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Dizia-nos,
há dias, uma pessoa das nossas relações, que a
humanidade está no fim da linha; em fim de ciclo... Resta
saber se outro ciclo se seguirá, dizemos nós – não
tanto por tudo quanto o bicho-homem faz a si próprio, mas
principalmente pelas agressões diabólicas perpretadas
contra a nossa morada-única-planetária. Foi esta a
resposta apresentada, e acrescentámos que a humanidade foi
sempre autofágica e persecutória, mas com o decorrer
dos séculos tem vindo a apurar, com subtileza e sofisticação
– aliados a um crescente sadismo e fúria destruidora, as
mais modernas ferramentas capazes de fabricar
(progresso oblige)
os mais letais e aniquiladores equipamentos bélicos, de resto,
em consonância com a génese antropológica
da tirania e do ávido desejo de poder.
Independentemente de tudo quanto se
passa, isto é, para lá de todos os factos ocorridos,
cujo crescendo se deve ao já apontado progresso, o
conhecimento dos mesmos, nos nossos dias, que não no passado,
com carácter omnipresente e em tempo real, por força
das novas Tecnologias de Informação e Comunicação,
provoca nos indivíduos uma sensação de
inexorabilidade, de carga insuportável, de dinâmica
imparável, de agitação permanente, ou seja, de
angústia existencial que a pequenez, insegurança e
finitude humanas facilmente ratificam e consolidam.
Quem
teve, afinal, ao tempo, ou tem mesmo hoje, noção da
forma bárbara, cruel, demoníaca, cínica, sádica
como eram tratadas, usadas e abusadas as crianças (omitiremos,
por agora, os adultos) nos séculos XVIII e XIX, pelos próprios
pais, patrões ou instituições de acolhimento
(?!). À data, as mulheres eram apenas propriedade dos maridos,
máquinas de fornicação ou poedeiras de serviço,
sem nenhuns direitos sobre os filhos. Os progenitores usavam e
abusavam dos direitos que a própria lei lhes outorgava e
chegavam a ter comportamentos animalescos em relação às
crianças. Em Inglaterra,
país industrialmente desenvolvido na época, só
em 1908
é que o Supremo
Tribunal de Justiça
promulga a primeira Children
Act,
visando corrigir certos excessos paternos.
Nos
dois séculos anteriores, as crianças eram obrigadas a
trabalhar nas fábricas horas a fio, mal dormidas e mal
comidas, acabando a maioria por morrer devido a doenças ou por
invalidez irreversível. No ano de 1802,
uma
lei reduziu para 12
(doze) horas o trabalho das crianças nas fábricas de
têxteis,
e impôs que os patrões respondessem pelo alojamento,
comida, ensino da leitura e da escrita aos seus minúsculos
escravos... Sir
Robert Peel,
parlamentar e industrial de Lancashire,
foi o autor da novidade, convencido de que assim aumentaria a
produção. Mais tarde, em 1819,
Robert Owen pressionou Peel
a constituir uma comissão de inquérito que avaliasse as
condições do trabalho infantil nas fábricas de
algodão. O resultado foi a publicação de uma lei
que só permitiria o
trabalho para maiores de 9 (nove) anos, ficando os menores de
dezasseis anos obrigados a trabalhar treze horas e meia por dia (?!).
Tudo
isto não passava de uma grande fantochada: o estado não
tinha ascendência sobre os patrões, os pais suspiravam
pelos salários, por mais miseráveis que fossem, e os
fiscais não actuavam; também não havia certidões
de nascimento – obrigatórias apenas depois de 1837.
Quatro anos antes, em 1833,
o Governo procura proteger mais as crianças e, o deputado
Lord Sadler,
substituído depois por Lord
Ashley (Shaftesbury),
encolheu para dez
horas diárias o trabalho para menores de 18 (dezoito) anos,
não obstante a musculada resistência dos patrões.
A Lei Comercial de
1844
estabeleceu já
diferenças de vulto – o trabalho teria de alternar com a
frequência escolar. Em 1918, a lei impôs a diferenciação
entre o trabalho e a escola. A criança passaria a ser
encarada, gradualmente, como sendo gente,
mas...
(...)
em 1933,
a Children and
Youg Persons Act proibe
a crueldade para com as crianças, contudo permite os castigos
corporais... Uma no cravo, outra na ferradura! Na Alemanha,
entretanto, Hitler destilava veneno. Já agora, recorde-se que
na era industrial não existiam normas nem cuidados ecológicos,
nem saneamento, nem água canalizada nem esgotos, nem a Declaração
Universal dos Direitos do Homem,
nem muitas outras coisas pretensamente reequilibradoras... as pessoas
morriam aos milhares... a comunicação era escassa,
lenta e distorcida... Penso que, ao longo da História,
sempre estivemos no fim da linha; em fim de ciclo, ainda que nunca o
soubéssemos...
E o pior é que a Humanidade parece estar a regredir... As crianças continuam a ser maltratadas e exploradas. Muitas mulheres continuam a ter que lutar por ter uma vida digna, sem serem agredidas ou mortas.
ResponderEliminar"A humanidade foi sempre autofágica e persecutória, mas com o decorrer dos séculos tem vindo a apurar, com subtileza e sofisticação – aliados a um crescente sadismo e fúria destruidora, as mais modernas ferramentas capazes de fabricar (progresso oblige) os mais letais e aniquiladores equipamentos bélicos, de resto, em consonância com a génese antropológica da tirania e do ávido desejo de poder." Não posso estar mais de acordo. Gostei de ler o seu texto.
Uma boa semana.
Um beijo.
A Hisória é ciclica, o Homem continua como apareceu ou foi criado (depende em que se acredita).
ResponderEliminarAgora apenas nos diferencia a tecnologia.
Beijo