No dizer de Pierre
Mabille (1904-1952), “o Maravilhoso exprime a necessidade de
ultrapassar os limites impostos pela nossa estrutura, de atingir uma
maior beleza, um maior poder, uma maior duração. O
Maravilhoso visa superar as barreiras do espaço e do tempo;
pretende destruir todos os obstáculos. Ele é a luta da
Liberdade e é contra tudo o que a reduz, destrói ou
mutila”.
“(...) O Maravilhoso
aproveita-se dos pontos de fraqueza da inteligência
organizadora, como o fogo de um vulcão se insinua entre as
falhas da rocha; ele ilumina os celeiros da infância, é
a estranha lucidez do delírio, é a luz do sonho, a
claridade verde da paixão...”.
Depois de analisada, com
a devida atenção, esta pequena mas deliciosa explanação
de Pierre Mabille, relativamente ao conceito de Maravilhoso, sou
levado a concluir o quão arredados temos andado todos das
necessidades mais prementes das crianças, neste particular,
devido à falta de informação inerente a este
tipo de matérias, o que redunda, na prática, num
tremendo vazio relacional, ao nível de uma certa
contextualização que deveria, na prática lectiva
diária, consubstanciar um enquadramento (ensino/aprendizagem)
de eleição.
Já lá vai
o tempo em que as crianças – como se passou comigo –
cresciam na doce envolvência das famílias alargadas,
isto é, aquelas que incluíam os avós e/ou os
tios, quando tal se verificava, claro, e podiam usufruir, conforme
referi já num escrito anterior, de um sem número de
situações nas quais, a talho de foice, os avós,
sempre adorados e respeitados, lhes iam contando todo o tipo de
histórias, de cantilenas e lenga-lengas, de contos, enfim...
Certo dia, a avó Albina, perante a insaciável
curiosidade dos netos, já estafada, disparou de mansinho:
“tenho um saco de cantigas / e mais uma taleigada / mas se hoje as
canto todas / amanhã não canto nada”.
Que resta hoje às
crianças, na prática, que lhes permita encetar a
fabulosa, apaziguadora e edificante viagem pela aventura do sonho,
nas asas mágicas do maravilhoso, rumo ao incrível
universo do seu próprio imaginário?! Que ponte
conceptual estará o actual sistema educativo disposto a
colocar ao serviço dos meninos e das meninas deste país,
no seio do mais legítimo contexto de sala de aula, a partir
das condições que urge criar, no sentido de derrubar as
nefandas barreiras existenciais que se deparam ao normal
desenvolvimento de todas e de cada uma das crianças que, com
toda a naturalidade, demandam o ensino dito pré-primário?!
(CONTINUA)
Imagem do Google |
Querido Ze
ResponderEliminarFelizmente,ha locais onde as crianças da pre-primaria tem acesso a livros, que trazem para os pais lhes lerem ao serao! No meu caso, para a avo ler...
O que seria das crianças se as privassemos da capacidade de sonharem?!
Parabens pelo texto.
E preciso «abana» certas consciencias.
Beijinhos
Mana