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Começando pelo conceito oposto, refira-se, desde já, a bulimia,
isto é, a fome devoradora, como etimologicamente foi designada pelos gregos.
Esta perturbação alimentar radica, de alguma forma, na instabilidade emocional
que se pode ligar a um distúrbio da apercepção e valoração do self,
pautado pela perda de auto-estima e de respeito-próprio, pelo apagamento
depressivo e pela ansiedade exagerada. Logo, a ingestão desregrada de alimentos
funciona como uma espécie de compensação automatizada, inelutável e
inconsciente que urge tratar...
No que diz
respeito à anorexia mental – testemunhámos já, no ginásio que
frequentamos, mulheres jovens, de arrepiante magreza, obcecadas pela prática do
exercício físico –, e, aludindo, uma vez mais, à etimologia grega, covém dar
conta da significação do conceito: trata-se de inapetência alimentar, ou seja,
da falta drástica de apetite. Contudo, em certas mulheres anorécticas,
só depois de uma significativa perda de peso (15 Kg, + ou -) se considera a
pessoa enferma... mas tudo se complica quando, ciclicamente, para que possam
ser invadidas por um dilacerante complexo de culpa (sado-masoquismo), se
permitem devorar enormes quantidades de alimentos.
Para estas
pessoas, a balança é um instrumento censório, acusador, debilitante, caso o
ponteiro possa indicar algum aumento de peso... por mínimo que seja. A solução
é ignorar os alimentos, para fugir à tortura que constitui a simples ideia de
somar uns gramas mais. Evidentemente que estas pessoas não estão bem, pelo que
estes estados de espírito reflectem disfuncionalidades que radicaram e vão
prevalecendo no ambiente familiar, e que se enquadram no tipo de relação que os
pais (as mães, sobremaneira) estabeleceram e mantêm com as filhas – e sobre
isto muito temos reflectido. Ou eram ( e continuam a ser) pais demasiado
ansiosos e sufocantes, ou extremamente omissos e ausentes. Num ou noutro caso,
a relação de objecto torna-se indefinida, ambivalente, obsessiva, restritiva ou
rígida, podendo também, em sede de triangulação familiar, serem gerados
comportamentos histéricos insanáveis.
A anorexia tem
início, normalmente, na fase mais afirmativa e decisiva da adolescência, quando
a jovem está mais aberta ao exterior e às objectivações mais representativas da
sua feminilidade idealizada, portanto, mais dependente de uma tão necessária
quanto fundamental personalidade identitária e emocional estável. Esta, foi
deformada, condicionada ou impedida de se estruturar, as mais das vezes, devido
– tanto na infância como nesta fase –, à impreparação relacional materna
(desequilíbrio mental que se traduz em implicância generalizada,
desmoralização, censura, assédio moral e autoritarismo histérico dirigidos à
filha). Estas situações, nestas idades, facilmente propiciam quandros
depressivos graves e complexos, que desembocam em reiterada perda de apetite e,
com a diminuição continuada de peso, precipitam outras consequências nefastas.
Um dos problemas
mais sérios, imediatos e de repercussões melindrosas prende-se com a amenorreia
da jovem. Depois, soma-se a perda da humidade natural sebácea da pele, o
enfraquecimento capilar e a queda de cabelo, para além de outras alterações
bioquímicas de carácter secundário. Também a alteração provocada na
generalidade do funcionamento hormonal feminino, por via da ausência de
secreção de estrogéneos e foliculina, aporta dolorosos efeitos à estrutura da
personalidade feminina. Mesmo depois de uma eventual cura dos hábitos
alimentares, a afecção do lobo anterior da hipófise [(glandular) base do
crâneo, na cavidade da sela turca)] pode prevalecer, alertam os entendidos.
Assim, mesmo convalescentes, estas doentes, para atenuar as sequelas, continuam
a ter absoluta necessidade de acompanhamento psicoterapêutico e farmacológico.
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