quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

AMAR É LIBERTAR



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       Vivemos, hoje, na Europa, em países – uns mais, outros menos – elaboradamente democráticos; preocupadamente sociais; economicamente racionais e contidos... Enfim, arduamente civilizados. Mas, como tudo isto contrasta com o resto do mundo, temos sido, de forma progressiva – ou melhor: galopante –, nos mais recentes anos, objecto do desejo – não sei se obnubilado, se indefinido; se desesperado, se de sobrevivência, dos povos e das gentes que, em outras paragens próximas/distantes se vão agarrando a um certo imaginário simbólico inconsciente, representado pelo nosso continente, face à rudeza brutal e sanguinária de facções que nas suas terras os perseguem, torturam, escravizam e matam. Assim vai o mundo!

     Trata-se, portanto, não da cultura da liberdade e do amor; da tolerância e da fraternidade; da solidariedade e do altruísmo; mas antes, isso sim: do ódio activamente persecutório; do sadismo mais abjecto; da intolerância mais sinistramente destruidora. Será que é este o preço que temos de pagar por, ao contrário dos restantes animais, sermos capazes de contrariar os instintos e optar pela racionalidade que a linguagem viria a potenciar ainda mais?! Estranho paradoxo, este, não acham?...... Ou talvez não! Freud (1856-1939), quando discerne sobre a Metapsicologia, refere que o ódio, o sadismo e a agressividade estão na génese do instinto de conservação e afirmação do ser humano.

       Viktor Frankl (1905-1997) é um conhecido psicanalista que, por ser judeu (austríaco), sofreu na carne, em 1942/43, com a demais família, a violência nazi, em Theresienstadt e, em 1944, em Auschwitz, tendo sobrevivido ao Holocausto, apenas ele e a irmã Stella. Retirou daí ilações, e desenvolveu a teoria do impulso vital do indivíduo para a criação de um sentido para prosseguir a vida, mesmo face à mais negra adversidade. Curiosamente, experimentámos este mesmo sentimento emocional, nos idos de 1972 e 1973, na mata cerrada dos recônditos Dembos (Angola), em contexto de guerrilha.

        Concordamos com Viktor Frankl neste particular, mas não acompanhamos o seu raciocínio quando este cientista afirma que nos nossos dias a sociedade já não é sexualmente frustrada (afecção disruptiva de afectos), ao invés do que defendeu Freud (1856-1930); ou que, conforme sustentava Adler (1870-1937), já não existe o sentimento de inferioridade, por parte das pessoas... Que bom que seria, se assim fosse! A que se deve, então, o tráfico humano e a escravatura sexual nos dias que correm? E as constantes violações? E a violência doméstica? E a alienação parental? E o “bullying” nas escolas e nas empresas? Em todas estas e outras situações, em qualquer continente ou sociedade, e, quer por força da frustração sexual, quer ainda devido ao sentimento de inferioridade (disfunção identitária que pode promover o abuso de poder, por exemplo), quer tendo em conta o vazio existencial e a falta de sentido na vida – são tudo realidades sistémicas e parasitárias –, existem milhões de pessoas que sofrem diariamente. A neurose atrai a neurose. A psicose pode matar ou suicidar. É que só o amor é libertador, como pregou São Paulo aos Coríntios.

        Todavia, devido à tensão brutal a que estão sujeitas as pessoas, tendo em conta a organização da sociedade, nomeadamente no que respeita à indução familiar e educativa e aos posteriores condicionamentos dos adolescentes e jovens (Robert Ollendorff), leia-se repressão (sexual), frustração e neurose – estas radicam no borbulhar larval do desejo recalcado –, continua a fazer sentido a tese de Freud e de Adler (e a de Frankl, também), uma vez que a estrutura social, política, económica e empresarial se assemelha a um tenebroso espartilho, redutor e castrante da energia dos impulsos.

     Freud refere esta força, esta tonacidade anímica genérica, como a “catexe” que ocupa o conteúdo psíquico, cujo aumento do desejo desencadeia a repressão e a proximidade do inconsciente; quando esta energia se torna mais forte ainda e incide sobre certas pessoas ou objectos – “catexe do objecto”, pode determinar identificação (ambivalente, embora) com aqueles. É curioso notar que Adler tenha optado por designar o mesmíssimo fenómeno por fixação, e Jung (1875-1961) lhe tenha dado o nome de obsessão. Na prática, trata-se de mecanismos esquizóides (Melanie Klein [1882-1960]), cuja exacerbação redunda em anomalias psíquicas, estados obsessivos, caprichos e ideias fixas que degeneram em psicoses. Infere-se daqui que a força primária do desejo ignora o tempo e a realidade exterior, porque quanto mais potenciada é, mais facilmente é captada pelo inconsciente.

            

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