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Nada melhor do que a
família para se empenhar na implementação e
desenvolvimento do seu papel regulador, no âmbito das tão
necessárias quanto inevitáveis interacções
a que a criança vai sendo sujeita no seio do meio ambiente, ao
longo das várias fases etárias da sua vida. Este
empenhamento deve ser dotado de vontade, de natural motivação,
para que se possa tornar efectivo e actuante, numa linha de saudável
desvelo, entrega e preocupação, isto é, capaz de
satisfazer harmonicamente todas as necessidades da criança em
cada idade precisa. Isto é aceitar o pequeno ser, tal e qual
ele é.
Se, por um lado, a
criança, que é tão humana como outro qualquer
ser humano, embora muito mais indefesa, deve ser olhada de acordo com
as suas insuficiências, incapacidades e fragilidades, por
outro, deve ser também encarada segundo as suas promissoras
competências e todas as suas potenciais habilidades, umas e
outras em gratificante crescendo. Só assim é possível
rodeá-la da segurança e confiança indispensáveis
à sua iniciação na existência. Se, pelo
contrário...
Sim, ainda que de forma
inconsciente (ou não), existem pais que não protegem
devidamente este ou aquele filho (ou nenhum deles), logo, a criança
sente na pele esse “abandono” e tudo começa a parecer
deveras ameaçador. Não basta ministrar-lhe os
alimentos, passar-lhe a mão pela cabeça e ignorar tudo
o mais. Uma criança não é um simples animal de
estimação, embora, também estes nos mereçam
a melhor das atenções. Sem o acompanhamento adulto
adequado, integral e continuado, a criança sente-se esmagada
pela envolvência do dia-a-dia, impotente para agir, começa
a perder a alegria de viver e cede à ansiedade.
Perante tal quadro, a
criança frustra as expectativas dos pais que, na sua
ignorância e desajeitada atitude inconsciente, se tornam mais
exigentes, intolerantes e hostis, o que configura já uma
espécie de rejeição insuportável para o
menor. É terrível a falta de cuidados, de carinho; a
indiferença, a segregação, ou, então, as
críticas, os ralhetes, os castigos, o desleixo, a falta de
elogios, o escárnio a que é votado o descendente. O
filho é um empecilho, um mau produto de um casamento frustrado
ou o resultado de uma chantagem conjugal, emocionalmente mal urdida e
inoperante. A criança é, nestes casos, desvalorizada
inconscientemente, para poder ser perseguida e castigada.
Tudo isto resulta de uma
reacção em cadeia com origem no passado dos pais ou dos
pais dos pais, pelo que criaturas com personalidade mal aferida ou
desestruturada, desprovidas de maturidade, também elas
rejeitadas, não conseguiram construir imagens parentais
gratificantes nem capacidade de afirmação e sentido de
aceitação do menor. Ou, pelo contrário, foram
tão mimados que perderam o sentido das conveniências, da
responsabilidade, da empatia – uma criança é sempre
incompatível com o narcisismo doentio dos progenitores.
Pode acontecer também
que o complexo de culpa dos pais os leve a sufocar a criança
com bens materiais em excesso: brinquedos, roupas caras, guloseimas,
continuando, no entanto, a negligenciá-la. O resultado é
sempre o mesmo – rejeição, o que significa atitudes
de abandono, manifestando a criança, não só
sinais de angústia, de agressividade reactiva e de
auto-depreciação, mas também traços de
dependência, passividade e avidez, perda de identidade por
ausência de um modelo orientador.
Pior ainda: os objectos
externos e internos afiguram-se-lhe fantasmáticos e
ameaçadores; sente-se desinserida do convívio com os
outros, complexada, paranóide e agressiva; começa a
alimentar fantasias omnipotentes devido ao seu narcisismo ferido, ao
cinzentismo autobiográfico, inferiorizado, de consciência
diluída, sem referências orientadoras; alimenta também
uma circularidade doentiamente petrificada e viciante entre as
representações mentais do passado e do presente,
desprovidas de uma normal e natural integração
progressiva, o que acaba por abortar a auto-estima e excluir o
futuro...
Meu amigo, você tem aqui um texto que toca muitos pontos sensíveis da educação das crianças... Para tudo é preciso a "medida certa" e é aí que muitas vezes se falha.
ResponderEliminarGostei de o ler.
Uma boa semana.
Beijos.