domingo, 13 de janeiro de 2019

QUE ESCOLA QUEREMOS, AFINAL?


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    Não é esta a primeira vez que fazemos referência à distância que separa aquilo que a criança apr(e)ende na escola, ou melhor, que nós julgamos que ela apr(e)ende e interioriza e, portanto, tudo quanto a deveria preparar e predispor a encarar, agir ou reagir de outra forma nas várias situações do dia-a-dia, no sentido de melhor se comportar, de acordo com os cânones civilizacionais (cívicos, éticos, estéticos e morais), quando em situação, e a maneira como efectivamente os alunos apr(e)endem e realmente interiorizam tudo quanto lhes é facultado vivenciar numa relação de ensino/aprendizagem tida como normal, isto é, se ignorarmos a massiva confusão em que cada vez mais a política educativa das últimas quatro décadas tem feito mergulhar o sistema educativo deste país.

    Por outras palavras: em qualquer situação de “contexto de sala de aula”, os meninos e meninas, os jovens e as jovens, por vezes, artificializam os seus comportamentos, mostram-se cordatos e educados, ou, pelo contrário, comportam-se indisciplinadamente prejudicando o ambiente lectivo, logo, ou não aprendem convenientemente ou aprendem apenas formalmente, pelo que as aprendizagens sem fazerem qualquer sentido substancial para eles, não pesam, consequente e congruentemente, na balança dos princípios e dos valores orientadores do currículo, nem tão pouco do alcance que aquele pretendem visar, esvaziando-se, neste enquadramento, de forma frustrante e inglória.

   Tenhamos sempre presente, portanto, este tipo de dinâmica, mais ou menos oculta, que dilacera as mais nobres e esforçadas atitudes curriculares dos professores e dificulta as avaliações mais sinceras e criteriosas, e que leva os docentes – a tal dinâmica – a acreditarem ter percorrido determinadas etapas, ao nível das competências gerais, cuja clarificação, na prática, está longe de ser alcançada, acabando por, no final da educação básica obrigatória, os pressupostos da Lei de Bases do Sistema Educativo, não virem a ser nunca plasmados positivamente no processo de desenvolvimento das crianças e dos jovens.

    Seguindo esta linha de raciocínio, cabe aqui e agora perguntar , a quem seja capaz de, eventualmente, responder, até que ponto foi conseguida, por parte dos alunos, de forma capaz e consolidada, a construção e a tomada de consciência da sua identidade pessoal e social? É que, se tal se concretizou, nas melhores condições, podemos então afirmar que os alunos se foram integrando de modo airoso e compensador, desenvolvendo as suas personalidades harmonicamente, as suas afectividades, os seus relacionamentos com os outros e foram percebendo, cada vez melhor, o tipo de papel que lhes cabe desempenhar na sociedade dos homens.

    Mais: que tipo de preparação aferiram, no sentido de participarem na vida cívica de forma livre, responsável, solidária e crítica? Se assim foi, podemos afirmar estar em presença e cidadãos livres, autênticos, espontâneos, independentes e, acima de tudo, humanamente democratas.

    Ainda: que capital de tolerância acumularam no sentido de respeitar e valorizar a diversidade das pessoas e dos grupos quanto às suas opções e especificidades, mesmo sabendo nós que todas as sociedades são culturalmente controladas pelas gerações mais velhas e pelos respectivos poderes instituídos? Sendo assim, tornam-se mais naturais, menos forçados os sentimentos e comportamentos que aqueles determinam, na empatia e na consideração pelo próximo, numa linha positivamente humanista de não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.

    Também: que importância conferem os alunos, no fim do Ensino Básico obrigatório, às diferentes formas de conhecimento, comunicação e expressão? Será que eles se preocupam em ler jornais, em escutar os noticiários, em ir ao teatro, ao cinema, em ler livros de autores e épocas diferentes, em visitar museus e exposições de pintura, ou, pelo contrário, continuam a esbanjar o tempo de forma vegetativa e parasita? O homem é, tem de demonstrá-lo, um ser cerebral, portanto, não pode deixar a escola como se nunca por lá tivesse passado.

    Ou então: os alunos dar-se-ão conta da realidade estética que deve reger a marcha da vida no nosso planeta? Que tipo de oportunidades, ao nível das artes em geral (música – solfejo, área de expressões... adoptemos aqui, também a Educação Física), foram dadas às crianças do Ensino Básico, com firmeza e seriedade? A vida não é só rigidez e monolitismo; a vida também deve experênciar o agradável sabor e a beleza tranquila do estético.

   Terá penetrado na mente dos nossos estudantes o bichinho da curiosidade intelectual, do gosto pelas aprendizagens cada vez mais elaboradas e surpreendentes, o prazer pelo trabalho e pelo estudo? É que o lazer inconsequente e prolongado é sempre mau conselheiro, tantas vezes redutor; cansa, satura; leva a vícios que empobrecem espiritualmente a pessoa e, não raro, degradam o corpo.

    Terá sido conseguida a implantação consolidada de uma consciência ecológica que estruture e conduza a personalidade dos alunos à valorização e preservação do património natural e cultural? Então, eles irão ser os primeiros a olhar com outros olhos a importância e o significado das florestas, dos parques e jardins das cidades e das vilas, da necessidade de lutar incansavelmente contra a poluição do ar, da água e dos solos, através das suas próprias atitudes eco-racionais, devendo manter também bem vivas as tradições culturais, sempre que humanas, positivas e fundamentais para o futuro dos povos.

    Muitas mais questões poderiam ser colocadas, dado que importa sobretudo que as crianças adquiram aquela fulcral capacidade de inter-relacionação de tudo quanto fica dito com os saberes ministrados no dia-a-dia lectivo, com sentido, substância e alcance relacional relativamente aos outros (empatia e altruísmo) e à estruturação ética e estética do mundo enquanto um todo em permanente construção e mudança, sempre apoiado pelos mais sérios princípios da paz, da democracia, da solidariedade e da tolerância.


    Mas, como dizíamos no início deste artigo, quando tudo nos parece que está a ir de vento em popa e, depois, na prática do quotidiano, as coisas não funcionam de acordo com os princípios enunciados, então, a escola, a tal de excelência e eleição, onde tudo parece correr sobre rodas, como que terá determinado, enquanto os alunos a frequentam, comportamentos estereotipados; como que terá condicionado reflexos, conforme viu Pavlov, e, uma vez cá fora, a criança desalinha-se, desarticula-se, desestrutura-se, dissocia-se, perde-se... ou, a sociedade, de tão descabelada que se apresenta, determina, ela mesma, o desconchavo comportamental de certas franjas populacionais, afinal impreparadas e problemáticas.


1 comentário:

  1. Pertinente o seu texto, meu Amigo. Eu tenho imensa dúvidas sobre aquilo que as nossas crianças aprendem e apreendem na escola. A sensação que tenho é que há muita coisa a falhar, pois a nossa juventude, em grande maioria é desinteressada tudo: da política, da ecologia, dos aspectos sociais, etc. Há algo que está a falhar nas escolas e nas famílias.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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