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Não
é esta a primeira vez que fazemos referência à
distância que separa aquilo que a criança apr(e)ende na
escola, ou melhor, que nós julgamos que ela apr(e)ende e
interioriza e, portanto, tudo quanto a deveria preparar e predispor
a encarar, agir ou reagir de outra forma nas várias situações
do dia-a-dia, no sentido de melhor se comportar, de acordo com os
cânones civilizacionais (cívicos, éticos,
estéticos e morais), quando em situação, e a
maneira como efectivamente os alunos apr(e)endem e realmente
interiorizam tudo quanto lhes é facultado vivenciar numa
relação de ensino/aprendizagem tida como normal, isto
é, se ignorarmos a massiva confusão em que cada vez
mais a política educativa das últimas quatro décadas
tem feito mergulhar o sistema educativo deste país.
Por outras palavras: em qualquer
situação de “contexto de sala de aula”, os meninos
e meninas, os jovens e as jovens, por vezes, artificializam os seus
comportamentos, mostram-se cordatos e educados, ou, pelo contrário,
comportam-se indisciplinadamente prejudicando o ambiente lectivo,
logo, ou não aprendem convenientemente ou aprendem apenas
formalmente, pelo que as aprendizagens sem fazerem qualquer sentido
substancial para eles, não pesam, consequente e
congruentemente, na balança dos princípios e dos
valores orientadores do currículo, nem tão pouco do
alcance que aquele pretendem visar, esvaziando-se, neste
enquadramento, de forma frustrante e inglória.
Tenhamos sempre presente, portanto,
este tipo de dinâmica, mais ou menos oculta, que dilacera as
mais nobres e esforçadas atitudes curriculares dos professores
e dificulta as avaliações mais sinceras e criteriosas,
e que leva os docentes – a tal dinâmica – a acreditarem ter
percorrido determinadas etapas, ao nível das competências
gerais, cuja clarificação, na prática, está
longe de ser alcançada, acabando por, no final da educação
básica obrigatória, os pressupostos da Lei de Bases
do Sistema Educativo, não virem a ser nunca plasmados
positivamente no processo de desenvolvimento das crianças e
dos jovens.
Seguindo esta linha de raciocínio,
cabe aqui e agora perguntar , a quem seja capaz de, eventualmente,
responder, até que ponto foi conseguida, por parte dos alunos,
de forma capaz e consolidada, a construção e a tomada
de consciência da sua identidade pessoal e social? É
que, se tal se concretizou, nas melhores condições,
podemos então afirmar que os alunos se foram integrando de
modo airoso e compensador, desenvolvendo as suas personalidades
harmonicamente, as suas afectividades, os seus relacionamentos com os
outros e foram percebendo, cada vez melhor, o tipo de papel que lhes
cabe desempenhar na sociedade dos homens.
Mais: que tipo de preparação
aferiram, no sentido de participarem na vida cívica de forma
livre, responsável, solidária e crítica? Se
assim foi, podemos afirmar estar em presença e cidadãos
livres, autênticos, espontâneos, independentes e, acima
de tudo, humanamente democratas.
Ainda: que capital de tolerância
acumularam no sentido de respeitar e valorizar a diversidade das
pessoas e dos grupos quanto às suas opções e
especificidades, mesmo sabendo nós que todas as sociedades são
culturalmente controladas pelas gerações mais velhas e
pelos respectivos poderes instituídos? Sendo assim, tornam-se
mais naturais, menos forçados os sentimentos e comportamentos
que aqueles determinam, na empatia e na consideração
pelo próximo, numa linha positivamente humanista de não
faças aos outros o que não queres que te façam a
ti.
Também: que importância
conferem os alunos, no fim do Ensino Básico obrigatório,
às diferentes formas de conhecimento, comunicação
e expressão? Será que eles se preocupam em ler jornais,
em escutar os noticiários, em ir ao teatro, ao cinema, em ler
livros de autores e épocas diferentes, em visitar museus e
exposições de pintura, ou, pelo contrário,
continuam a esbanjar o tempo de forma vegetativa e parasita? O homem
é, tem de demonstrá-lo, um ser cerebral, portanto, não
pode deixar a escola como se nunca por lá tivesse passado.
Ou então: os alunos dar-se-ão
conta da realidade estética que deve reger a marcha da vida no
nosso planeta? Que tipo de oportunidades, ao nível das
artes em geral (música – solfejo, área de
expressões... adoptemos aqui, também a Educação
Física), foram dadas às crianças do Ensino
Básico, com firmeza e seriedade? A vida não é
só rigidez e monolitismo; a vida também deve
experênciar o agradável sabor e a beleza tranquila do
estético.
Terá penetrado na mente dos
nossos estudantes o bichinho da curiosidade intelectual, do gosto
pelas aprendizagens cada vez mais elaboradas e surpreendentes, o
prazer pelo trabalho e pelo estudo? É que o lazer
inconsequente e prolongado é sempre mau conselheiro, tantas
vezes redutor; cansa, satura; leva a vícios que empobrecem
espiritualmente a pessoa e, não raro, degradam o corpo.
Terá sido conseguida a
implantação consolidada de uma consciência
ecológica que estruture e conduza a personalidade dos alunos à
valorização e preservação do património
natural e cultural? Então, eles irão ser os primeiros a
olhar com outros olhos a importância e o significado das
florestas, dos parques e jardins das cidades e das vilas, da
necessidade de lutar incansavelmente contra a poluição
do ar, da água e dos solos, através das suas próprias
atitudes eco-racionais, devendo manter também bem vivas as
tradições culturais, sempre que humanas, positivas e
fundamentais para o futuro dos povos.
Muitas mais questões poderiam
ser colocadas, dado que importa sobretudo que as crianças
adquiram aquela fulcral capacidade de inter-relacionação
de tudo quanto fica dito com os saberes ministrados no dia-a-dia
lectivo, com sentido, substância e alcance relacional
relativamente aos outros (empatia e altruísmo) e à
estruturação ética e estética do mundo
enquanto um todo em permanente construção e mudança,
sempre apoiado pelos mais sérios princípios da paz, da
democracia, da solidariedade e da tolerância.
Mas, como dizíamos no início
deste artigo, quando tudo nos parece que está a ir de vento em
popa e, depois, na prática do quotidiano, as coisas não
funcionam de acordo com os princípios enunciados, então,
a escola, a tal de excelência e eleição,
onde tudo parece correr sobre rodas, como que terá
determinado, enquanto os alunos a frequentam, comportamentos
estereotipados; como que terá condicionado reflexos, conforme
viu Pavlov, e, uma vez cá fora, a criança
desalinha-se, desarticula-se, desestrutura-se, dissocia-se,
perde-se... ou, a sociedade, de tão descabelada que se
apresenta, determina, ela mesma, o desconchavo comportamental de
certas franjas populacionais, afinal impreparadas e problemáticas.
Pertinente o seu texto, meu Amigo. Eu tenho imensa dúvidas sobre aquilo que as nossas crianças aprendem e apreendem na escola. A sensação que tenho é que há muita coisa a falhar, pois a nossa juventude, em grande maioria é desinteressada tudo: da política, da ecologia, dos aspectos sociais, etc. Há algo que está a falhar nas escolas e nas famílias.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.