quinta-feira, 5 de julho de 2018

AS REACÇÕES NEURÓTICAS




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        Enquanto seres humanos, somos todos dotados de um extraordinário e, praticamente, ainda que não absoluto, eficaz mecanismo de defesa que nos permite reagir às experiências emocionais mais agressivas e drásticas do quotidiano, através de comportamentos diferenciados do padrão tido como normal, linear, muito embora essas derivas se consubstanciem em termos muito mais quantitativos do que qualitativos, do ponto de vista caracterológico (etologia) – Stuart Mill (1806-1873) e Wilhelm Wundt (1832-1920).

            Esta óptica inicial de abordagem da problemática das reacções neuróticas, estudada pelos cientistas a que atrás se alude, inscreve-se na revolucionária (para a época) psicologia experimental, marcadamente empírica, que visava imprimir um carácter distintivo à investigação, até aí refém da especulação filosófica. Wundt, principalmente, preocupou-se com a consciência e com as representações sensoriais da mesma. Já John B. Watson (1878-1958) viria a defender a necessidade de pôr de lado o efeito das vivências interiorizadas, argumentando que a distorção provocada pela subjectivação da experiência, redundaria em inevitáveis equívocos. Assim, estes “behavioristas” ficar-se-iam pela simples observação e investigação do comportamento do indivíduo.

            Convém referir, de passagem, a diferença de fundo que existe entre as reacções do tipo neurótico e as que podem ser classificadas como sendo psicóticas: nas primeiras, e ao invés das segundas, o indivíduo regista na consciência a ocorrência vivenciada, não sofrendo de nenhum apagamento de facto ou de sentido (n)a sua relação com a realidade; nesta conformidade, a sua personalidade mantém-se intacta, assim como a sua estrutura concreta de pensamento formal e substancial, e , mais ainda, a manutenção do contacto com a realidade (orientação e lucidez).

            Tipificando, estas reacções neuróticas procuram compensar, combater ou atenuar uma ansiedade de cariz específico, trabalhando o efeito conflitual provocado pelo choque dos objectos internos ou externos, no sentido da preservação dos seus reflexos ansiosos, através da defesa do ego – fobia de deserção, cismas e actos repetitivos, transferência, recalcamento e posicionamento esquizo-paranóide-depressivo – este último, conforme o definiu Melanie Klein (1882-1960). Também Freud (1856-1939) se referiu ao assunto, ao invocar as fixações regressivas primárias (fases oral, anal e fálica), enquanto mecanismos de defesa mental (reacções neuróticas) na formação do sintoma – do grego, coincidência.

            É hoje possível afirmar, sem nenhum tipo de constrangimento ou pudor, de que a percentagem da população nacional a braços com esta sintomatologia (indícios de perturbação ou doença) é muito maior do que seria, à primeira vista, expectável. E tudo começa na infância com certas disfuncionalidades emocionais, como o sonambulismo, a enurese, a gaguez, a aversão fóbica à escola ou certos tiques difíceis de abandonar pela vida fora. Talvez não fosse má ideia, ainda assim, a intervenção de um clínico especializado. É que, embora se trate de mecanismos de defesa úteis, podem não resolver, de todo, o(s) problema(s).

              

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