O conceito psicanalítico
de “PROJECÇÃO” pode revestir várias
acepções. Para o que aqui e agora importa sublinhar,
ater-nos-emos à sua perspectiva mais ampla, definida por Freud
– a projecção psicológica funciona como um
mecanismo de desfesa que consiste em atribuir aos outros as
qualidades e defeitos que se recusam ou desconhecem em nós
próprios.
Todos os actos,
expressões ou respostas de um qualquer indivíduo, bem
como os seus gestos, percepções, sentimentos, decisões,
verbalizações ou actos meramente motores, estão
sempre, de certa maneira, impregnados com a marca da sua
personalidade. Sendo assim, a projecção assume o papel
de um acto interior que nem sempre o seu autor consegue controlar
conscientemente, até porque o eu de cada um integra outras
componentes que não apenas o consciente.
Perante estímulos
idênticos, os vários indivíduos dão
respostas diferentes que dependem das suas necessidades, desejos,
sentimentos, enfim, das suas personalidades globais, intrínsecas
e profundas. Se solicitarmos a alguém uma qualquer tarefa, uma
acção, como por exemplo desenhar, e se lhe fornecermos
um papel e um lápis, o que daí advirá será
o resultado da eclosão do inconsciente na rota progressiva do
traço individualizado com carácter sublimatório.
Face a esta situação
concretamente contextualizada, isto é, dispondo a criatura do
mínimo de material para o efeito, mas perante uma elevada
expectativa, desenvolver-se-á, neste enquadramento
circunstâncial, o respectivo exercício reactivo
atitudinal criativo do indivíduo; uma espécie de
significação de um propósito que acaba por
redundar naquilo que designamos por projecção
sublimatória.
O sujeito (criança),
porque delas se trata afinal, a partir do universo de uma folha de
papel em branco, demandará nas profundezas da alma a
inspiração criativa, que pode incluir, ou não,
uma ou várias personagens, uma história ou a ausência
dela, seja o que for, mas tal constituirá sempre a projecção
da sua própria personalidade. Mas, reparem, este tipo de
fenómeno não se compadece com espartilhos,
condicionalismos, restrições ou directivas temáticas.
Na aplicação da técnica projectiva sublimatória,
sugere-se à criança que desenhe a seu bel-prazer,
porque tem mesmo de ser assim. Importa que a LIBERDADE seja
completa e total.
NOTA 1: Segundo
Nicolas Georgieff, “Freud considera a projecção
como uma forma de defesa contra determinadas representações
do desejo inconsciente, em particular no paranóico, em que um
sentimento amoroso inconsciente é invertido e depois
projectado, aparecendo sob a forma de uma perseguição
pelo outro”.
NOTA 2: Para
Nietzche, o homem estético deveria dizer não ao
feio, porque este era a negação da arte, desde que
significasse depauperação, pobreza, impotência,
etc... Só através da arte o ser poderia atingir a
perfeição e orientar-se para a plenitude.
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Meu querido
ResponderEliminarUm texto profundo, que desnuda certos comportamentos do ser humano.
A alma humana é cheia de surpresas e só que muito a estuda pode, efectivamente conhecer melhor o outro.
Parabéns pela forma sintética como apresentaste uma tão complexa questão.
Beijinho
Mana