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Ser
capaz de emitir opinião sobre determinado assunto tem muito que se lhe diga, já
que, cada vez mais, em certas sociedades, os poderes instituídos e as ideologias
(leia-se, a propaganda) de que se servem, vão impondo o padrão que mais lhes
interessa, no sentido da formatação do pensamento único, no seio das massas.
Não, não, isto não se passa apenas nas conhecidas ditaduras que grassam pelo
globo, mas também se verifica nas mais, aparentemente, cordatas democracias.
Numas mais, noutras menos, como se depreende. A humanidade é mesmo assim!
A
propósito do conceito de opinião, Platão (428/7-348/7 a.C.), o filósofo grego, afirmou que só temos conhecimento daquilo
que existe em termos absolutos, pelo que aquilo que não existe absolutamente
não é cognoscível. No entanto, o que dizer do que é e não é a um só tempo?!
Aqui, para que se faça luz, importa instar para a existência de algo que se
possa situar no intervalo entre o conhecimento e a ignorância. Ora, é
precisamente a este espaço de percepção intermédia que se adequa a opinião.
Isto passa-se, ainda segundo Platão, devido à capacidade humana de ler a
aparência, para melhor conviver, no dizer dos escolásticos, com a
passagem da potência aos actos.
A
procura da verdade, contudo, não se liga a opiniões, isto é, o papel do
filósofo deve estar focado no carácter distintivo e não acidental do ser. Ao
contrário, a opinião aponta sempre para uma probabilidade e nunca para uma
certeza intelectual e, sendo assim, pode ser vista, enquanto conceito tão
banalizado nos tempos que correm, como algo cada vez mais afastado quer do
conhecimento quer da dúvida. Reparem que não existe, numa qualquer opinião, nem
um saber propriamente dito, nem um simples desconhecimento; a opinião
alimenta-se, antes, de uma certa assertividade peculiar.
Ainda
assim, devido à maior ou menor probabilidade das razões que a sustentam, a
opinião pode aproximar-se do conhecimento, ou, até mesmo, vir a tornar-se em
puro saber, caso as razões aduzidas revistam possibilidades absolutas. O
conhecimento das opiniões emitidas, seja em que contexto democrático for, é
sempre susceptível de duas formas de reacção por parte de quem as ouve:
anuência e reforço ou contestação e contraditório... Isto, quando não se
verifica o condicionamento pelo pensamento único.
Tão difícil falar de democracia quando entre o que é e o que não é existe um espaço . E se nesse espaço as opiniões se degladiam, imagina explicar a génese de tudo isto à luz de Platão !
ResponderEliminarBom demais meu querido amigo , este teu artigo de opinião !
Abraço , Manuel 😘
"O conhecimento das opiniões emitidas, seja em que contexto democrático for, é sempre susceptível de duas formas de reacção por parte de quem as ouve: anuência e reforço ou contestação e contraditório... Isto, quando não se verifica o condicionamento pelo pensamento único." Não posso estar mais de acordo, meu Amigo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Gostei do texto filosófico, mesmo que eu não creia em filosofia, mas acredito em filosofias, visto que filosofia é a busca da verdade e essa busca assenta-se na relação entre a psique do indivíduo e o exterior. Como cada um tem diferente raciocínio lógico com lógicas diversas, não existe verdade universal, a não ser a verdade matemática que não é verdade, mas uma convenção. Isso posto, cada indivíduo tem a sua própria filosofia ou sua verdade. Quanto a democracia, é o governo da maioria e creio ser a melhor madeira de convívio harmônico: aos perdedores, o respeito e aos vencedores, a tolerância. Como dizem por cá: "manda quem pode e BEDECE quem tem medo. Gostei muito do texto. Parabéns por tratar de assunto de tão alto nível! Grande abraço. Laerte.
ResponderEliminarOlá Humberto, um texto fantástico bem esclarecedor em fundamentos sobre a manipulação e o poder de opinar em qualquer circunstancia.A democracia ficou em papel e dicionários, pois há sempre uma camuflagem sobre ela. Vivendo num país de democracia avacalhada sei bem a profundidade de seu texto.
ResponderEliminarGrato por partilhar tão inteligente texto.
Meu abraço e boa semana amigo.