sexta-feira, 19 de julho de 2013

EDUCAÇÃO - ATÁVICO FATALISMO


      Continuamos a ser arrastados, todos nós que integramos as sociedades movidas pela força do trabalho, pelo turbilhão desenfreado das vontades das minorias que detêm o poder económico. Para estas, comprometidas que estão, até à medula, com ambições desmedidas de busca incessante de lucros sempre crescentes, doa a quem doer, não interessam os direitos dos outros, nem a sua felicidade terrena; não importa a satisfação das suas simples necessidades imediatas; não as preocupa, tão pouco, as leis, o direito, os códigos, que esses alteram-se, basta que tal lhes convenha...

      A mim, choca-me, sobremaneira, o atávico fatalismo da nossa gente, sempre tão cordatamente anestesiada, adormecida no banho-maria do marasmo nacional, na modorra dos dias decadentes que a integração europeia tão bem soube e conseguiu potenciar, em surpreendente contraponto com o outro lado da moeda (única) do conjunto dos múltiplos e diversificados aspectos que, por si só, a integração poderia e deveria significar, nomeadamente sob os pontos de vista social, cultural, político, ambiental, económico, financeiro, educacional, etc., etc., etc..

     Pessoalmente recuso, de forma liminar, este atávico fatalismo a que parecemos estar condenados desde sempre. Conforme escrevi em 2003: “os portugueses só conseguirão furtar-se à condenação existencial se cultivarem, por sistema, a busca da felicidade, de acordo com os valores que tendam a perenizar a harmonia cósmica, ou seja, não comprometendo nunca o equilíbrio ecológico do planeta Terra, o único que lhes dá guarida, mantendo-se ainda receptivos a um protagonismo ininterrupto de feição solidária para com os outros, numa linha de interrelacionamento construtivo, pacífico, onde só o amor ao próximo, como a si mesmos, faça sentido.”

      Sem fugir muito a esta linha de raciocínio e numa tentativa de complementar algumas das ideias-chave do artigo que vê os mega-agrupamentos como logros autênticos de uma política educativa de contraproducente absurdo, que tem desertificado o interior do país, em obediência cega às mágicas representações de políticos pouco hábeis, subservientes e nada atentos ou empenhados, interrogo: Para quê multiplicar a complexa confusão da salada etária, nos agrupamentos escolares, com os consequentes e irreversíveis transtornos de ordem psico-afectiva de todas as crianças envolvidas?! Para quê enredar na labiríntica e esmagadora miscelânea de docentes, discentes, auxiliares e funcionários, a periclitante construção do futuro?! Recordamos, também de 2003, a seguinte observação: “A sociedade portuguesa deveria ser Ibérica e rectangular; mas não: ela é quadrada e terceiro-mundista; é parasita, traficante e chantagista e, por isso, contraria ou impede mesmo a ideia de construção, implementação e desenvolvimento desta nossa por demais estafada sociedade educativa.”

   Ainda para mais, os mega-agrupamentos arrastam para a descaracterização disfuncionalizadora da figura psicológica de respeito fundamental que deveria balizar as crianças entre os 6/7 e os 10 anos de idade. Estas necessitam inelutavelmente do seu próprio espaço, com todo o tipo de apoios prestado por pessoas ligadas à arte de leccionar, sempre num clima de paz e tranquilidade.

       Mais ainda: o 1.º Ciclo do Ensino Básico ocupa-se de crianças que se encontram numa fase etária especialíssima, acentuadamente socializante/expectante, integradora/afectivo-emotiva, com áreas de aprendizagem específicas, em regime de monodocência. Registem: cada turma do 1.º Ciclo é (tem de ser) uma pequena família, e deve ser respeitada como tal, no aconchego de uma pequena mas bem montada escola do 1.º Ciclo, sem misturas nem confusões, que a propaganda não conseguirá nunca disfarçar.

      Reparem agora: os 2.º e 3.º Ciclos devem ocupar outro tipo de escolas, construídas para o efeito, tendo em conta que irão receber os pré-adolescentes e os adolescentes, que são crianças em início de expansão, de dentro para fora, na rota difícil do mundo exterior, dos companheiros, da vida em toda a sua multiplicidade de complexas dificuldades e maravilhas. Os seus professores, aqui, são já especialistas, isto é, deviam ser. No 1.º Ciclo são generalistas. Acolá o leque curricular é mais vasto. Aqui é mais restrito.

      Quanto ao Ensino Complementar, ainda designado de Secundário, escândalo dos escândalos, vamos amalgamar também os pré-adultos nos mesmos agrupamentos?!!! Pelo amor de Deus!!!

      Por outro lado, não vejo nenhuma preocupação com a leccionação da Educação Física integral e de qualidade, logo a partir da infância e nos anos seguintes. Não vislumbro o reconhecimento da essencialidade da frequência obrigatória das aulas de música e instrumentos, com carácter integral e de qualidade, bem como de outras vertentes artísticas que dotariam o cidadão, logo a partir da infância, de competências fulcrais ao seu desenvolvimento emocional psico-afectivo, sensitivo e estético, num quadro de fortalecimento harmónico da sua personalidade e inteligência.
Por último, e retenham isto, os países do norte da Europa já colocaram de lado os mega-agrupamentos e passaram a respeitar as crianças, ainda que as turmas possam integrar apenas 7 ou 8 alunos. As pessoas primeiro! Já ouvi esta última frase algures.

Nota: net pic




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