terça-feira, 22 de maio de 2018

A DIMENSÃO HUMANA DOS AFECTOS



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         A dimensão humana dos afectos não pode nem deve ser equacionada, num qualquer âmbito de análise que ignore, pura e simplesmente, a vertente Biológica do ser humano, a realidade cognitiva e, ainda, toda a complexidade ideológica ou espiritual, se quiserem. Contudo, focar-nos-emos, por agora, mais propriamente, na dialéctica que, no quadro da esgrima dos afectos, tem vindo a desconcertar os conceitos, a fazer destoar as consonâncias, a desvirtuar as vontades, em nome da falaciosa especulação do progresso.

            Trata-se, afinal, de um progresso enganador que vai tecendo loas às alegadas “vitórias” da ciência, sempre que esta possibilita artifícios genéticos, para gáudio dos seus autores que – narcisismo oblige –, pretendem, com o beneplácito e participação deliberada e egoísta de outrem, dar continuidade mais ampla e palpável às suas teses e experiências. Mas alguém pensou já nos legítimos direitos e vontades posteriores de quem irá nascer em resultado de tamanha engenharia laboratorial?!!...

            Tal como não gostamos da expressão bebé-proveta – e de tudo quanto a mesma implica –, também abominámos as fantasias delirantes de Hitler, quando este fanático preparou, em clínicas construídas para o efeito, encontros entre homens e mulheres, escolhidos a dedo (de raça ariana), para a concretização de relacionamentos sexuais mecânicos, visando a (re)produção controlada, monitorizada e apoiada de novos seres cientifizados, ideais. Ainda que salvaguardadas as devidas diferenças e distâncias, aquilo que se pretende fazer, nos dias que correm, continua a constituir um erro grave, inconsequente e irresponsável, pois desconhecemos as repercussões que terá, no futuro, na personalidade (Self – identidade, individuação, diferenciação, afirmação, inserção e pertença) das crianças que surgirão e nas suas relações de objecto. Uma adopção, enquanto mal-menor, pode sempre constituir uma alternativa mais útil e, ter, até, um maior alcance social, julgamos nós!

            Mas voltemos à dimensão humana dos afectos e à sua inextricável ligação genital. A afectividade é apanágio de homens e mulheres, e tal mais-valia potencial tanto pode melhorar como piorar a performance relacional de intimidade. Essa consciência afectiva (sentimento emocional), que Freud designou de “quantum de afecto” (energia pulsional) que investe as representações é: qualitativa (aversão ou atracção, isto é, oposição dinâmica de forças) e quantitativa (intensidade energética – economia), podendo, no primeiro aspecto, satisfazer a pessoa em causa em toda a sua dimensão subjectiva (princípio do prazer); já no segundo caso, as representações são, necessariamente, muito mais objectivadas (princípio da realidade), podendo mesmo, portanto, ser desinvestidas por desprazer [Sándor Ferenczi (1873-1937)].

            Mutatis mutandis, já aqui escrevemos (Hemisférios Cerebrais e Dominâncias) sobre a biologia das diferenças convergentes, equilibradoras dos afectos entre homens e mulheres e, está bem de ver, tamanha diversidade só empresta, concede um gratificante colorido à vida relacional, dual das famílias. Não é, portanto, linear que o homem dispense a ternura ou que busque apenas a genitalidade da mulher; também não é rígido que a mulher secundarize a sensibilidade masculina e seja apenas sensualidade e essência poética; não, as coisas, em ambas as metades, encontram-se, biologicamente, dotadas de uma perfeita e notável dinâmica de justeza e precisão.



 





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