sexta-feira, 2 de agosto de 2019

SABER LER NAS ENTRELINHAS


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   Na era da comunicação virtual, global e omnipresente, como fica o jornalismo (televisivo e radiofónico) caso pretenda diferenciar comunicação e informação? Perante a presente dicotomia, não é possível confundir a comunicação intersubjectiva dos indivíduos, ainda que se trate de mero entertenimento, que é relacional, opcional, e informal, com a formalidade que visa a transmissão de determinados conteúdos informativos específicos, servindo receptores mais ou menos vastos. Em ambas, contudo, a subjectividade está sempre presente, bem como o fenómeno comunicacional.

     Sendo assim, importa, principalmente no segundo caso, pugnar por um esforço de aborgagem do real, respeitando a ética profissional e a deontologia jornalística. No primeiro, seria conveniente respeitar a impreparação das massas, não abusando da sua permeabilidade e receptividade à alienação, evitando atropelos à dignidade moral e à integridade mental e física – esta, por arrasto, das audiências.

    A propósito: no ano de 2011, se bem me lembro, uma aluna que apoiei na sua pós-formação universitária, ofereceu-me a obra A Locomotiva dos Sonhos (Paz Barroso, 2008), e, agora, depois da re-leitura da mesma, chamo a atenção para algo que este autor, nascido em 1957, trata, neste livro, de forma muito pertinente: trata-se da “opinião publicada”, que nada tem a ver com a opinião pública.

    Através de uma escrita clara e objectiva, Barroso demonstra que existe apenas a opinião publicada e não a opinião pública. Este facto deve-se à influência social, cada vez maior, exercida pelos meios de comunicação sobreviventes – estes prevalecem, sendo mais fortes e poderosos, porque se movimentam nos meandros do poder, com total descontracção e segurança, mistificando e substituindo a opinião pública, no embalo de uma moral adoptada pelas massas, de forma ingénua e colectiva, logo, legitimando o real adulterado, mas aceite pelas mesmas.

    O discurso jornalístico não se pode deixar comprometer, devendo ser a “mediação desinteressada do real”, fruto da visão neutral dos acontecimentos, correctamente mediatizados. Barroso lembra ainda que, neste âmbito, a opinião pública é substituída, no plano simbólico, por outras formas de opinião – e, aqui, acrescentamos a correlação deste aos planos do imaginário inconsciente.

    Fala depois na utilização jornalística de sondagens que partem do pressuposto de que existe consenso, a partir da questão colocada, como se não existisse outro tipo de problemáticas de real importância, para além daquela. É que, quanto maior for a desagregação social das massas, resultante da ausência de coesão por instinto, maior se torna a necessidade de serem e de se sentirem estimuladas por “interesses e motivações publicitárias”, isto é, pela mais descarada propaganda antidemocrática.

3 comentários:

  1. Acho muito interessante esta diferença entre opinião publicada e opinião pública. A comunicação social é, quase sempre, culpada disso.

    "Saber ler nas entrelinhas" sabe o meu Amigo. Basta ver a forma como comenta os meus poemas. Obrigada por isso.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. Bom dia e Boa semana.
    Gistei muito de sua publicação faz pensar
    e comparar com tudo que
    acontece.
    Bjins
    CatiahoAlc.
    do Blog
    https://reflexosespelhandoespalhandoamigos.blogspot.com/
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  3. No mundo actual a notícia em todos os aspectos é um bem necessário, mas temos de estar sempre cautelosos porque ela pode ser virtual, tendenciosa e manipuladora.
    A notícia como é publicada, é suscetível de influenciar a opinião pública.
    Gostei! Boa tarde, Poeta. Beijinho

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