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Há cerca de um quarto de século, tive oportunidade de frequentar um seminário, iniciado em regime de internamento, no ApartHotel da Curia ( 2 semanas teóricas e duas semanas de prática pedagógico-didáctica), financiado pelo Fundo Social Europeu, subordinado ao tema genérico - "A Cultura Cigana". A vertente prática (segunda quinzena) teve lugar na Escola Básica Integrada (?!) do Bairro de S. João de Deus, no Porto, em contacto directo com crianças ciganas aí domiciliadas.
Logo após o seminário, lembro-me perfeitamente de ter efectuado vários trabalhos escritos onde registei, com o máximo cuidado de sistematização, alguns dos aspectos basilares relativos às ideias fundamentais então interiorizadas. Um desses trabalhos versava a essencialidade da tolerância que sempre se deve manifestar face aos hábitos, costumes, práticas, cultos, valores, crenças, ritos, expectativas e vivências das minorias étnicas.
Na altura, recordo-me perfeitamente, fiz notar o quão rudimentares, titubeantes, indiferentes ou omissas podia significar esse tipo de comportamentos atitudinais desviantes, porque quem apenas tolera limita-se a admitir, a concordar, a aceitar, mas, nada faz no sentido de considerar, de respeitar (?), de encarar com manifesta curiosidade intelectual saudável a diversidade cultural e étnica que cada vez mais nos rodeia.
Vem tudo isto a propósito da postura que, tanto o Ministério da Educação e os docentes em particular, como a população em geral devem assumir relativamente à problemática em apreço. A EDUCAÇÃO, quando perspectivada de forma decididamente objectiva, pode constituir um precioso auxiliar, senão mesmo o principal alicerce do desenvolvimento sustentável, uma vez que, quando os curricula contemplam e equacionam as múltiplas vertentes da realidade social envolvente, devem, necessária e previamente, formar o seu corpo docente para o efeito, não escamoteando, portanto, a existência das várias etnias que fazem parte do nosso tecido social; não ignorando a diversidade dos seus hábitos e cultos; não atropelando a importância das potencialidades que as minorias em si encerram, mas antes procurando perceber o alcance da multiplicidade dos valores universais de identificação e integração sócio-afectiva dos grupos sócio-culturais diferenciados.
Não basta, está bem de ver, como acontece nos outros países não sujeitos a ditaduras, que a EDUCAÇÃO siga, pura e simplesmente, o rumo despreocupado e normal do ensino das coisas básicas, desinseridas daquela estruturação integrada e integrante que se deve ligar à vida e à sua realidade palpável, no sentido do desenvolvimento das populações. A escola deve procurar a implementação de uma EDUCAÇÃO OBJECTIVA, necessariamente atenta aos problemas do dia-a-dia que, como se sabe, podem e devem ser resolvidos com recurso a estratégias de aprendizagem alicerçadas em programas que possam ser previamente objecto de estudos e aturadas investigações, da responsabilidade dos gabinetes de investigação e estudo das Universidades credenciadas para o efeito.
Hoje, Portugal parece estar perdido no meio do imenso, agitado e atribulado oceano da União Europeia, navegando à deriva na sua estranha e rectangular casquinha de noz, sem remos nem Norte. É que nesta nossa terra, teimamos em continuar a não cultivar princípios tão simples como os do rigor, do respeito pelo próximo e pelo trabalho e, no campo particular da EDUCAÇÃO e do ENSINO, tem sido sistematicamente colocada à frente de qualquer outra prioridade, certos interesses sempre apelidados de transitórios, ligados a cortes, subtracções e poupanças mais que duvidosos, para além de outros esquemas de impensável implementação, ligados ao aparente voluntarismo bacoco e decadente da maioria. Por estranho que pareça, ou talvez não, esse tipo de motivações tem vindo a minar a democracia e os seus pressupostos, porque, sem deixarem de ser alegadamente inconstitucionais, ilegais, ilegítimos, inconsequentes, incongruentes e irresponsáveis, têm demonstrado constituir, seguramente, incompreensíveis derivas parciais e fraccionárias, cuja cansativa tautologia se me afigura prejudicial e decrépita, ainda que a baptizem de politicamente correcta.
Querido Zé
ResponderEliminarTocaste num problema importantíssimo!
Também eu,há duas décadas frequentei um curso no âmbito da multiculturalidade.
Estava feliz pois numa escola inclusiva,pensava que poderia pôr em prática tudo quanto tinha ouvido.
Engano meu! Faltava tudo!!!
Tolerar é admitir sem reação defensiva,mas isso só, não basta.A multiculturalidade vale,na medida em que o saber se mistura com o saber fazer.Para isso,precisamos de matérias primas e deparámo-nos logo com a ausência das mesmas, o que nos impediu de desenvolver algo!!!
A Escola terá que se ligar à vida e à vida de todos os estudantes, independentemente da sua etnia,raça,cor ou confissão.
A Escola terá que se adaptar constantemente ao tipo de alunos que a frequenta e deverá sofrer modificações. Não podemos estar sempre à espera que as Autarquias e os particulares tomem conta da escola,porque essa +e uma tarefa que pertence ao Estado.
Cada vez mais as famílias devem ser chamadas a participar e a darem as suas opiniões.
Está na hora do Ministério dar as mãos a todos os «atores» intervenientes no processo ensino/aprendizagem,para ver se algo melhora a bem de toda a comunidade em geral e das pequenas minorias em especial.
Parabéns pelo teu artigo.
Bom fim de semana.
Um beijinho
Mana