terça-feira, 22 de maio de 2018

EM PROL DA LITERATURA INFANTIL



Imagem do Google


          Nos dias 17, 18 e 19 de Março de 2001, no Campus da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), na cidade de VILA REAL, decorreu o  I CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURA INFANTIL. À data, proferímos a comunicação intitulada – "A Magia do Conto no Desenvolvimento Integral da Criançaque, na sua parte final, aludia às várias peripécias de “Os Três Porquinhos” e à forma como reagiram ao potencial perigo do Lobo Mau.

            Em conclusão, referímos que o conto em apreço “ilustra bem as várias interacções verificadas entre o id, o ego e o super-ego, e a maneira como, simbolicamente, as várias passagens da história exercem a sua benéfica influência, sem que a criança se dê, conscientemente, conta. Nesta conformidade, as ameaças do id são sublimadas, contribuindo para a integração da personalidade infantil, em favor do ego articulado com o super-ego enriquecido.”

            E acrescentámos: “Só a compreensão e aceitação dos nossos próprios problemas, à medida que vamos crescendo e evoluindo, nos dá a capacidade de lhes fazer face, procurando encetar a resolução dos mesmos. As explicações e as muletas dos outros não são nem podem ser vitalícias; o sentido da vida e a confiança, o autocontrolo e a auto-estima têm de, forçosamente, estar em nós, pelo que sem os contos de fadas não é possível pretender educar.”

            Logo depois de Freud (1865-1939) e de Jung (1875-1961), um dos homens que mais importância viria a dar às potencialidades terapêuticas dos contos infantis, seria Bruno Bettelheim. Este cientista defende a ideia de que, através da literatura infantil (preferencialmente contada, não lida) é possível a reestruturação da personalidade afectada na criança, por força das agressões ambienciais. Estas são passíveis de provocar instabilidade emocional, complexos, ansiedade e regressões, o que provoca desequilíbrios na interacção harmonicamente desejável entre o id, o ego e o super-ego. É que nenhuma destas três instâncias se deve sobrepor às restantes.

            Nas fases fulcrais do desenvolvimento psicológico infantil, as crianças vão ter de enfrentar e tentar ultrapassar desafios duros e difíceis, como o são a disjunção edipiana, os ciúmes dos irmãos ou irmãs, o egocentrismo, o narcisismo, o redimensionamento gradual da consciência em detrimento da progressiva diluição das fantasias omnipotentes, tão típicas na idade pré-escolar e, depois, na adolescência. Para o efeito, importa elaborar devidamente os objectos internos, através do acesso aos conteúdos inconscientes; este processo é facilitado pelo fantástico e pelo maravilhoso das histórias infantis; pela magia e pela simbolização que os contos encerram, a par do saudável crescendo da integralidade corpórea e da tranquila consciência de si.

            A criança sempre que viaja pelo mundo fantástico das histórias consegue, paulatinamente, congregar as energias essenciais à construção de uma personalidade alicerçada; é capaz de se situar no âmbito da família, sem decepções frustrantes e aniquiladoras; adquire forma de se afirmar entre os pares, quando entrar na escola; vai sabendo seguir os melhores modelos identitários, primeiro, na família, depois, na sociedade, com o outro, sendo ainda capaz de se furtar a alteridades condicionantes, redutoras ou compensatórias, porque a vida deve ser vivida, criativamente, em liberdade e sem angústias.



Sem comentários:

Enviar um comentário