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Temos, nos últimos tempos,
pensado muito nesta coisa de valores, de princípios, de
normas, de educação e, curiosamente, quanto mais
atenção damos ao assunto, e a tudo o mais que com ele
se relaciona, tanto mais decepcionados ficamos com o comportamento
das pessoas e das instituições, sejam elas quais forem,
isto é, tanto faz que as mesmas se liguem ao sector público
como ao privado, quer tenham que ver com estruturas de base como com
as de topo, enfim, nada as abona em nada.
Alguns exemplos apenas, para que esta
nossa introdução possa ter algum fundamento, alguma
razão de ser, um qualquer resquício de plausibilidade,
não vão os leitores começar a pensar que
estamos a falar por falar... Pois bem! Vejam só se temos ou
não razão!
Sempre que recebemos alguma
convocatória para uma reunião de trabalho; sempre
comparecemos a um seminário, forum ou congresso; sempre que
nos deslocámos aqui ou acolá depois de previamente termos
combinado com outra pessoa um qualquer encontro, jantar, ou cinema,
etc., fazemos gala de cumprir escrupulosamente a(s) hora(s)
decididas, aprazadas, estipuladas. Pois não é que
esperámos e desesperámos, sem que se verifique, quanto mais não
seja, um só desvio da regra geral, para que a norma do desprezo pelo cumprimento dos horários, pelo respeito
que é devido pela palavra dada, viesse, com toda a
redundância, confirmar o desvio do
desregramento, do desconchavo em que vai, nos nossos dias, navegando,
à deriva, esta sociedade tão estapafurdiamente mal
urdida?
No meio de tudo isto, no entanto,
acaba por ter a sua graça a cara com que somos olhados pelos
outros, precisamente aqueles que começam a chegar à
sala das reuniões, dos congressos, dos encontros, por vezes,
meia hora depois, ou mais, do horário em que aqueles deveriam
ter tido o seu início. “ Dormiste cá, foi?”,
costumámos ouvir da boca de quem, obviamente, já nos conhece e
se dá ao luxo de, ainda por cima, debochar com a situação.
Na realidade, e agora falando apenas das reuniões que ao longo
destas três décadas de trabalho temos integrado (existem
excepções, garantimos), mal compreendemos, portanto,
entre muitas outras razões ou motivos, por que diabo são
estes encontros de trabalho (?) marcados, por exemplo, nos períodos
de interrupção lectiva, para as nove horas da manhã,
se as pessoas começam apenas a chegar já depois das
nove e trinta terem sido ultrapassadas nos respectivos relógios? Por
que é que não se marcam as reuniões para as dez
horas ou para as dez e trinta minutos? Ah, não, caros
leitores, não é que nos interesse ficar mais tempo na
cama, não senhor – levantámo-nos sempre por volta das
sete horas da manhã, independentemente do dia assinalado pelo
calendário – porque, desta maneira (pensamos nós),
haveria tempo, quiçá, para que a torrente desenfreada
da conversa gratuita pudesse ser posta em dia, entre as nove e as
horas aventadas para o início das referidas reuniões.
Vistas bem as coisas, e tendo em
conta os princípios democráticos que apontam para a
vitória das maiorias, natural, lógico e intuitivo será
pensar que aqui, neste particular, das duas uma: ou os valores estão
efectivamente em queda livre, sem qualquer tipo de cotação
no mercado dos capitais de eleição cívica e
elevação moral, ou então, dado que a esmagadora
maioria das pessoas pouco ou nada cumpre, mas, porque de maiorias se
trata, têm toda a legitimidade para agirem e continuarem a
proceder como muito bem lhes apetece, porque o(s) outro(s) estão
em minoria, sem, portanto, nenhum tipo de representatividade
numérica. E esta agora?
Meu Amigo, é muito pertinente este seu texto. Na minha opinião os valores estão mesmo em queda livre. E pior, já há pouca gente que se interesse por isso… Obrigada pela reflexão.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.