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Enquanto seres humanos, somos todos dotados de um extraordinário
e, praticamente, ainda que não absoluto, eficaz mecanismo de defesa que nos
permite reagir às experiências emocionais mais agressivas e drásticas do
quotidiano, através de comportamentos diferenciados do padrão tido como normal,
linear, muito embora essas derivas se consubstanciem em termos muito mais
quantitativos do que qualitativos, do ponto de vista caracterológico (etologia)
– Stuart Mill (1806-1873) e Wilhelm Wundt (1832-1920).
Esta óptica
inicial de abordagem da problemática das reacções neuróticas, estudada pelos
cientistas a que atrás se alude, inscreve-se na revolucionária (para a época)
psicologia experimental, marcadamente empírica, que visava imprimir um carácter
distintivo à investigação, até aí refém da especulação filosófica. Wundt,
principalmente, preocupou-se com a consciência e com as representações
sensoriais da mesma. Já John B. Watson (1878-1958) viria a defender a
necessidade de pôr de lado o efeito das vivências interiorizadas, argumentando
que a distorção provocada pela subjectivação da experiência, redundaria em
inevitáveis equívocos. Assim, estes “behavioristas” ficar-se-iam pela
simples observação e investigação do comportamento do indivíduo.
Convém referir,
de passagem, a diferença de fundo que existe entre as reacções do tipo
neurótico e as que podem ser classificadas como sendo psicóticas: nas
primeiras, e ao invés das segundas, o indivíduo regista na consciência a
ocorrência vivenciada, não sofrendo de nenhum apagamento de facto ou de sentido
(n)a sua relação com a realidade; nesta conformidade, a sua personalidade
mantém-se intacta, assim como a sua estrutura concreta de pensamento formal e
substancial, e , mais ainda, a manutenção do contacto com a realidade
(orientação e lucidez).
Tipificando,
estas reacções neuróticas procuram compensar, combater ou atenuar uma ansiedade
de cariz específico, trabalhando o efeito conflitual provocado pelo choque dos
objectos internos ou externos, no sentido da preservação dos seus reflexos
ansiosos, através da defesa do ego – fobia de deserção, cismas e actos
repetitivos, transferência, recalcamento e posicionamento esquizo-paranóide-depressivo
– este último, conforme o definiu Melanie Klein (1882-1960). Também Freud (1856-1939) se referiu ao assunto, ao invocar as
fixações regressivas primárias (fases oral, anal e fálica), enquanto mecanismos
de defesa mental (reacções neuróticas) na formação do sintoma – do grego, coincidência.
É
hoje possível afirmar, sem nenhum tipo de constrangimento ou pudor, de que a
percentagem da população nacional a braços com esta sintomatologia (indícios de
perturbação ou doença) é muito maior do que seria, à primeira vista,
expectável. E tudo começa na infância com certas disfuncionalidades emocionais,
como o sonambulismo, a enurese, a gaguez, a aversão fóbica à escola ou certos
tiques difíceis de abandonar pela vida fora. Talvez não fosse má ideia, ainda
assim, a intervenção de um clínico especializado. É que, embora se trate de
mecanismos de defesa úteis, podem não resolver, de todo, o(s) problema(s).
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