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Nos dias 17, 18 e 19 de
Março de 2001, no Campus da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(UTAD), na cidade de VILA REAL, decorreu o I CONGRESSO
INTERNACIONAL DE LITERATURA INFANTIL. À data, proferímos a
comunicação intitulada – "A
Magia do Conto no Desenvolvimento Integral da Criança” que, na sua parte final,
aludia às várias peripécias de “Os Três Porquinhos” e à forma como
reagiram ao potencial perigo do Lobo Mau.
Em conclusão, referímos que o conto
em apreço “ilustra bem as várias interacções verificadas entre o id,
o ego e o super-ego, e a maneira como,
simbolicamente, as várias passagens da história exercem a sua benéfica
influência, sem que a criança se dê, conscientemente, conta. Nesta
conformidade, as ameaças do id são sublimadas, contribuindo para
a integração da personalidade infantil, em favor do ego
articulado com o super-ego enriquecido.”
E acrescentámos: “Só a compreensão e
aceitação dos nossos próprios problemas, à medida que vamos crescendo e
evoluindo, nos dá a capacidade de lhes fazer face, procurando encetar a
resolução dos mesmos. As explicações e as muletas dos outros não são nem podem
ser vitalícias; o sentido da vida e a confiança, o autocontrolo e a auto-estima
têm de, forçosamente, estar em nós, pelo que sem os contos de fadas não é
possível pretender educar.”
Logo depois de Freud (1865-1939)
e de Jung (1875-1961), um dos homens que mais importância viria a dar às
potencialidades terapêuticas dos contos infantis, seria Bruno Bettelheim.
Este cientista defende a ideia de que, através da literatura infantil
(preferencialmente contada, não lida) é possível a reestruturação da
personalidade afectada na criança, por força das agressões ambienciais. Estas
são passíveis de provocar instabilidade emocional, complexos, ansiedade e
regressões, o que provoca desequilíbrios na interacção harmonicamente desejável
entre o id, o ego e o super-ego. É
que nenhuma destas três instâncias se deve sobrepor às restantes.
Nas fases fulcrais do
desenvolvimento psicológico infantil, as crianças vão ter de enfrentar e tentar
ultrapassar desafios duros e difíceis, como o são a disjunção edipiana, os
ciúmes dos irmãos ou irmãs, o egocentrismo, o narcisismo, o redimensionamento
gradual da consciência em detrimento da progressiva diluição das fantasias
omnipotentes, tão típicas na idade pré-escolar e, depois, na adolescência. Para
o efeito, importa elaborar devidamente os objectos internos, através do acesso
aos conteúdos inconscientes; este processo é facilitado pelo fantástico e pelo
maravilhoso das histórias infantis; pela magia e pela simbolização que os
contos encerram, a par do saudável crescendo da integralidade corpórea e da
tranquila consciência de si.
A criança sempre que viaja pelo
mundo fantástico das histórias consegue, paulatinamente, congregar as energias
essenciais à construção de uma personalidade alicerçada; é capaz de se situar
no âmbito da família, sem decepções frustrantes e aniquiladoras; adquire forma
de se afirmar entre os pares, quando entrar na escola; vai sabendo seguir os
melhores modelos identitários, primeiro, na família, depois, na sociedade, com
o outro, sendo ainda capaz de se furtar a alteridades condicionantes, redutoras
ou compensatórias, porque a vida deve ser vivida, criativamente, em liberdade e
sem angústias.
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