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A
paz d´alma é uma espécie de sensação
de apaziguamento espiritual, a que começaram por fazer
referência elogiosa os filósofos (epicuristas,
estóicos e cépticos).
Epicuro
(341-270 bC)
afirmou mesmo ser esse o caminho da felicidade, desde que o indivíduo
não fosse atormentado por desgostos, penas ou dores –
ataraxia,
palavra
grega que significa ausência de perturbação. E
Epicuro
acrescenta não poder haver intermitências entre o
equilíbrio da alma e do corpo, pelo que não recomenda
apatias ou paixões, para que a liberdade seja possível.
O
céptico Pirro
(360-270 bC)
é de opinião de que sem a suspensão do juízo
(nem negar, nem afirmar), a ataraxia não ocorre. Mas, com
aquela evitam-se as preferências, as escolhas e as
confrontações de ideias; separa-se o que depende de nós
e o que nos é “imposto” de fora, como as paixões,
sendo estas afecções ou alterações da
alma, conforme Aristóteles
(384-322 bC).
Assim, através da racionalidade, livramo-nos das perturbações.
Mais, ainda: a paz d`alma suplanta, moralmente, qualquer vivência
empírica.
Mas afinal, a que espécie de liberdade aludem estes
filósofos?! Não estarão todos eles a fomentar,
muito mais, o cinzentismo, a inércia, o comodismo, a neutralidade, e muito menos a liberdade em
sede de respeito pela liberdade alheia? Ou será que a suspensão do juízo é pura reflexão e isenção?
Evidentemente
que, não deixando de ser uma abstracção, a
liberdade hoje em dia tornou-se extremamente complexa e de difícil
interpretação e usufruto, na sociedade (Ocidental)
pautada pela Paramodernidade
– séc. XXI (progresso disruptivo, redutor, distorcido, esquizo-paranóide onde
ocorre um processo social autofágico delirante)*,
e
onde
grassa a ganância dos mercados, a espectacularidade mórbida
dos media,
o
pensamento global pré-formatado, o niilismo hedonista, o vazio
existencial e a queda dos valores, a iliteracia, o consumismo
obsessivo, compulsivo e fátuo, a corrupção e o
esmagodor peso dos impostos.
Bem,
se calhar, a tão ansiada paz d`alma só será
tangível, artificialmente, através da farmacologia e da
toma de neurolépticos – ataraxia medicamentosa.
NOTA:
Paramodernidade – séc. XXI* - esta designação
conceptual é nossa. Pós-modernidade e hipermodernidade
não potenciam, em termos linguísticos, o alcance
referencial adequado.
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Muito bom. Gostei de ler:))
ResponderEliminarHoje :- Abri a janela e deixei os sonhos entrar.
Bjos
Votos de uma óptima noite
Um tema que merece uma profunda reflexão. Gostei muito!
ResponderEliminarUm tema bom para muita gente refletir!
ResponderEliminarBjxxx
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Olá, Manel, eu, de novo!
ResponderEliminarA imagem, que escolheu para encimar o seu texto é mesmo esta. Mulheres, que foram às compras, a abarrotar de sacos, que fazem bué barulho, mas com a alma em paz, enfim, são paz d' alma -rs.
Fazer compras é uma verdadeira ataraxia (deve ser deste nome, que vem a nomenclatura do medicamento Atarax. Será)? Não há penas, que resistam às compras-rs!
Não querendo entrar no "sumo" do texto, pke já esqueci muito do pensamento destes filósofos, digo-lhe que está mto bem escrito e explicado, ah, mas as Paixões fazem tão bem à Alma!
A liberdade, atualmente, é o contrário de paz d' alma, acho eu. "Tá" tudo doido, todos varridos da mente e procuram a felicidade nos nadas. Pascal tinha razão.
Beijos.
PS: não há novidades no meu blogue. Provavelmente, só no fim de semana.
Apreciei imenso o seu texto. E tem razão, os medicamentos com acção psicoléptica e ansiolítica têm a designação de ataráxicos; daí o "atarax".
EliminarBeijinhos.