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Em
termos gerais, sempre que olhamos para a sociedade, podemos dizer que
se trata de um organismo vivo, a exemplo do que se passa com o corpo
humano, e que as pessoas são o sangue que gira nas veias desse
mesmo organismo.
Como em qualquer corpo
vivo, para que as coisas possam correr, consigam funcionar, sejam
capazes de se desenvolver, é fundamental que haja saúde.
Para que haja saúde devem ser tomados os devidos cuidados, sem
os quais o organismo vivo – a sociedade, para utilizarmos aqui o
paralelismo inicial – não conseguirá nunca
equilibrar-se e avançar, segundo o rumo traçado,
visando atingir objectivos de paz democrática, de
desenvolvimento e de melhor qualidade de vida.
Evidentemente que,
sempre que em determinado organismo existe uma dada doença,
mais ou menos grave, mas ainda assim não terminal, esse corpo
social pode, da mesma forma evoluir com maiores ou menores
dificuldades, fazendo sofrer os hospedeiros que o habitam mas,
tentando sempre progredir. É o que nos parece que acontece com
a sociedade portuguesa.
Em Portugal, no dia 25
de Abril de 1974, rompeu-se com o regime profundamente conservador e
tacanho que vigorava até então e institucionalizou-se
um novo regime, de feição democrática, com
liberdade de expressão, de imprensa, de voto, de feição
pluri-partidária.
É a partir daqui,
e com o decorrer dos anos, das décadas (vamos comemorar já
os 43 anos da Revolução), que as coisas avançaram,
não só porque teriam mesmo de evoluir segundo o ritmo
natural das mesmas, mas também porque, alicerçados numa
sociedade dotada de novas característica estruturais, formais
e substanciais, tudo, ou melhor, quase tudo foi ou deveria ter sido
feito para que os vários sistemas inseridos na nossa sociedade
– o político-ideológico, o sistema de saúde, o
sistema educativo, o sistema económico-financeiro, o sistema
de segurança social, etc., etc., stc., pudessem melhorar e
contribuir para o avanço do nosso desenvolvimento pessoal e
social, assim como para a melhoria da qualidade de vida de cada um de
nós, em particular, e de todo o tecido social e de toda a
teia institucional, em geral.
Nos últimos 43
anos nem tudo foram rosas... quer dizer: nem tudo foram cravos, mas,
justiça seja feita, e não obstante as múltiplas
contradições a que a democracia nos tem sujeitado, o
balanço, que desejamos todos olhar como sendo positivio,
registou a massificação do ensino, com o qual os vários
ministérios da Educação não souberam
convenientemente lidar; contou com o alargamento do acesso à
habitação social por parte de certas franjas da
população em vias de indigência (velha e nova
pobreza); contemplou o “boom” das novas tecnologias (não
referiremos aqui os seus aspectos nocivos), do qual beneficiam
principalmente os mais jovens que as bebem desde o berço e
que, portanto, as tratam por tu; beneficiou das aturadas e constantes
vitórias da ciência, nomeadamente da medicina curativa
(novos e surprendentes tratamentos do cancro, dos problemas
cardio-vasculares, das doenças infecto-contagiosas, das
doenças respiratórias, do aparelho digestivo, etc.,
etc..
Com tudo isto, ganhámos
muita coisa e perdemos alguma coisa também. A vida é
hoje mais trepidande, mais cansativa. Continuamos a correr cada vez
mais, não sabemos muito bem atrás de quê. Existem
nuvens negras e intrigantes a pairar sobre a própria economia
e já nem os especialistas conseguem descortinar exactamente o
que se passa. Como exemplo apontaremos apenas a intenção
da banca (será só a C. G. D.?!), de aumentar um sem
número de taxas e taxinhas; o actual executivo cortou em 2
(dois) pontos percentuais a taxa que pagava aos portugueses pela
venda de dívida pública (prémio de permanência),
o que pode ser interpretado como uma cedência aos mercados
secundários; a bolha imobiliária (finais de 2016) volta
a desembestar, impante... Os empreiteiros não aprendem, mesmo.
Decidida e definitivamente, o sacrifício e as correrias, para
além de assumirem aspectos bizarros, não são,
realmente, para todos.
Perdemos também a
segurança e a estabilidade do emprego. Tanto o patronato como
os governos tentam impôr-nos mais horas de trabalho e salários
mais baixos ou congelados (o aumento do salário mínimo
de 2017, pasme-se, recorre ao mealheiro da Segurança Social),
enquanto que o grande capital continua a inchar de lucros, mormente
os especulativos.
Sem incorrer em
pessimismos, a verdade é que a Europa tem permitido a
incompreensível invasão de produtos estrangeiros,
desprovidos de qualidade e resultado de mão-de-obra infantil,
bem próxima da escravatura, o que é contrário
aos mais elementares princípios dos Direitos Humanos que a
Europa diz defender, e torna vulneráveis as nossas empresas e
a nossa política laboral, deitando por terra todo o conjunto
de conquistas sociais tão dificilmente conseguidas ao longo
desta nossa democracia. Já para não falar do que poderá
estar para vir, em resultado do proteccionismo redutor de um
recém-eleito presidente, nos estados da Norte América.
Falta abrir os olhos, ganhar coragem e bater o pé. A Europa
tem de se afirmar de novo.
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