quinta-feira, 4 de julho de 2019

TRINTA POR UMA LINHA





   Trinta por uma linha é uma expressão deveras curiosa que, como julgo que sabem, significa atribuir, a determinada situação ou comportamento humano, a característica de confusão, de trapalhada, onde se age, decide ou resolvem os problemas à toa, a esmo, sem nenhum tipo de ponderação, de reflexão e bom-senso. Há ainda uma outra expressão para pessoas que não pensam e apenas agem mimeticamente, de acordo com o mais vulgar e repetitivo senso-comum... É isso! Maria-vai-com-as-outras – interessante conceito inspirado no comportamento atitudinal de Dona Maria I (1734-1816), a raínha esquizóide.

   Esta breve introdução serve apenas para enquadrar a questão que hoje se coloca à família. Quer se queira quer não, a sociedade anda sempre a reboque dos interesses idiossincráticos (ambição, territorialidade e agressividade) dos indivíduos que detêm o poder económico. Este, instrumentaliza o poder político e, por sua vez, as instituições políticas manipulam a sociedade, os indivíduos e as famílias. Estas passam a andar à nora, de resto, sem proveito.

   Tudo isto tem tido efeitos perversos na constituição dos novos agregados familiares, no seu quadro de valores, na assunção do papel que cabe desempenhar a cada um dos seus elementos constituintes, no protagonismo masculino e feminino, no vazio afectivo tecido pelas exigências laborais que não deixam tempo para a comunhão da focolaridade. As modernas configurações familiares abrangem já novos arranjos quânticos ditados pela metonímia do desejo.

   Esta paramodernidade vai cavando um fosso de ausência afectiva que robotiza as criaturas, instaurando nelas, desde tenra idade, a obsessão pela posse material, e face à omissão neurosada dos pais, as crianças decidem tudo, em casa e no shopping, no restaurante e na escola, num clima de caótica anarquia que vai construindo os futuros loucos, os dependentes da droga, os parasitas, os criminosos e os ditadores.

   O paradoxo é mesmo este: se os trabalhadores e as famílias constituem já hoje as novas hordas de escravos, quem restará, afinal, para satisfazer a insaciável gula dos mercados?!


Imagens (3) do Google

4 comentários:

  1. Um texto que nos inquieta, mas cujo contexto deve ser falado e pensado. Como tudo muda, a mudança pode ser para pior...
    Gostei do texto, como sempre.
    Caro Humberto, continuação de boa semana.
    Abraço.

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  2. Acertou na mosca, Humberto! Lendo seu texto e vendo essas fotos lembrei de um dia que um casal de amigos foi na casa de meus pais, e eu estava lá. Foram com o filho de 2 anos, mais ou menos, não lembro. Os adultos conversando e a criança pulando de sapato no sofá branco de meus pais, recém comprado. Ela, a mãe, era psicóloga!!! O pai médico. O pai disse à criança para parar, não fazer aquilo. A mãe disse ao pai para não chamar atenção da criança para não traumatizá-la!! Olha, Humberto, eu tive uma vontade de pegar aquela criança e fazê-la sentar numa cadeira e ali ficar ...
    No meu tempo bastava um olhar de minha mãe que eu já entendia, me aquietava. Aliás, nem tentava fazer isso na casa de ninguém. Hoje os filhos comandam a vida dos pais, seja nos shoppings, na rua, nos restaurantes, em qualquer lugar. A ausência afetiva, de uma maneira ou outra tem de ser compensada com presentes e liberdade, pois os pais quando não estão trabalhando, estão com o celular nas redes sociais.
    Ótima postagem!
    beijo, bom restinho de semana!

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  3. Darei "trinta por uma linha"
    Para, em tempo, eu entender
    O por quê que querem o poder
    Ou a glória da Rainha

    Que não governa sozinha
    E nem se quer pode ser
    Governada e tem dever
    De parecer que advinha

    O que deseja o vassalo.
    Não sei de nada e me calo
    À pergunta, às vozes roucas!

    O mundo está ao gargalo!
    Será que precisa um galo
    Nesta "GAIOLA DAS LOUCAS"?

    Belo texto, meu amigo! Gostei imensamente, por oportuno esclarecimento ou chamada de atenção o que nos rodeia e não vemos com exatidão. Grande abraço! Laerte.

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  4. Querido Zé
    Infelizmente, as situações como a que vemos na imagem acumulam-se e proliferam em muitos lares. Até me custa falar em lar!!!
    O teu texto bem reflecte uma realidade que não queremos,mas com a qual nos deparamos no dia a dia. E o que não se passará em casa destas pessoas?!
    Certos progenitores demitiram-se das suas funções, porque é mais fácil deixar correr.
    Um abraço
    Mana

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