Ao
contrário dos restantes mamíferos, que se regem pela
intermitência cíclica da fixação dos
instintos (cio), para assegurar a perpetuação das
espécies, no ser humano o instinto é fixo, mas
continuado. Contudo, como a humanidade acedeu à cultura
(simbólico) e se rege pelas interdições que a
mesma impõe, o instinto é latente e é polarizado
pela pulsão do desejo, sempre vivo mas errático e
hesitante. Este é captado pelo
imaginário-simbólico-inconsciente de cada um, pelo que,
em sede de conjugalidade, se manifesta de forma muito pessoal e
especificamente caracterológica.
Para
uma melhor percepção destas singularidades, vamos
comparar o instinto à âncora dum veleiro (pessoa), e o
desejo às velas do mesmo; o imaginário-simbólico-inconsciente
seria aqui representado pelos caprichos do vento, das correntes e
marés. Nesta conformidade, vamos aceitar os desvios da
sexualidade simplista, situando-os no campo-largo dos preliminares
que preparam a ritualidade corporal e afectivo-emocional e apontam
para o objectivo final do(s) orgasmo(s) de ambos os cônjuges,
em contexto de convergência sexual-mútua-relacional-dual.
Excluiremos, porém, a obstinação mórbida
e fixa dos comportamentos sexuais lesivos do carácter, da
sensibilidade, da liberdade e da integridade física e moral
dos parceiros. Esta patologia tem o nome de perversão –
desejo tsunâmico.
Este
tipo de desordens inconscientes, portanto, não levam os
doentes a procurar ajuda clínica, ainda que o cônjuge se
queixe, proteste, reclame ou mendigue uma alteração de
comportamentos, pois nada se passa, afinal, sendo a culpa sempre
do(a) outro(a). Também acontece – raramente – que estes
desejos mórbidos possam ser esforçadamente reprimidos,
para explodirem por desinibição alcoólica, por
desequilíbrio esquizóide ou por pressão
demencial. Em termos sociais, estes transtornos podem comprometer a
liberdade e segurança dos cidadãos.
Nestes
casos, o sistema de saúde e o sistema de justiça devem
avaliar a impudência perpetrada sobre as pessoas e decidir da
inimputabilidade ou não do autor dos desmandos; pelo
internamento periódico deste e pela sua cooperação,
se se verificar a obsessão compulsiva dos seus actos; finalmente, e em resultado desta parceria, deve ser possível
a aplicação de uma sentença ponderada e
proporcional ao enquadramento clínico e jurídico dos
factos ocorridos.
Sempre
que não está em causa o coito propriamente dito, pode
verificar-se o delírio objectal, o fetichismo, a bestialidade
(zoofilia), a distorção do objectivo (voyeurismo
escopófilo, exibicionismo, travestismo, sado-masoquismo, etc.), que têm
sido considerados como sendo regressões desviantes da
maturação sexual-afectivo-emocional, devido a traumas
ocorridos na 1.ª infância. Aqui, a transgeracionalidade, à
qual se juntam papéis parentais disruptivos ou inoperantes,
bem como o processo identitário torpedeado podem estar na
origem destes desvios ou perversões, conforme a sua dinâmica e intensidade.
Por
último, as disfunções que advêm da
ansiedade profunda e continuada ou da culpabilidade que radica no
pavor de vir a falhar no protagonismo do acto conjugal, traduzem-se,
por exemplo, na dispareunia (coito doloroso), na frigidez, na
ejaculação precoce ou mesmo na mais redutora
impotência. Tudo pode ter solução, embora seja
mais simples tratar os problemas considerados mais leves (?!) do que
os que têm origem psicológica profunda e que se enredam
em complexos traumáticos inconscientes.
Imagem do Google
Caro amigo, Muito mais do que um post, um tratado sobre a sexualidade. Escrito por quem domina o assunto,nas várias vertentes, psicológica, física, comportamental. O sexo aos 80 anos e aos 20 não deixa do ser. Mais preliminares ou só preliminares, o importante é que faça bem a quem dá e quem recebe, se possível ouvindo música celestial. Um abraço
ResponderEliminarEnviado
Bastante esclarecedor amigo Humberto
ResponderEliminarbeijinhos | danielasilvaoficial.blogspot.pt
Obrigada pelo fantástico texto :))
ResponderEliminarHoje :-Iludem-se os meus pensamentos.
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira
Passando para atualizar minha leitura nos blogs, muito bom o seu texto, deixo meu abraçO!
ResponderEliminarVocê trouxe um texto ótimo, bem técnico e sobre o ponto de vista psicanalítico. Ótima postagem, Humberto!
ResponderEliminarUma ótima semana, ainda que a metade.
Beijo.
Um mundo bem complexo,
ResponderEliminarAinda que a abordagem do seu texto seja clara e objectiva.
Gostei de ler, obrigado pela partilha de tão profundo conhecimento.
Caro Humberto, um bom fim de semana.
Abraço.
Querido Zé
ResponderEliminarBelo artigo, que denota bem o quanto pesquisas para tentar, não só informar mas também alertar quem te lê.
Obrigada.
Um beijinho
Mana
Um texto lúcido sobre alguns problemas que a sexualidade apresenta. Nem todos são resolvidos pelos que passam por dificuldades nesse ponto. A natureza humana é dada a complicar os comportamentos. Você conhece bem o que partilha aqui.
ResponderEliminarEu penso que o melhor e único estimulante para o desejo e para o sexo continua a ser o amor…
Uma boa semana.
Um beijo.