sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

PERCEPÇÃO SEM OBJECTO



Imagem do Google

    Em termos psicanalíticos, objecto significa algo ou alguém, este, total ou parcialmente considerado, concreto ou conjecturado, que satisfaz o investimento pulsional. Já a percepção aponta para a tomada de consciência, através dos sentidos, dos objectos ou das interacções factuais que nos integram. Tudo estaria bem se fosse sempre assim. No entanto, podem verificar-se percepções sem objecto, isto é falsos registos perceptivos sem o estímulo de objectos exteriores, pessoais ou materiais.

    A percepção sem objecto responde pela conhecida designação de alucinação, sendo a mais habitual aquela que leva o doente mental, normalmente o esquizofrénico-paranóide e o asténico a escutar “vozes” que atormentam o indivíduo, falando com ele, sobre ele, dando-lhe ordens, desdobrando os seus pensamentos ou decalcando-os. Nestes casos, o (im)paciente desconhece ou confunde a origem (interna ou externa) de quem lhe fala, mantendo a convicção da efectividade da sua percepção.

    Para além destas, podem ocorrer alucinações que o doente regista por meio dos restantes órgãos dos sentidos – da visão, da apalpação, do olfacto, do paladar, chegando mesmo a haver sobreposição de mais do que um dos sentidos, deixando a pessoa prostrada e confusa. Mas é a alucinação pelas vozes, aquela que mais perturba o indivíduo afectado, levando-o a manifestar-se com agressividade, protagonizando comportamentos compulsivos ou, até, respondendo às acusações ou às ordens, aparentemente, recebidas.
  

    Há gente saudável que também experimenta "alucinações", normalmente quando está prestes a conciliar o sono, ou na altura de acordar (estados de rêverie), embora as deste tipo não revistam preocupação de maior. Ao longo do sono podem ocorrer pesadelos, sonhos ou casos de sonambulismo, mas estes têm origem em automatismos inconscientes, desligados da actividade perceptiva e da motricidade voluntária, não sendo, portanto, alucinações.

   Problemáticas são as alucinações que afectam os doentes mentais e as pessoas que enfermam de afecções cerebrais. Estas, podem estender-se entre a alucinose – onde a consciência se mantém acesa - e a obnubilação da mesma, precipitando este último fenómeno o delírio alucinatório: este induz uma explicação desgarrada, extraviada ou distorcida dos objectos, aparentemente, percepcionados. 

5 comentários:

  1. As do sono, habitualmente designam-se pesadelos...
    Já vi a minha irmã muito encolhida na cabeceira da cama, de olhos abertos, afirmar que havia cobras aos pés da cama...
    Era criança, mas a fobia pelas cobras irá durar uma vida.
    Também vi o meu irmão delirar com febre, vendo heróis dos livros de quadrinhos... mais tarde, tornou-se um grande leitor.

    Ótimo fim de semana.
    Um abraço.
    ~~~~

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  2. Gostei de ler. Um texto muito interessante. Dá que pensar..Uma realidade.:))

    Hoje:- És a bebida que sorvo em mar deserto.

    Bjos
    Votos de uma óptima Sexta - Feira

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  3. Há pesadelos tão "pesados" que provocam verdadeiras alucinações.
    Recordo-me de uma vez, tinha os meus 15 anos, em que tive um pesadelo tão "verdadeiro" que me levantei da cama a correr e fui abraçar-me ao meu Pai, a tremer. E não foi fácil ele acalmar-me. Não me lembro exactamente do que era, mas lembro-me que lhe dizia, meio a soluçar: Papá, aqueles homens queriam te matar.
    Também já assisti ao meu filho com delírios da febre altíssima (acordado) e o meu Pai, muito doente, com delírios provocados pela morfina que o médico lhe dava para as dores. Meu pobre Pai, nesses momentos tratava-me por "Mãe".
    As alucinações que o amigo refere no seu texto (excelente!) são doutro género, eu sei. São especialmente provocadas por doença mental. Esses casos são bem piores...

    Estou muito grata pela presença na festa de Aniversário do meu “pimpolho”. Ele gostou muito de o ver lá… 😘
    Obrigada!

    Bom final de Domingo e boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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    1. Mariazita, gostei da paisagem alentejana e do soneto da Florbela Espanca. Como não consigo publicar o meu comentário no seu blogue, aqui fica o mesmo: Florbela Espanca, a sublime poetisa dos grandes e sofridos espaços, das enigmáticas angústias vertidas em versos prodigiosos. Ou, a relação tangível mas indizível entre a criatividade artística e a dor mental, plasmada através da beleza conseguida, ímpar dos seus sonetos, soando como elogios do fragmentário.
      Um abraço!

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  4. O que você sabe de psicanálise, meu Amigo! Realmente já tenho sabido de casos se pessoas que veem coisas e ouvem vozes. Dantes custava-me a acreditar. Mas é uma realidade preocupante. Gostei de o ler.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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