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PARTE
I
Ao
longo das várias fases de desenvolvimento do psiquismo
infantil, ocorrem choques pulsionais – vida/morte, amor/ódio,
geradores de forte angústia. Numa primeira fase, dita
“esquizo-paranóide”
(Melanie Klein 1882–1960),
estes medos (fantasmas) infantis, dirigidos à mãe
(objecto), operam na criança, sérios efeitos
modeladores.
Sendo
a criança, ainda, o corpo da mãe, e não podendo
tolerar a angústia que a tolhe, projecta-a
no corpo materno
(identificação
projectiva), tornado
persecutor. Este,
é fragmentado em maus ou bons
“objectos parciais”,
mas, sendo o corpo da
criança indistinto do da mãe (objecto), o EU infantil
fragmenta-se igualmente.
Depois,
na segunda fase - “depressiva”
(Klein), já com o eu
a caminho da individuação e o objecto
unificado (diferenciação), ambos passam a ser sentidos
(re-presentados), a um tempo, bons e maus. Aqui, a angústia de
destruição não é dirigida ao objecto, mas
gera culpabilidade, passando a estruturar a elaboração
edipiana.
Quando
este processo transformador falha, sobrevem a psicose e a fixação
regressiva no/ao estádio “esquizo-paranóide”,
ainda segundo Melanie Klein.
Quando
assim é, manifestam-se, simultâneamente, os fantasmas
delirantes, os pensamentos perturbados e perturbadores, os choques
pulsionais, a desordem entre a elaboração do self
da criança e da mãe,
a debilidade do Eu.
PARTE II
Sem
a presença do pai (seja esta real, seja imaginária e
simbólica) não há triangulação,
crescimento mental ou família. Conforme Jacques
Lacan (1901-1981),
quando a criança entra na ordem da linguagem torna-se, na sua
relação objectal, sujeito obstruído do desejo,
devido ao interdito do Outro
e do seu desejo; esse grande
Outro (o-nome-do-pai),
o detentor da palavra, do poder, irá conseguir, através
da magia da palavra (da simbolização e da metáfora),
que o sujeito se situe e seja sujeito de si próprio e do seu
desejo.
Antes
da obstrução do desejo, o corpo da mãe (objectos
parciais) é o objecto do desejo; imaginário,
indeterminado, mas de significância polivalente. Caso o pai
esteja, efectivamente, ausente, ou tenha uma presença omissa,
inerte, neutra, amorfa, não ocorre o processo de
metaforização, não
se verifica a inscrição do nome-do-pai no significante
– psicose, e, no lugar da significação fálica
nada restará, devido ao rombo sofrido pelo significado –
psicose).
Mas, a mente da criança não vinga sem a magia do
simbólico; a criança soçobra sob o peso da
realidade pura e dura, isto é a volta do Outro
não simbolizado ao real, em toda a sua brutal dimensão
delirante e alucinatória, perceptível pelas cisões
causadas na cadeia das significações.
Desta
maneira fica comprometido, ou mesmo gorado, o poder abrangente da
simbolização e da comunicação
intersubjectiva, esvaziando-se de sentido o reconhecimento social do
outro e da sua situação circunstancial de lugar.
Lacan
chamou-lhe a foraclusão
do Nome-do-pai,
essa falha traduzida pela imperfeição e insuficiência
do Outro. O
sujeito (psicótico), remetido a si próprio e aos seus
fantasmas, não consegue utilizar a ordem da linguagem, ao
contrário do neurótico, por ter sido abolido
(rejeitado) o primeiro significante (o primordial). Estruturando-se o
insconsciente como uma linguagem, a dinâmica da metáfora
(condensação) e da metonímia (deslocamento do
desejo para dar forma à relação objectal)
encontram-se coarctadas, desestruturadas, desordenadas.
Nos
dias que correm, nesta insensata e distorcida paramodernidade, a que
se pode agarrar o pré-púbere e o adolescente? Tudo lhes
foge, tudo se esfuma. A sociedade e a família sucumbiram. O
grande Outro
metamorfoseou-se
no consumismo e no virtual. Hoje, não regula, instiga; não
orienta, aliena; não individua, massifica; não
satisfaz, enlouquece; não realiza, angustia; não
constrói identidades, mas clivagens; insurge-se ruidosamente,
mas não escuta. Insuficiente e deprimido, o sujeito precisa de
se reinventar sistematicamente, (re)construindo, permanentemente, a
sua identidade, no âmbito de responsabilidades sociais
crescentes e de uma sempre renovada criatividade e iniciativa
diferenciadora. Mas tudo isto exige um ambiente familiar de eleição
e um Sistema Educativo capaz. É a pescadinha-de-rabo-na-boca.
A figura do pai é sempre primordial na vida dos filhos, uma ausência paterna pode trazer inúmeros danos psicológicos durante a sua formação bem como o aparecimento de comportamentos graves na idade adulta, quer psicológicos e até mesmo físicos. Não se pode esquecer o papel, também fundamental, que a mãe representa desde os primeiros momentos de vida e durante a sua evolução.
ResponderEliminarUm tema muito interessante que mostra como a evolução dos tempos interfere no desenvolvimento do ser humano. Bom fim de semana. Beijinho
Um texto muito interessante.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Nesta época quase disfuncional, o que mais existem são crianças que apenas contam com a presença da mãe que se "vira do avesso" para ser pai ao mesmo tempo… Não é nada fácil. Gosto sempre de o ler…
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Mais uma interessante publicação:))
ResponderEliminarPeço desculpa pelo atraso mas estive uns dias de folga ;))
Hoje:-Deambulando pela natureza, sem chão
Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.
Olá, Zé
ResponderEliminarTudo muito explicado!
E fico deveras assustada por ter conhecimento de crianças que sofreram e sofrem estas «ausências»:não merecem.
Um beijinho
Mana