sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O NEXO DO SEXO

       Na sequência do que nos escritos anteriores ficou dito, impõe-se uma nova atitude face a uma realidade controversa e exigente, como o é a da educação dos afectos. E porque, quando de sexo se fala, de afectos se trata, recordo ao leitor os binómios a que atrás aludi: corpo/espírito; matéria/mente; biologia/emocionalidade.

       Sendo assim, o sexo tem de ser olhado e visto tal e qual se nos apresenta, sem medos nem simples receios; sem mentiras; sempre na exacta medida da curiosidade de quem se ensina, conforme já alertei também. Hoje, deve existir total abertura, segurança e informação fundamentadas, em contraponto com qualquer ética apoiada em hipocrisias, em qualquer jurisdição ultrapassada, em qualquer prática cultural desenquadrada, em qualquer contexto social de lesa personalidade.

      O sexo deve ser tratado como algo que nos diz directamente respeito, porque constitui uma incomensurável riqueza pessoal, no âmbito da multiplicidade dos vários aspectos segundo os quais a Natureza permitiu ao ser humano se expressar, em plenitude, enquanto tal. Mas... quando se fala em política educacional, este assunto deve ser tratado por quem e em que moldes?!

      Evidentemente que, sobre um tipo de matéria tão candente como a que respeita à temática vertente, ou se têm ideias e conhecimentos precisos sobre a questão, que o mesmo vale por dizer, ou sabemos o que queremos, para e por onde vamos, ou então mais vale ficarmos quietos e calados e não andar a desperdiçar o precioso tempo de estudo (o nosso e o dos outros), através de falaciosas acções de motivação gratuita e desviante.

     Por um lado, sempre achei fundamentais a informação e o conhecimento, em detrimento do silêncio e da ignorância que, de resto, não aproveitam a ninguém. Por outro lado, considerei sempre que, deve estar fora de cogitação o regresso ao autoritarismo regulador da conduta das nossas crianças e jovens, mormente quando se trata da sexualidade, pelo que a seguir se expõe:

    Importa a implementação de orientações e esclarecimentos cabais, que consigam, por si só, fomentar o desenvolvimento de personalidades autónomas e esclarecidas; desprovidas de traumas e culpabilizações (como no passado recente). Desta maneira, através de princípios e atitudes apoiados em comportamentos e acções educacionais arejados, lavados e inovadores, assentes em valores perfeitamente inteligíveis, seria possível operar na pessoa de cada cidadão escolarizado a natural autodeterminação que visaria a realização de cada um no seio da sociedade que se quer interactiva e progressista. Esta forma de estar e de sentir, tendo sempre presente a preocupação de respeitar o outro e nós próprios, tem, necessariamente, de partir do interior de cada um com convicção e justeza absolutas.

        Falando, de novo, dos mitos que sacralizaram a sexualidade na antiguidade, chamo a atenção do leitor para o cuidado a ter com o seu regresso. Os mitos continuam hoje a funcionar, num outro contexto, arrastando tudo o que ao sexo diz respeito para a esfera da animalidade ou do mero entretenimento lúdico. Acaso conhecem, a respeito do que acabo de afirmar, aquela anedota, graça ou chalaça que designa a zona genital como “área de lazer”?! O sexo e a sexualidade não podem continuar a ser difundidos enquanto problemática, a um tempo, grosseiramente empolada e mal gerida.


      Nas grandes superfícies (também vendem livros), estes, grosso modo, em papel de luxo e profusamente ilustrados, abordam a sexualidade, por norma, de maneira puramente anatómica, biológica, sem nenhuma preocupação de ordem psicológica, emocional ou afectiva. Caminha-se, assim, para um beco sem saída, onde a repetição exaustiva e viciante do sexo, por parte de quem tem sido ludibriado com “ensinamentos” deste jaez, só pode levar à degradação moral e às perversões, numa linha de frustrante obsessão de algo doentiamente vago, vazio e escravizante.

(CONTINUA)            
                                           Nota: net pic

                               

2 comentários:

  1. Querido Zé
    Concordo contigo:está na hora de orientarmos devidamente os jovens no sentido de lhes proporcionarmos conhecimentos sobre a Sexualidade.Porém,haja peritos que o façam,para que não sejam feridas susceptibilidades.
    Parabéns pelo artigo e pela tua audácia.
    Beijinhos
    Mana

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  2. Apesar de tudo, hoje existe uma maior abertura relativamente a esse tema e até acho que é mais fácil falar com as crianças e adolescentes sobre sexualidade do que com adultos que na sua maioria fica difícil... devido a tabus e dogmas religiosos. Sem dúvida que os jovens tomam decisões mais conscientes sobre o sexo quando têm a informação que necessitam . Felicito, portanto, todos aqueles que têm competência e se empenham em criar diálogos para uma melhor e saudável relação de intimidade que em muito ajuda o convívio social e familiar.
    Boa tarde, Poeta. Beijinho.

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