segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

(IN)ADAPTAÇÂO FAMILIAR



Imagem do Googl


    Antes da escolha do título em epígrafe, a nossa intenção prévia apontava para a problemática dos comportamentos infantis de (in)adaptação. Depois, optámos por acrescentar a palavra familiar, já que a(s) criança(s) de que vamos tratar irão ser olhadas no âmbito contextual da família e, portanto, muitos dos desvios, défices, regressões e contratempos podem ter como causa directa os próprios défices, desvios e regressões de pais ansiosos, imaturos e impreparados. Já temos alertado para o facto!

    Em idade pré-escolar, a criança pode, em sede de triangulação parental, sentir uma espécie de desorientação comportamental que interfere com o apetite, que a impede de dormir tranquilamente e que lhe afecta a capacidade de gestão das frustrações. Não sendo, embora, de origem somática, podem gerar reacções neuróticas na criança e quadros depressivos nos próprios progenitores, assim como, está bem de ver, precipitar, entre aquela e estes, o adensar dos relacionamentos.

    Conforme nos demonstrou Wilfred Rupert Bion (1897-1979), durante a gravidez, já os pais vão alimentando uma panóplia de expectativas, desejos e representações mágicas relativamente ao feto, assentes nos seus imaginários pessoais e colectivos. Ora, tudo isto pesa directamente no psiquismo do ser em formação. Tendo em conta de que se trata de uma postura inconsciente, logo involuntária, quando o resultado não corresponde ao expectável e frustra a imaturidade dos pais, está posta em causa a individuação do recém-nascido.

    Reparem: neste enquadramento, o que está em jogo, afinal, é a qualidade da interacção, que procura dotar a criança de uma personalidade estruturada, durante o tempo que medeia o seu nascimento e a entrada no jardim-de-infância, visando a adaptação recíproca entre os pais e o filho. Claro, todo este processo depende muito mais da personalidade dos progenitores do que do temperamento do rebento. Quem não está preparado para ser pai (ou mãe), deve optar por um planeamento familiar adulto e responsável.

    O que se pede (exige), na prática, não é mais do que sensatez e flexibilidade, capacidade de amar de forma altruísta e tolerância, bem entendido, sem permissividade, omissão e, como acontece nos dias que correm, anarquia e desnorte. Há situações em que se torna indispensável, senão mesmo imperioso o controlo rigoroso e firme da criança, com lucidez e sensibilidade, sem que os pais anulem as suas próprias vidas, os seus interesses, para se escravizarem à descendência.

    Não deixa de ser interessante que os especialistas em Psicologia Pedagógica – e aqui recordámos Hildegard Hetzer (1899-1991), aconselhem a que se ignorem as asneiras da criança – e, acrescentamos nós, caso seja caso disso –, ao invés de aquelas levarem os pais a um redobrar de atenções e carícias (?!), sendo preferível premiar as boas atitudes com o máximo de carinho saudável e atenção envolvente.


    NOTA: A criança não mente, mas fantasia, imagina, confabula. Hoje, os pais não educam e levam tudo isto à letra, movendo assédios persecutórios-insuportáveis aos docentes. O pior é que o sistema educativo apadrinha estes desconchavos.

1 comentário:

  1. Um dia, há-de chegar a altura em que os pais
    se sintam coagidos moralmente a frequentar
    formação especializada para poderem ser pais
    à altura.
    Concordando consigo...
    ~~~~

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