Na
sequência do que nos escritos anteriores ficou dito, impõe-se
uma nova atitude face a uma realidade controversa e exigente, como o
é a da educação dos afectos. E porque, quando de
sexo se fala, de afectos se trata, recordo ao leitor os binómios
a que atrás aludi: corpo/espírito; matéria/mente;
biologia/emocionalidade.
Sendo assim, o sexo tem de ser olhado e visto tal e qual se nos apresenta, sem medos nem simples receios; sem mentiras; sempre na exacta medida da curiosidade de quem se ensina, conforme já alertei também. Hoje, deve existir total abertura, segurança e informação fundamentadas, em contraponto com qualquer ética apoiada em hipocrisias, em qualquer jurisdição ultrapassada, em qualquer prática cultural desenquadrada, em qualquer contexto social de lesa personalidade.
O
sexo deve ser tratado como algo que nos diz directamente respeito,
porque constitui uma incomensurável riqueza pessoal, no âmbito
da multiplicidade dos vários aspectos segundo os quais a
Natureza permitiu ao ser humano se expressar, em plenitude, enquanto
tal. Mas... quando se fala em política educacional, este
assunto deve ser tratado por quem e em que moldes?!
Evidentemente
que, sobre um tipo de matéria tão candente como a que
respeita à temática vertente, ou se têm ideias e
conhecimentos precisos sobre a questão, que o mesmo vale por
dizer, ou sabemos o que queremos, para e por onde vamos, ou então
mais vale ficarmos quietos e calados e não andar a desperdiçar
o precioso tempo de estudo (o nosso e o dos outros), através
de falaciosas acções de motivação
gratuita e desviante.
Por
um lado, sempre achei fundamentais a informação e o
conhecimento, em detrimento do silêncio e da ignorância
que, de resto, não aproveitam a ninguém. Por outro
lado, considerei sempre que, deve estar fora de cogitação
o regresso ao autoritarismo regulador da conduta das nossas crianças
e jovens, mormente quando se trata da sexualidade, pelo que a seguir
se expõe:
Importa
a implementação de orientações e
esclarecimentos cabais, que consigam, por si só, fomentar o
desenvolvimento de personalidades autónomas e esclarecidas;
desprovidas de traumas e culpabilizações (como no
passado recente). Desta maneira, através de princípios
e atitudes apoiados em comportamentos e acções
educacionais arejados, lavados e inovadores, assentes em valores
perfeitamente inteligíveis, seria possível operar na
pessoa de cada cidadão escolarizado a natural autodeterminação
que visaria a realização de cada um no seio da
sociedade que se quer interactiva e progressista. Esta forma de estar
e de sentir, tendo sempre presente a preocupação de
respeitar o outro e nós próprios, tem, necessariamente,
de partir do interior de cada um com convicção e
justeza absolutas.
Falando,
de novo, dos mitos que sacralizaram a sexualidade na antiguidade,
chamo a atenção do leitor para o cuidado a ter com o
seu regresso. Os mitos continuam hoje a funcionar, num outro
contexto, arrastando tudo o que ao sexo diz respeito para a esfera da
animalidade ou do mero entretenimento lúdico. Acaso conhecem,
a respeito do que acabo de afirmar, aquela anedota, graça ou
chalaça que designa a zona genital como “área de
lazer”?! O sexo e a sexualidade não podem continuar a ser
difundidos enquanto problemática, a um tempo, grosseiramente
empolada e mal gerida.
Nas
grandes superfícies (também vendem livros), estes,
grosso modo, em papel de luxo e profusamente ilustrados, abordam a
sexualidade, por norma, de maneira puramente anatómica,
biológica, sem nenhuma preocupação de ordem
psicológica, emocional ou afectiva. Caminha-se, assim, para um
beco sem saída, onde a repetição exaustiva e
viciante do sexo, por parte de quem tem sido ludibriado com
“ensinamentos” deste jaez, só pode levar à
degradação moral e às perversões, numa
linha de frustrante obsessão de algo doentiamente vago, vazio
e escravizante.
(CONTINUA)
Nota: net pic
Querido Zé
ResponderEliminarConcordo contigo:está na hora de orientarmos devidamente os jovens no sentido de lhes proporcionarmos conhecimentos sobre a Sexualidade.Porém,haja peritos que o façam,para que não sejam feridas susceptibilidades.
Parabéns pelo artigo e pela tua audácia.
Beijinhos
Mana
Apesar de tudo, hoje existe uma maior abertura relativamente a esse tema e até acho que é mais fácil falar com as crianças e adolescentes sobre sexualidade do que com adultos que na sua maioria fica difícil... devido a tabus e dogmas religiosos. Sem dúvida que os jovens tomam decisões mais conscientes sobre o sexo quando têm a informação que necessitam . Felicito, portanto, todos aqueles que têm competência e se empenham em criar diálogos para uma melhor e saudável relação de intimidade que em muito ajuda o convívio social e familiar.
ResponderEliminarBoa tarde, Poeta. Beijinho.