terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

NA MIRA DE FREUD E BION


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        Antes de mais, situemo-nos: foi o próprio Freud (1856-1939) quem atribuiu a Joseph Breuer (1842-1925) a autoria da Psicanálise, embora aquele já tivesse descoberto, antes disso, a essência da mesma. Ao longo dos dois anos (1880-1882) em que Breuer tratou a histeria de Anna O., Freud foi sendo informado do caso, mas, só em 1885, quando Charcot (1825-1893), esforçado e honesto, traz novos ensinamentos sobre os histéricos e apela à importância das neuroses, é que Freud revê, interpreta, sintetiza e integra as várias ocorrências no âmbito da Psicanálise. Ainda que sem causa anatómica – dizia Charcot – a histeria existe mesmo, não é uma simulação; e Freud considerou que a mesma radica no inconsciente...

      Com paciência e perseverança, Breuer recorria à hipnose para concretizar o método catártico, associando o sintoma histérico à sua causa, levando Anna O. à remomorização e verbalização completa do facto em si, de modo a integrá-lo na consciência normal da doente. Freud viria a sistematizar este processo, introduzindo-lhe, porém, alterações de monta, como, por exemplo, abandonando a hipnose; optando pela livre associação de ideias do paciente, recorrendo às suas imagens, pensamentos e fantasias, cujo peso patogénico o Ego não tolera. Sobrevem, então a resistência entre o consciente e o inconsciente, o que dificulta a tranferência.

         No decurso das suas investigações, Freud junta à Livre Associação de Ideias, outros conceitos assaz úteis como o são a Atenção Flutuante, a Neutralidade e a Abstinência. O 1.º e o 2.º são recursos fundamentais para fazer vingar o processo onírico, ao invés do discurso sistematizado e linear do doente. A Atenção Flutuante é isso mesmo, quer dizer, não é direccionada para nada em especial, mas valida tudo o que possa parecer importante no âmbito do fluxo transferencial, bem como a Neutralidade e a Abstinência.

            Mais tarde, Bion (1897-1979) daria um novo impulso à Psicanálise. Na sua obra “Atenção e Interpretação”, de 1970, este cientista trabalhou o conceito de “Memória e Desejo”, referindo a submissão do analista à mais exigente observância de se abster de memorização e desejo, junto do paciente, não forçando nunca a compreensão e a cura.


        Este tipo de disciplina, que o analista impõe a si próprio na interacção que estabelece com o doente, confirma uma nova abordagem do estado de espírito necessário, quer ao analista, quer ao paciente, para evitar constrangimentos impeditivos do normal e sucedido fluxo mental do analisado, e ainda, obstando a interpretações erradas (parciais) por parte do analista. Com Bion, avançava-se assim para um novo e mais abrangente patamar epistemológico...

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