No
nosso “Admirável
mundo novo” (Aldous Huxley, 1932),
repleto de inovações tecnológicas, de
comodidades e facilidades, de automatismos e do
pan-acontecimento-conhecimento-em-tempo-real, tudo estaria bem, já
que o progresso é o progresso e, sendo assim, apresenta-se o
mesmo como reforço, resposta e tónico, aparentemente
compensador da ambição desmedida da espécie
humana. Àquela, junta-se a territorialidade e a agressividade
para, no seu conjunto, gerarem a artificial necessidade de acumulação
irracional de bens e vantagens de todo o tipo.
Nada
disto se passava, claro, nas tribos virgens de caçadores-recolectores
ainda existentes no globo nos primórdios do século (XX)
passado (Malinowski,
1884-1942, cit por Reich, 1897-1957).
Estas foram desmanteladas, exploradas e aniquiladas pelo braço
“civilizador” europeu... embora a História se tenha vindo
a repetir desde os alvores da humanidade. Contudo, nos dias que
correm, a sofisticação e a sub-repção dos
impérios emergentes tem vindo a ultrapassar todos os limites
do inteligível e do suportável, visando o controlo,
punição e exploração generalizada dos
cidadãos e, mais do que isso, impondo os seus métodos
às nações mais frágeis e economicamente
dependentes.
O
preço a pagar pelo actual estado das coisas é
elevadíssimo. Retendo que, na longa caminhada, já
efectuada pelo Homem, entre a natureza e a sociedade, foi necessário
interiorizar códigos de conduta mediadores dessa passagem,
pautada por um conjunto de sistemas simbólicos, estes passaram
de geração em geração, funcionando como
facilitadores da integração social. Configuraram,
então, a consciência moral do indivíduo e a sua
representação dos interditos (o
SuperEgo); o sujeito
obstruído do desejo evitaria a transgressão dos limites
(Freud, 1856-1939 e Lacan,
1901-1981).
Mas
falávamos do preço a pagar: o organismo e o cérebro
humano não suportam tanta excitabilidade e pressão;
tamanha coacção e exigências; tão
aberrante contraciclo biofisiológico, e reage através
do abaixamento do nível mental (Pierre
Janet, 1859-1957),
obnubilando o estado regulador e orientador da consciência,
desfasando e desintegrando o sujeito da cultura. A ansiedade não
só inibe o pensamento, mas, paralelamente, faz disparar o
mesmo; transmite uma sensação de entorpecimento, de
abulia, de vazio, de ausência do espaço e do tempo, de
conturbação alienante. E isto, sem referir a escravidão
a que nos quer sujeitar a dominação escópica,
optimizada pelo panopticismo oculto que tem vindo a crescer de forma
inexoravelmente galopante (Quinet,
2019). Voltaremos a este
assunto!
Imagens (2) do Google
Essa imagem tem muito que se lhe diga
ResponderEliminarBeijinhos e um sábado muito feliz.
danielasilva-oficial.blogspot.com/
Sabendo usar a tecnologia é uma ferramenta facilitadora diante desse mundo cada vez mais competitivo não podemos demoniza-la e nem ficar de fora.
ResponderEliminarBom domingo e uma boa semana.
Prezado Humberto, teu texto é espetacular! Parabéns! Chega à aparência de um pequeno tratado sobre a moderna tecnologia e meios de comunicação sobre o humano ser, que já parecem não ser mais uma extensão do homem, mas o homem, uma extensão delas. Estamos vendo tanta dependência que nos estamos tornando cativos a esses meios. É informação demais e um devassamento pleno - estão nos vendo nus! Eu não tenho fecebook, apenas uma página literária administrada por outro. O face, devassa a vida de todos... O teu texto é um Raio-X à mesa da situação social global na atualidade. Parabéns, amigo! Abraço fraterno! Laerte.
ResponderEliminarComo você sempre faz, meu Amigo, o seu texto vem ao encontro daquilo que é motivo de reflexão nestes tempos que correm. As novas tecnologias, que são auxiliares valiosos para tantas profissões tornaram-se ao mesmo tempo uma devassa da vida de cada um. E não há como parar isso. É sempre um gosto lê-lo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Um texto muito interessante... Se a tecnologia ajuda, por outro lado, pode tornar a vida num inferno.... Vi um video interessante e que demonstra isso. Uma rapariga saí do trabalho, entra num elevador e todos estão a olhar para o telemóvel, no autocarro a mesma coisa e quando entra no prédio onde vive, ninguém a cumprimenta. Porque está toda a gente concentrada no telemóvel. Por isso, ela resolve trazer a mesa para o corredor e fica à espera que alguém apareça. E, pouco a pouco, os vizinhos aparecem e acabam todos por jantar naquele corredor e partilhar a comida, a bebida e a vida. Porque alguém disse " Basta".
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Humberto, eu li esse teu belo texto e estava ciente que tinha comentado, o que se dá é que eu leio e não comento de primeira, volto para uma segunda leitura. Fico com o texto um pouco na cabeça.
ResponderEliminarBem, não há dúvida que a tecnologia veio para ajudar, um avanço maravilhoso, útil ao extremo, não se faz nada mais nesse mundo sem a tecnologia informatizada. Porém, ela expandiu-se para redes sociais, tomou um vulto que jamais imaginaríamos. E milhões viciaram-se em passar sua vida para os outros, desde o que come até detalhes outros. Não se vive sem o Smartphone ligado o dia inteiro para ver o que o outro diz sobre qualquer coisa irrelevante. Penso eu que a sociedade global está doente, e muito. As redes sociais (que não tenho) é uma coisa que jamais pensei que um dia fosse existir. Nossos dados estão todos no Google. Cada site que entramos, nossos dados estão lá, fica o rastro que é repassado para sites de vendas, por isso que recebemos tantos spans.
Ótimo teu enfoque, perfeito. Aplausos, amigo!
bjs