quarta-feira, 21 de agosto de 2019

BUCÓLICAS ALUCINAÇÕES


    "(...) as saudades de Arnalda, estavam a deixar Adolfo - que pescava na represa - completamente alucinado.

   De repente, a mulher dos seus sonhos emerge das águas da levada, vestindo apenas, sobre o corpo nu, uma curta combinação encharcada, de linho branco e transparente; o cabelo solto assemelha-se a uma torrente de fios de ouro que tomba em cascata, pelos ombros de Arnalda, até à cintura estreita; o sacerdote pode ver, nitidamente, o umbigo descarado, sob o tecido; as ancas arredondam-se num apelo vigoroso, redundante na visão das coxas fortes, longas e firmes, encimadas ao centro pela loucura triangular do seu crespo musgo púbico, de tom fulvo, onde se acoitam insondáveis mistérios.

   O Padre Fraga luta contra a Natureza, tenta reprimir a vida que gira desvairada, através das suas veias. Não consegue. Todos os esforços são em vão. A imagem de Arnalda permanece na água; agora parece acenar-lhe e... É isso! A mulher está a chorar... Não é só a água que escorre dos cabelos... Agarra com mais força a cana e estarrece...

   Os seios de Arnalda são belos: cheios e firmes, insinuam-se no interior do tecido molhado, provocadores; os mamilos, lúbricos e em riste, apontam na sua direcção, acusadores. O Padre Fraga estremece, a cana cai na água e Adolfo também. (...)"

In "O Chão dos Sentidos" (Santos, 2013: 118 e 119)
https://www.bertrand.pt/livro/o-chao-dos-sentidos-manuel-braganca-dos-santos/15294368
Nota: Imagem do Google

9 comentários:

  1. Que beleza de texto ... cheio de aroma de primavera e sensualidade de verão. Adorei! Parabéns, Poeta!!! Beijinho.

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  2. Essa tua deusa Ondina
    Incendeia qualquer facho!
    Tão sensual e eu acho
    Que com padre não combina.

    A descrição da menina
    Ouriça o tesão do macho
    E pobre do padre ao riacho
    Pensando em obra divina...

    Sim! Divinal, tal pitéu
    Nú por debaixo do véu
    Ao olhar devasso, decerto,

    Não ao do padre que olha o céu,
    Quer salvação por troféu...
    Padre: é pra mim e o Humberto!

    Lindo texto! Prosa poética... Imagem divinal!... Parabéns! Abraço fraterno! Laerte.

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  3. Olá, Manel!

    Como tem passado? Há muito que não visito o seu espaço, mas estou de férias até setembro.

    Antes de comentar este extrato do "Chão dos Sentidos", deixe que lhe pergunte se o autor é o Manel deste livro ou não?

    Seja qual for a resposta, quem escreve assim, e nesta temática, deixa-nos à maré dos sentires e tanta "coisa" imaginamos!

    A descrição do corpo de Arnalda está perfeita, sensual e só um homem e excelente escritor o poderia dizer tão bem.

    As vontades são inerentes a qualquer ser humano, e o Padre Fraga (Adolfo Fraga, não é?) não era exceção. Afinal, era um homem com desejo.

    O final não é animador, é, aliás, trágico, caso o Padre não tenha conseguido libertar-se da água, mas, melhor será ler o livro.

    Parabéns pela sua escrita ou pela sua escolha.

    Beijos e bom fim de semana.

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    1. Très romantique, cet Amour Secret, chanté par Hélène, Céu!

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  4. Uma prosa poética muito bonita e sensual, Humberto, escrita com classe, o que não é fácil. Aplausos!
    Um ótimo fim de semana pra você!
    Beijos

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  5. Boa tarde...

    Numa visita, para marcar apenas presença, esperando a vossa compreensão... devidos a compromissos inesperados:-Existem desejos que esperam - | Poetizando e Encantando |

    Bjos
    Votos de um óptimo Fim-de-semana

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  6. Querido Zé
    Gostei de reler esta passagem!
    Um beijinho
    Mana

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  7. Mas que tentação esta Arnalda! Coitado do padre Fraga… Nem a pescar se livra das tentações.
    Um texto excelente, muito bem narrado. Gostei mesmo muito.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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