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A
dimensão humana dos afectos não pode nem deve ser equacionada, num qualquer
âmbito de análise que ignore, pura e simplesmente, a vertente Biológica do ser
humano, a realidade cognitiva e, ainda, toda a complexidade ideológica ou
espiritual, se quiserem. Contudo, focar-nos-emos, por agora, mais propriamente,
na dialéctica que, no quadro da esgrima dos afectos, tem vindo a desconcertar
os conceitos, a fazer destoar as consonâncias, a desvirtuar as vontades, em
nome da falaciosa especulação do progresso.
Trata-se, afinal, de um progresso
enganador que vai tecendo loas às alegadas “vitórias” da ciência, sempre que
esta possibilita artifícios genéticos, para gáudio dos seus autores que –
narcisismo oblige –, pretendem, com o beneplácito e participação
deliberada e egoísta de outrem, dar continuidade mais ampla e palpável às suas
teses e experiências. Mas alguém pensou já nos legítimos direitos e vontades
posteriores de quem irá nascer em resultado de tamanha engenharia
laboratorial?!!...
Tal como não gostamos da expressão
bebé-proveta – e de tudo quanto a mesma implica –, também abominámos as
fantasias delirantes de Hitler, quando este fanático preparou, em
clínicas construídas para o efeito, encontros entre homens e mulheres,
escolhidos a dedo (de raça ariana), para a concretização de relacionamentos
sexuais mecânicos, visando a (re)produção controlada, monitorizada e apoiada de
novos seres cientifizados, ideais. Ainda que salvaguardadas as devidas
diferenças e distâncias, aquilo que se pretende fazer, nos dias que correm,
continua a constituir um erro grave, inconsequente e irresponsável, pois
desconhecemos as repercussões que terá, no futuro, na personalidade (Self
– identidade, individuação, diferenciação, afirmação, inserção e pertença)
das crianças que surgirão e nas suas relações de objecto. Uma adopção, enquanto
mal-menor, pode sempre constituir uma alternativa mais útil e, ter, até, um
maior alcance social, julgamos nós!
Mas voltemos à dimensão humana dos
afectos e à sua inextricável ligação genital. A afectividade é apanágio de
homens e mulheres, e tal mais-valia potencial tanto pode melhorar como piorar a
performance relacional de intimidade. Essa consciência afectiva (sentimento
emocional), que Freud designou de “quantum de afecto” (energia
pulsional) que investe as representações é: qualitativa (aversão ou atracção,
isto é, oposição dinâmica de forças) e quantitativa (intensidade energética –
economia), podendo, no primeiro aspecto, satisfazer a pessoa em causa em toda a
sua dimensão subjectiva (princípio do prazer); já no segundo caso, as
representações são, necessariamente, muito mais objectivadas (princípio da
realidade), podendo mesmo, portanto, ser desinvestidas por desprazer [Sándor
Ferenczi (1873-1937)].
Mutatis mutandis, já aqui
escrevemos (Hemisférios Cerebrais e Dominâncias) sobre a biologia
das diferenças convergentes, equilibradoras dos afectos entre homens e mulheres
e, está bem de ver, tamanha diversidade só empresta, concede um gratificante
colorido à vida relacional, dual das famílias. Não é, portanto, linear que o
homem dispense a ternura ou que busque apenas a genitalidade da mulher; também
não é rígido que a mulher secundarize a sensibilidade masculina e seja apenas
sensualidade e essência poética; não, as coisas, em ambas as metades,
encontram-se, biologicamente, dotadas de uma perfeita e notável dinâmica de
justeza e precisão.
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