Continuamos
a ser arrastados, todos nós que integramos as sociedades
movidas pela força do trabalho, pelo turbilhão
desenfreado das vontades das minorias que detêm o poder
económico. Para estas, comprometidas que estão, até
à medula, com ambições desmedidas de busca
incessante de lucros sempre crescentes, doa a quem doer, não
interessam os direitos dos outros, nem a sua felicidade terrena; não
importa a satisfação das suas simples necessidades
imediatas; não as preocupa, tão pouco, as leis, o
direito, os códigos, que esses alteram-se, basta que tal lhes
convenha...
A mim, choca-me, sobremaneira, o atávico
fatalismo da nossa gente, sempre tão cordatamente anestesiada,
adormecida no banho-maria do marasmo nacional, na modorra dos dias
decadentes que a integração europeia tão bem
soube e conseguiu potenciar, em surpreendente contraponto com o outro
lado da moeda (única) do conjunto dos múltiplos e
diversificados aspectos que, por si só, a integração
poderia e deveria significar, nomeadamente sob os pontos de vista
social, cultural, político, ambiental, económico,
financeiro, educacional, etc., etc., etc..
Pessoalmente recuso, de forma liminar, este atávico
fatalismo a que parecemos estar condenados desde sempre. Conforme
escrevi em 2003: “os portugueses só conseguirão
furtar-se à condenação existencial se
cultivarem, por sistema, a busca da felicidade, de acordo com os
valores que tendam a perenizar a harmonia cósmica, ou seja,
não comprometendo nunca o equilíbrio ecológico
do planeta Terra, o único que lhes dá guarida,
mantendo-se ainda receptivos a um protagonismo ininterrupto de feição
solidária para com os outros, numa linha de
interrelacionamento construtivo, pacífico, onde só o
amor ao próximo, como a si mesmos, faça sentido.”
Sem fugir muito a esta linha de raciocínio e
numa tentativa de complementar algumas das ideias-chave do artigo que
vê os mega-agrupamentos como logros autênticos de uma
política educativa de contraproducente absurdo, que tem
desertificado o interior do país, em obediência cega às
mágicas representações de políticos pouco
hábeis, subservientes e nada atentos ou empenhados, interrogo:
Para quê multiplicar a complexa confusão da salada
etária, nos agrupamentos escolares, com os consequentes e
irreversíveis transtornos de ordem psico-afectiva de todas as
crianças envolvidas?! Para quê enredar na labiríntica
e esmagadora miscelânea de docentes, discentes, auxiliares e
funcionários, a periclitante construção do
futuro?! Recordamos, também de 2003, a seguinte observação:
“A sociedade portuguesa deveria ser Ibérica e rectangular;
mas não: ela é quadrada e terceiro-mundista; é
parasita, traficante e chantagista e, por isso, contraria ou impede
mesmo a ideia de construção, implementação
e desenvolvimento desta nossa por demais estafada sociedade
educativa.”
Ainda
para mais, os mega-agrupamentos arrastam para a descaracterização
disfuncionalizadora da figura psicológica de respeito
fundamental que deveria balizar as crianças entre os 6/7 e os
10 anos de idade. Estas necessitam inelutavelmente do seu próprio
espaço, com todo o tipo de apoios prestado por pessoas ligadas
à arte de leccionar, sempre num clima de paz e tranquilidade.
Mais
ainda: o 1.º Ciclo do Ensino Básico ocupa-se de crianças
que se encontram numa fase etária especialíssima,
acentuadamente socializante/expectante, integradora/afectivo-emotiva,
com áreas de aprendizagem específicas, em regime de
monodocência. Registem: cada turma do 1.º Ciclo é
(tem de ser) uma pequena família, e deve ser respeitada como
tal, no aconchego de uma pequena mas bem montada escola do 1.º
Ciclo, sem misturas nem confusões, que a propaganda não
conseguirá nunca disfarçar.
Reparem
agora: os 2.º e 3.º Ciclos devem ocupar outro tipo de
escolas, construídas para o efeito, tendo em conta que irão
receber os pré-adolescentes e os adolescentes, que são
crianças em início de expansão, de dentro para
fora, na rota difícil do mundo exterior, dos companheiros, da
vida em toda a sua multiplicidade de complexas dificuldades e
maravilhas. Os seus professores, aqui, são já
especialistas, isto é, deviam ser. No 1.º Ciclo são
generalistas. Acolá o leque curricular é mais vasto.
Aqui é mais restrito.
Quanto
ao Ensino Complementar, ainda designado de Secundário,
escândalo dos escândalos, vamos amalgamar também
os pré-adultos nos mesmos agrupamentos?!!! Pelo amor de
Deus!!!
Por outro lado, não vejo nenhuma preocupação
com a leccionação da Educação Física
integral e de qualidade, logo a partir da infância e nos anos
seguintes. Não vislumbro o reconhecimento da essencialidade da
frequência obrigatória das aulas de música e
instrumentos, com carácter integral e de qualidade, bem como
de outras vertentes artísticas que dotariam o cidadão,
logo a partir da infância, de competências fulcrais ao
seu desenvolvimento emocional psico-afectivo, sensitivo e estético,
num quadro de fortalecimento harmónico da sua personalidade e
inteligência.
Por último, e retenham isto, os países do
norte da Europa já colocaram de lado os mega-agrupamentos e
passaram a respeitar as crianças, ainda que as turmas possam
integrar apenas 7 ou 8 alunos. As pessoas primeiro! Já ouvi
esta última frase algures.
Nota: net pic
Nota: net pic
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