segunda-feira, 12 de agosto de 2013

“COGITO, ERGO SUM”

     Começo por recordar o princípio relativamente ao qual o famoso filósofo francês do século XVI e XVII (1596-1650), de seu nome Descartes, fundou toda a sua doutrina - “Cogito, ergo sum” - Penso, logo existo. Este homem, através da dúvida metódica, idealizou uma racionalidade cujo critério da autoridade deveria dar lugar ao da evidência intelectual.
      Mas, é claro, isto não passava de uma tolice de filósofo, e ainda para mais, doutrinada no antanho obscurecido dos tempos; hoje, no moderníssimo século XXI, para quê pensar?! Manda quem pode e obedece quem deve, principalmente se estiver com a corda dos créditos na garganta, que é a pior forma de dever. Exactamente, caro leitor, não o vou maçar com filosofias; vou antes pensar (enquanto posso, dado que as minorias nos impedem de pensar, a nós, maiorias, por todos os meios e mais algum) um pouco consigo, até para ter aquela sensação Cartesiana de que ainda existimos.
    E já agora!... Deu que pensar aquela intervenção de um ex-governante (não merece ser nomeado, sequer), do tempo designado de vacas gordas (a utilização de expressões bíblicas confere aos políticos uma certa feição apocalíptica), quando o mesmo, na vigência do executivo de Sócrates, através de uma das rádios da nossa língua de terra europeia, sublinhava, com veemente imprecação, que lhe dessem ouvidos, de uma vez por todas, porque já tinha avisado, aquando da decadência do cavaquismo, que a idade da reforma deveria ter subido nessa época, os ordenados descido, os horários laborais alargado, as pensões diminuído... E por aí fora! Que asco, Santo Deus!... Como se as migalhas que são destinadas a vencimentos e pensões pudessem perturbar os inconfessáveis desígnios do lucro, em relação ao qual tudo o resto se decide.
    São, isso sim, as contradições do sistema capitalista, absolutamente desregulado, virtual e voraz, que têm estado a trocar as voltas aos mentores desse mesmo sistema. O homem não pode dar livre curso às suas tendências de animal que é, predador por excelência. Por isso existem normas, leis, regulamentos, princípios estatutários, códigos, etc., aos quais tudo e todos devem estar sujeitos para que seja possível viver em sociedade; daí a importância de um sistema educativo integrado e inteligente; daí a fundamentalidade de um sistema de justiça sério, actuante e criterioso; daí a essencialidade de um sistema de saúde que preze os cidadãos e o contributo válido que estes prestam à sociedade e que só a ausência de doenças consegue garantir. Isto deve valer, também, para todos os países pretensamente civilizados.


     Inversamente, tudo tem sido feito ao arrepio desse conjunto de princípios pelos quais o homem se deveria reger. Mas, afinal, também já há quem queira ressuscitar o "estalinismo"! Até que ponto estaremos então domesticados, for-ma-ta-dos, mesmo depois da queda do muro de Berlim?! Será que a saudade do autoritarismo, leva à mutilação do pensamento, ao apagamento da memória, em épocas conturbadas de decadência, caos e anarquia?! Porque não deixa de ser muito mais perigoso tudo quanto fica por dizer, ao invés de tudo quanto é dito. Tudo quanto se cala, não fomenta a reflexão, mas nem por isso deixa de laborar no silêncio cancerígeno do inexorável...

imagem google

2 comentários:

  1. Querido Zé
    Este texto,publicado em 2013,está actualíssimo!
    Ninguém quer que sejamos capazes de pensar, e se fosse possível até nem deveríamos existir! Ou estarei a exagerar?! Quem é que serviria a meia dúzia de Senhores Feudais?!
    Pois é! Acho que devemos existir,mas não pensar.Para isso estão lá os nossos «administradores»! Administram tudo o que temos e ganhamos de direito,perdendo nós todos os direitos alcançados até agora!
    Assim é que está certo para os «Senhores»! Eles pensam e nós...existimos .
    Parabéns,porque me fizeste reflectir e fazer um pouco de catarse,por via de não perder o hábito salutar de pensar. Ainda temos esse direito!!!
    Beijinho
    Mana

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