terça-feira, 22 de maio de 2018

A ANOREXIA MENTAL


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         Começando pelo conceito oposto, refira-se, desde já, a bulimia, isto é, a fome devoradora, como etimologicamente foi designada pelos gregos. Esta perturbação alimentar radica, de alguma forma, na instabilidade emocional que se pode ligar a um distúrbio da apercepção e valoração do self, pautado pela perda de auto-estima e de respeito-próprio, pelo apagamento depressivo e pela ansiedade exagerada. Logo, a ingestão desregrada de alimentos funciona como uma espécie de compensação automatizada, inelutável e inconsciente que urge tratar...

            No que diz respeito à anorexia mental – testemunhámos já, no ginásio que frequentamos, mulheres jovens, de arrepiante magreza, obcecadas pela prática do exercício físico –, e, aludindo, uma vez mais, à etimologia grega, covém dar conta da significação do conceito: trata-se de inapetência alimentar, ou seja, da falta drástica de apetite. Contudo, em certas mulheres anorécticas, só depois de uma significativa perda de peso (15 Kg, + ou -) se considera a pessoa enferma... mas tudo se complica quando, ciclicamente, para que possam ser invadidas por um dilacerante complexo de culpa (sado-masoquismo), se permitem devorar enormes quantidades de alimentos.

            Para estas pessoas, a balança é um instrumento censório, acusador, debilitante, caso o ponteiro possa indicar algum aumento de peso... por mínimo que seja. A solução é ignorar os alimentos, para fugir à tortura que constitui a simples ideia de somar uns gramas mais. Evidentemente que estas pessoas não estão bem, pelo que estes estados de espírito reflectem disfuncionalidades que radicaram e vão prevalecendo no ambiente familiar, e que se enquadram no tipo de relação que os pais (as mães, sobremaneira) estabeleceram e mantêm com as filhas – e sobre isto muito temos reflectido. Ou eram ( e continuam a ser) pais demasiado ansiosos e sufocantes, ou extremamente omissos e ausentes. Num ou noutro caso, a relação de objecto torna-se indefinida, ambivalente, obsessiva, restritiva ou rígida, podendo também, em sede de triangulação familiar, serem gerados comportamentos histéricos insanáveis.

            A anorexia tem início, normalmente, na fase mais afirmativa e decisiva da adolescência, quando a jovem está mais aberta ao exterior e às objectivações mais representativas da sua feminilidade idealizada, portanto, mais dependente de uma tão necessária quanto fundamental personalidade identitária e emocional estável. Esta, foi deformada, condicionada ou impedida de se estruturar, as mais das vezes, devido – tanto na infância como nesta fase –, à impreparação relacional materna (desequilíbrio mental que se traduz em implicância generalizada, desmoralização, censura, assédio moral e autoritarismo histérico dirigidos à filha). Estas situações, nestas idades, facilmente propiciam quandros depressivos graves e complexos, que desembocam em reiterada perda de apetite e, com a diminuição continuada de peso, precipitam outras consequências nefastas.


            Um dos problemas mais sérios, imediatos e de repercussões melindrosas prende-se com a amenorreia da jovem. Depois, soma-se a perda da humidade natural sebácea da pele, o enfraquecimento capilar e a queda de cabelo, para além de outras alterações bioquímicas de carácter secundário. Também a alteração provocada na generalidade do funcionamento hormonal feminino, por via da ausência de secreção de estrogéneos e foliculina, aporta dolorosos efeitos à estrutura da personalidade feminina. Mesmo depois de uma eventual cura dos hábitos alimentares, a afecção do lobo anterior da hipófise [(glandular) base do crâneo, na cavidade da sela turca)] pode prevalecer, alertam os entendidos. Assim, mesmo convalescentes, estas doentes, para atenuar as sequelas, continuam a ter absoluta necessidade de acompanhamento psicoterapêutico e farmacológico.

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