num quadro de
subjectividade narcisista absolutamente primário; isolamento e quebra de
vínculos vitais ao desenvolvimento, inserção, identidade, pertença e afirmação
do menor em risco profundo.
Evidentemente que tudo isto tem
consequências, a vários níveis, no dia-a-dia das crianças: agressividade ou
abulia, fastio ou excessos alimentares, flutuação de humores, problemas
digestivos, insónia, perda de auto-estima, inadaptação, ansiedade,
culpabilidade, dificuldade de concentração escolar, etc., e, mais tarde, quando
adultos, estes indivíduos, necessariamente portadores de personalidades
doentias e desestruturadas, podem repetir os mesmos erros de quem os tutelou.
As crianças têm necessidade de
modelos válidos, coerentes e equilibrados e essas figuras modelares, sempre que
possível, devem ser os pais, porque são estes os melhores elementos de
idenfificação. A Psicanálise aponta a mãe como a “rêverie”, o
apaziguamento, e o pai como a “lei”, a representação dos
interditos, caso as relações conjugais se mantenham estáveis e
profícuas. É que esse mesmo estatuto de “lei” só pode ser validado pela
mãe. Sendo assim, quanto mais a sociedade ocidental “evoluir”,
afastando-se deste quadro de estabilidade familiar, mais nos será dado perder. É que vamos
assistindo à descaracterização, por défices cognitivos de base, impreparação ou
inércia, das formas de educar, onde os meninos manobram os pais a seu
bel-prazer, não tendo horas para as refeições, para sair da cama, para dormir,
para navegar na internet, para estudar... Nos shoppings e nos
hipermercados são os rebentos quem decide o que os progenitores terão de pagar
e levar para casa... Depois tudo se desmorona e a culpa é sempre do outro; quem
não desenvolveu competências pessoais e sociais (educacionais ?), em contexto
de amadurecimento psico-afectivo, não pode educar seres responsáveis, autónomos
e emancipáveis. É na ambiência salutar do grupo familiar onde impera a
convergência dos afectos com sentido que é possível respirar as componentes
identitárias e de afirmação que balizam o desenvolvimento sadio da criança,
exactamente, num quadro de interacção integral, integrada e íntegra.
Falar das crianças. Que assunto difícil e controverso, meu Amigo. Mas você domina muito bem estes assunto e é um gosto lê-lo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Beijos.